#TODO HORIZONTE EM AÇÃO É DE NULO SENTIDO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
**No sono de cinzas o exílio se reconhece**
Neste fim de tarde, não existem letras, não existem sílabas, não existem
palavras, os olhos miram pálidas sombras. Este instante é uma melancolia única,
nostalgia dupla, tristezas triplas, angústias e vazios múltiplos, envelados,
camuflados, encapuzados em silêncio; momento de coisas terminadas como se cada
corpo, de carne e ossos, desfeito em cinzas seculares, poeiras milenares,
repousasse na vigília da decomposição, no sono de cinzas o exílio se reconhece.
Nesta desesperança de brancas páginas vazias, nesta angústia de folhas
empoeiradas, imóveis e esbranquiçadas, imóveis e cinzentas, entre as estrelas e
a ausência de fôlego, entre a lua e o suspiro, entre o sol e a falta de
inspiração, a vida não tem pre-fundas, a morte não tem fundo, perduram,
perenizam-se, eternizam-se como a bolha de sabão que a boca sopra e o fragmento
explode.
Neste segundo à luz do tempo, neste instante à mercê de nonadas, todo
horizonte em ação´ é de nulo sentido, todo uni-verso em movimento é de nítida
significação, este tempo trans-mudado em écharpes cinzas, lenços azuis, expira
exalando o perfume de lembranças, fenece respirando o ar de recordações,
na pronúncia afônica de vernáculos, na voz rouca da palavra, na
inutilidade da matéria na distância.
(**RIO DE JANEIRO**, 18 DE JUNHO DE 2017)
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