FENOMENOLOGIA DA PALAVRA E DO SILÊNCIO NO POEMA DA AMIGA Maria Isabel Cunha //**O TEMPO**// - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: MINI-ENSAIO
"A resposta é o silêncio..." Um dos modos em que o silêncio se
revela como mistério do mundo futuro é nos ensinando a falar - e neste poema a
poetisa fala do tempo que passa, do vento que passa, da vida que também vai
passando. A palavra com poder vem do silêncio. A palavra que dá fruto surge do
silêncio e a ele retorna. Essa palavra nos faz lembrar o silêncio do qual ela
vem e os leva de volta ao silêncio. A palavra que não está enraizada no
silêncio é palavra fraca e impotente como "um metal que ressoa, um címbalo
retumbante" (1Cor 13,1). Tudo isso só é verdade quando o silêncio que dá
origem à palavra não é vazio e ausência, mas plenitude e presença, não é o
silêncio humano do embaraço, da vergonha ou da culpa, mas o silêncio divino no
qual o amor repousa em segurança. A palavra do silêncio não rompe a passagem do
tempo, a passagem do vento, e sim revela o silêncio como resposta às dores e
sofrimentos existenciais, os estados de alma, e a riqueza desse silêncio abre o
peito da poetisa para a esperança, para os sonhos. O silêncio fala, dá
respostas, então são palavras, criam comunhão, e portanto nova vida, apenas
quando personificam o silêncio do qual emergem. . O silêncio é o mistério do
mundo futuro. Mantém-nos peregrinos e nos impede de ficar emaranhados nos
cuidados desta era. Ele guarda o fogo do Espírito Santo que habita em nós.
Permite-nos pronunciar uma palavra que participa do poder criador e recriador
da Palavra de Deus.
Manoel Ferreira Neto.
O TEMPO
Vazia, descrente, vejo o tempo passar
célere, não espera, avança, corre veloz.
Indiferente, couraçada, dentes serrados,
amargura estampada na pele e na voz.
Lanço um lamento ao vento, não para
Tem pressa também, não ouve, acelera.
Ergo os olhos ao sol, imploro em som
sustenido, grave, sentido, olha espera!
Lança-me um olhar de altivez e desdém
Ele é o rei, não pode parar, tem de seguir
seu rumo, para o mundo a girar, nada o detém…
Cabisbaixa, derrotada, imploro, chorosa
Vem, amor, o tempo e o sol não param
A resposta é o silêncio em voz tenebrosa.
Maria Isabel Cunha (MIFC)
(**RIO DE JANEIRO**, 21 DE SETEMBRO DE 2017)
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