#AFORISMO 78/ESTRUTURAS DO NADA NA CONSCIÊNCIA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
"A léctica do dia a dia é andar numa estrada de poeiras,
tergiversando o olhar para a alma do espírito..." (Manoel Ferreira Neto)
Epígrafe:
"Aquando, nas contingências, visualizam-se discrepâncias
ideológicas, afigura-se a trans-cendência à mega interiorização do
"eu" à busca da Identidade."
Quê lética do dia-a-dia: psicanálise das dores, sofrimentos, ilusões,
fantasias, falo, sou ouvido, interferido, rasgo em tiras as sedas da persona,
aprendo a Dialética de Hegel, no terceiro andar de edifício, leciono Literatura
num Prevestibular...
Náusea do nada, sentimentos re-versos da perfeição avessa ao absoluto,
das verdades, emoções plenas de vazio, in-verdade, in-versas de alegrias,
felicidade, satisfação, admira-me como se "oide nebtur racuibakuzabdim
adnurane", inda mais como se pode viver acumulando conhecimentos para se
lisonjear, envaidecer-se conversando com amigos da estirpe em alto nível, com
os camaradas da laia em ínfimos sussurros, des-gustando as palavras eivadas de
sentidos trans-cendentes, saboreando os sons alhures de dúvidas,
desconfianças... Manteiv no eurrom sued...
Sued uerrom on Manteiv...
A vida não tem mais sentidos
Nos idos do sense,
A vida não tem mais sense
No há-de vir das perfeições
Sensórias do nada e do vazio,
Eurrom on Manteuv sued...
passando a língua nos lábios para saborear-lhes as delícias, com um
lenço branco de seda enxugando a saliva que desce no queixo, aquele néctar
delicioso do inter-dito dos ideais e idéias que escorrem inevitavelmente, a
plen-itude do saber, sublim-itude da sabedoria. E na madrugada silenciosa,
angústias, medos, carências, tristezas, rebeldias, polêmicas - ridícula a vida
de conhecimentos, de palavras tecendo de farrapos pretéritos seculares e
milenares o sudário inaudito do ser que há-de vir, sendo simplesmente o
"não-ser"" estagnado nos átimos de segundos e minutos,
estacionados na mauvaise-foi da natureza humana. O hábito do conhecimento é uma
segunda natureza.
Quê nojo de mim - pudesse vomitaria as entranhas entupigaitadas de
"leitinhos" de metafísicas, dialécticas, estruturas do nada na
consciência, que legam prazeres e idílios no delírio da perfeição.
Numa aula hoje sobre a Dialéctica de Hegel, levantei-me da carteira,
baseado no canto da boca, enquanto os intelectuais de última geração
entabulavam diálogo em dimensão profunda, fumava, do terceiro andar do
edifício, olhava os horizontes, dizendo em tom altissonante: "A léctica do
dia a dia é andar numa estrada de poeiras, tergiversando o olhar para a alma do
espírito..."
Alguém de meus colegas respondeu: "Algum dia entenderá que os
homens somos perfeitos, buscamos, no entanto, a imperfeição do pretérito e do
há-de ser. Eis a dialética..."
O professor colocou seus livros dentro da pasta, saiu de sala pisando
duro, cri que sentiu bem profundo a sua segunda natureza. Saí também de sala e
fui ao banheiro, enfiei o dedo na garganta e vomitei o café da manhã. Amaria
saber o que ele fez na sua sala particular.
Sentado aqui numa mesa do restaurante D´Lucas, Edifício Maleta, avenida
Augusto de Lima, Belo Horizonte, tomando um Gim Seager´s, acompanhado de uma
cerveja bem geladinha, atravesso mares, deixo cidades para trás e subo rios sem
margens, sem pressa, de águas cristalinas, ou então me embrenho em florestas, e
sempre me dirijo a outras cidades. Tive namoradas, agora uma paixão sem limites
e fronteiras, quem sabe no futuro me casarei, terei filhos; meti-me em brigas
de caráter ideológico, o nada brigando com a perfeição absoluta. Nunca pude
voltar atrás e dizer que não compactuo com o jovem que sou, defendendo
conhecimentos e diálecticas do tempo-do-onça, o sonho é a liberdade em questão,
"eu diante de mim na imagem do espelho", não eu diante das tradições
do não-ser ciscando o ser no galinheiro das retrógradas culturas, arrastando as
virtudes no bosque das ipseidades e facticidades.
Minha namorada, ontem, antes da ribalta na aula sobre a Dialética em
Hegel, dissera: "O destino que você escolheu é sarapalhar pelas
contingências à busca de sua sui-ent-idade..."
(**RIO DE JANEIRO**, 06 DE AGOSTO DE 2017)
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