#AFORISMO 112/PRECE DO CREPÚSCULO DA EC-SISTÊNCIA, ALVORECER DA MORTE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Salve-me dos medos do in-audito, inter-dito que me perpassam os
re-cônditos dos sonhos!
Salve-me das tristezas, desolações que fluem às pencas neste instante,
as primaveras passam indiferentes aos sentimentos e emoções, esvaecem-se, as
flores ec-sistem no imaginário, perdido no tempo!
Salve-me do nada, do vazio que concebem o olhar disperso às antípodas do
horizonte, panoramas de vales e bosques faltam-me à visão!
Salve-me da alegria sensaborona, das volúpias do eterno, da felicidade
que me sussurram nos ouvidos o absoluto plen-ificado de ideais, esperanças, que
me cochicham nos ouvidos a estética da liberdade logo ao alvorecer de amanhã!
Salve-me das luzes que iluminam as alamedas e lotes vagos, que
plen-itude haverá em torno de mim, que torrente de amor me arrastará para baixo
- para o mar?!
Salve-me do silêncio, da solidão, quero precipitar minhas palavras nos
vales, desejo encontrar a minha velha e selvagem sabedoria, as ilhas
bem-aventuradas onde vivem as ninfas, as musas!
Salve-me da perfeição de rugir com ternura, afeto, de ruminar com
conhecimento e sapiências, de sentir o incólume prazer de procriar e evolver as
imagens do tempo e do devir!
Salve-me da fé que redime pecados, culpas, pecadilhos, que assegura a
felicidade imortal, a paz plena, o paraíso de só êxtases, clímax!
Salve-me do inverno de frio ad-stringente aos ossos, da primavera de
perfumes agradáveis, das flores que des-abrocham ao alvorecer, do verão de sol
escaldante, do outono de folhas caídas!
Salve-me dos idílios da pureza, das quimeras da inocência, das fantasias
da ingenuidade, da sabedoria dos versos que cantam e declamam o espírito da
verdade solene!
Salve-me das metafísicas que enovelam pretéritos das idéias, das
psicanálises que conjugam traumas e fracassos, conflitos e frustrações, medos
das imperfeições à luz de sonhos e utopias do "eu" absoluto!
Salve-me do pensamento que torna torto tudo o que é reto e faz girar o
prático-inerte, o tempo abolido e as vertigens da mentira!
Salve-me das angústias, náuseas que prescrevem o Evangelho das
con-tingências rumo ao além-sagrado!
Salve-me de mim, mim-mesmo, do eu-poético, da minha vontade criadora, do
meu destino!
(**RIO DE JANEIRO**, 21 DE AGOSTO DE 2017)
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