#AFORISMO 122/FILOSOFIA DA FELICIDADE: ENTRE POVOS DE IDIOMAS QUE SÃO ESTRANGEIROS# - GRAÇA FONTIS: ESCULTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Perguntaram-me se era feliz, se estava bem com a vida.
Dizer o que pensa, o que sente, sem meios-termos, sem estratégias, sem
subterfúgios, noutros termos, dizer na "lata", dizer com todas as
letras, dizer com a língua em riste, eis a dignidade, a honra, a probidade de
um indivíduo, de um homem.
Há momentos na vida que colocam tudo isso em cheque-mate, nada se pode
dizer do que se pensa, do que se sente. Fazê-lo significaria colocar em risco a
sobrevivência, a vida. O melhor é, apesar das dores pujantes que isto causa, o
silêncio, mas não deixando de observar, de ver, de enxergar as coisas com
nitidez, serem elas farsas, falsidades, aparências, e no fundo aquele incólume
prazer, insofismável riso, galhofa, ironia, sarcasmo, cinismo, mangofa da
situação vivida, estar se calando o pensamento, o sentimento em nome de
sobrevivência, em nome da vida, sendo objeto aos olhos do outro.
Dores, angústias, tristezas, aquela acuidade com não permitir, consentir
a depressão, alfim sobreviver perante alguns momentos que a vida reserva não é
coisa simples, ainda mais presenciando as farsas, falsidades, aparências,
hipocrisias, estar sendo objeto. Nalguns instantes, a viva e nítida voz de
outros dizendo das farsas, falsidades, hipocrisias. E quando a ouvia não queria
acreditar, vendo-as com os próprios olhos não aceitava, dúvidas, incertezas, o
que estava vendo, enxergando podia ser fruto da imaginação fértil, fruto de
ressentimentos, mágoas.
O silêncio incólume, a mudez insofismável. Na solidão noctívaga da
alcova, o monólogo sério, verdadeiro, dizendo o que estava enxergando, o que
estava vendo, para que a luz desta verdade fosse raios pro-jectados ao futuro,
houvesse solução, a luta, dores e angústias da sobrevivência ficassem no
passado. O tempo fosse solidário e compassivo.
E o tempo se aproximou sorrateiro e solenemente: "Se quiser dizer
com todas as letras as farsas, falsidades, hipocrisias que presenciou nestes
longos momentos de luta pela sobrevivência, a escolha é sua. Se quiser
solidificar o silêncio, a escolha é sua. O importante é que se conscientizou das
coisas, viu serem verdades o que ouvia no passado. Chegou o seu momento. Siga a
sua jornada!" Ouvi as palavras do tempo com acuidade, com sabedoria,
coloquei a mochila nas costas, acenei o adeus.
Assim respondo à pergunta que me fizeram se era feliz, se estava bem com
a vida. Sim, estou feliz e muito bem com a vida.
Tudo atrás é passado.
Presente e futuro: sou vizinho das águias.
(**RIO DE JANEIRO**, 25 DE AGOSTO DE 2017)
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