#TRANSEUNTES ANÔNIMOS E A SOLIDÃO DO CÁRCERE - UMA LEITURA DO POEMA "TRANSEUNTES ANÔNIMOS" DA POETISA, ARTISTA-PLÁSTICA, PINTORA E ESCULTORA Graça Fontis
Ano apenas após a escritura deste poema, a escolha da pintura que iria
ilustrá-lo, lembra-se-me haver comentado com a Poetisa e Artista-Plástica,
Pintora e Escultora, Graça Fontis, sobre as grades no verso "... Aqui,
detrás dessas grades...". Disse-lhe acerca de quem está atrás das grades
vê o mundo em concomitância com as suas dores e sofrimentos, a sua solidão, e
quem está fora das grades, as fugas, medos, condutas e posturas equivocadas
levam à solidão. Hoje, relendo o poema, o olhar de fora e o olhar de dentro do
cárcere, não necessariamente de prisão por delitos em todos os níveis. Digno de
tirar-lhe o chapéu, reverenciando a artista pelos versos finais da solidão
dentro do cárcere e fora dele: "E mergulhar neste mundo intenso,
Enigmático, um colorido fantástico
Camuflando segredos invioláveis
Subjetivados em rostos e sorrisos
Atitudes relevantes e previsíveis
Desconhecidos casuais... sensuais
Por instantes... imortais." A humanidade está condenada à
falsidade, à farsa, à hipocrisia. A dor do personagem, espreitando, da janela
do cárcere, a solidão dos homens livres, a sua própria solidão. Imortais por
estas condutas, que sentido tem? E que sentido tinha o seu delito, para fugir
de sua solidão, carência? Eis o sonho da solidão: a "Imortalidade..."
Como criar, inventar, fazer a imortalidade? Eis os sonhos, os ideais da
personagem, aquando fosse libertada; a res-posta ao questionamento o poema não
oferece, a intenção da artista fora a reflexão. Mister descrever as coisas para
melhor compreensão e entendimento de minha interpretação deste poema
inestimável. Graça Fontis encontrou nas Lembranças do Facebook esta obra
escrita há um ano, marcou-me na Lembrança, enviou-me. De imediato lera.
Escrevia esta interpretação, quando ela estava escrevendo. Não sabia ela que
estava eu fazendo uma crítica ao poema. Escreveu: "Viver é arte de se
caminhar no nirvânico universal com o pé na realidade, recolhendo poesia."
Eis a resposta que deixara suspensa no poema. A liberdade das grades é viver a
realidade e criar Arte.
Manoel Ferreira Neto
(Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2017)
**TRANSEUNTES ANÔNIMOS**
Espreitando da janela
Via rostos brancos, negros,
Descontraídos e risonhos,
Outros tristes.
Pessoas soltas e jocosas
Aparentemente livres.
Iam e vinham a todo momento
E em cada cabeça...
Pensamentos diversos,
Planos e ambições,
Só eu os via.
Ali permaneci horas e horas,
Analisando suas fisionomias
E o que trariam na alma.
Quanto a mim... ninguém
Que perceba minhas angústias
Ou que sequem minhas lágrimas,
Principalmente ao entardecer.
O pôr do sol me deixa mais triste,
Talvez pelo medo de não mais
Vê-lo ao amanhecer.
Aqui, detrás destas grades
Invulneráveis, torno-me vulnerável
Aos próprios pensamentos
Sentenciam-me a alucinações
Constantes, a auto-punição
Pelo que não fiz
E o que não entendo, mas sinto.
Por instantes desejei ser um
Desses transeuntes anônimos
E misturar-me ao povo,
À poeira do asfalto ou
Ao burburinho das lojas;
Fugir para sempre deste mausoléu
Trépido e frio
E mergulhar neste mundo intenso,
Enigmático, um colorido fantástico
Camuflando segredos invioláveis
Subjetivados em rostos e sorrisos
Atitudes relevantes e previsíveis
Desconhecidos casuais... sensuais
Por instantes... imortais.
Graça Fontis�
(31 de agosto de 2016)
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