#AFORISMO 94/ORNATO DO TEMPO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
"... a beleza que no belo habita só na travessia dos tempos para a
eternidade, para o in-finito será re-velada, manifestada, mostrada..."
(Manoel Ferreira Neto)
No ornato do tempo
Arrebatamentos da querença, trans-elevados
Compulsividades das volúpias, descendidas
O ânimo oral dos devaneios
De defronto e acordo,
Abrigam e albergam do pleno
A veras das sensibilidades,
O âmago das expectativas,
O eidos das querenças,
O núcleo das fissuras,
A essência dos desvarios,
O cerne dos deslumbramentos.
Tempo virá em que o sentimento de ausência outro não será senão
pretéritas lembranças do vivido e vivenciado que nada justificará ou explicará
haver existido e, quando se re-velaram outras trilhas a serem seguidas, nada
esclarecerá o quê intimo e recôndito de preservar, conservar as alegrias e
prazeres que se pres-ent-ificaram, a felicidade que ocasionaram, muito menos a
decisão de seguir em frente senão o que fora pensado no momento: "...as
folhas, quando caem, nascem outras no lugar...", música antiquíssima que
tocava na emissora de rádio naquele instante. O sentimento de ausência
trans-literaliza-se ao longo do tempo, torna-se "sentimento de
presença", e esta "presença" outro sentido não tem senão que o
vivido e o vivenciado no passado foi pedra de toque para um encontro no
presente, e ele está sendo realizado, as alegrias e prazeres sentidas foram
quimeras, fantasias, as de hoje são reais, verdadeiras.
Tempo virá...
No ornato do tempo
Deleite da satisfação, superiorizar-se
A eloquência das imaginações, devaneios
Do elevado e imortal,
Esboço de pigmentações transparentes do arco-íris,
Abolindo o cosmos de reluzirem e fulgores,
Abominando o genesis de concepções e brilhos,
O imago ludica da pulcritude encantamento do amor
Em suas ópticas da dádiva irrestrita
Da entidade, do entendimento,
Viciados da elocução "con-templar" o ultra-[de]-perenes
Júbilos e consolações das reputações e regozijos.
Tempo virá em que a sensação do belo sentida e esvaecida de imediato - o
que é em demasia simples: as sensações surgem e desaparecem num piscar de
olhos, mas nalgum interstício da memória dimensão dela foi assimilada, retida,
gravada, só com as experiências e vivências torna-se clara, límpida, nítida,
trans-parente, isto porque ela vagueia, deambula, perambula no sensível até ser
inspiração - será as sendas e veredas por que se deve seguir para a realização
do belo, não se esquecendo, olvidando das sinuosidades que ele "apres"-enta,
ocultando-se, revelando-se, e mesmo que seja realizado com perfeição e
excelência muitas vezes só pode ser sentido, visualizado com os linces do
espírito, formas, conteúdos, estruturas não são suficientes para a visão real
plena, assim a beleza que no belo habita só na travessia dos tempos para a
eternidade, para o in-finito será re-velada, manifestada, mostrada. Tempo virá
em que isto estará mais do que presente na mente, na alma, no espírito, no ser,
e não haverá qualquer razão para angústias, tristezas, náuseas ocasionadas pela
não realização do belo, compreender-se-á e entender-se-á a arte da vida é a
paciência, tranquilidade, calma, o absoluto pode ser realizado, se assim o for,
aquilo mesmo de "devagar é que se chega lá" ou "é comendo quieto
que se sacia a fome", fome do saber, fome da sabedoria, fome do
conhecimento, fome do ser.
No ornato do tempo
Zinas do juízo da existência, excedendo
De cruzadas a casualidade da mágoa,
Inerência do penar,
Às bondades da harmonia imortal
De entes que se idolatram e se cedem autônomos,
A aragem confidencia solfa, a fragrância oscilante
Extasia o verso, rebento em primor, na sagacidade de primavera,
E na finitude desinteressada de um acção tão encantadora,
Lateja o coração, na cadência de derretimento,
Na cena de luminosidade, onde o estético que flui no reflexo da retina,
Alvorejar o imenso gemido de existência,
Linheiro da sensibilidade.
Tempo virá o amor sentido tão pleno, tão absoluto, tão supremo será
apenas uma quimera, sorrelfa, fora fruto de medos, inseguranças, fugas das
dores e sofrimentos, fora aventura, passeio no tempo e suas situações,
circunstâncias, piquenique à beira de uma catarata linda, esplendorosa, e
quando este tempo se pres-ent-ifica aquele sentimento de angústia por ter
vivido e vivenciado tantas coisas com a certeza de ter sido amor, e nada
significa, sentido algum tem. Dizem que os amores vividos preparam para o
verdadeiro amor, e disso não se pode duvidar, é real. No momento da consciência
de o amor que era supremo, absoluto, pleno sentido algum tem, o sonho do Amor
com letra maiúscula se faz presente, então é o instante do mergulho mais que
profundo na inconsciência, em todas as dimensões da alma, sendo sincero e digno
com os desejos, vontades, esperanças, porque o Amor só se revela quando se des-venda,
des-vela as contingências da vida, faltas, falhas, problemas, traumas, limites,
quando se é o que se é, quando se vive de quem se é, e con-sentindo que o Amor
encontrado é sempre senda, vereda para outras descobertas, conservar o Amor
encontrado é negar-lhe em seu ser, há-de se criar gestos, atitudes,
comportamentos outros, sendo o amor dentro de outro amor, dentro de outro
amor... Tempo virá...
Tempo virá...
Tempo virá...
Tempo virá...
(**RIO DE JANEIRO**, 10 DE AGOSTO DE 2017)
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