#ESTREBARIAS AO LÉU DO TEMPO, ESPERANDO QUE O DILÚVIO AS CARREGUE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
O
alvorecer se anunciará sem mistérios, revelar-se-á sem enigmas, e, sem rituais,
sem mitos e miticismos, misticismo, seguirá o sol para o pálido crepúsculo, e a
doce magia que segue a noite à luz do ser-só me habitara em forma de silêncio,
e o silêncio far-se-á jornada para acalentar meus passos, para amenizar os
questionamentos, para espairecer as idéias, para serenar as indagações - nada
mais há de ridículo que indagações e questionamentos, res-postas não há. As
convicções são estrebarias ao léu do tempo, esperando que o dilúvio as
carregue.
Ah,
essa vontade imensa do ser, ser a verdade de quem sou, ser a palavra plena que
pronuncia, ser o verso divino que crio, ser o amor que sonho... Vontade imensa
de cantar o cântico do sublime re-fletido no espelho do tempo sem quaisquer
dimensões, de morrer de tão velho que os ossos até tremeliquem, vara de bambu
verde à mercê do in-cognoscível, in-inteligível, in-audível. Desejo incólume e
simples como as nuvens brancas que deslizam no azul celeste.
Deixai-me
com meus lírios e interlúdios, deixai-me com minhas orquídeas e prosas, uma de
minhas origens são os "causos", não há duvidar "causos" sem
"prosas" não há, e "prosas" sem contos do vigário e
monsenhor são lendas fúteis. Hei-de encontrar-me insone e des-variado no meio
dos trigais da subconsciência, declamando os versos que Einstein não escreveu,
a teoria da relatividade que Rubens Fonseca não des-cobriu.
Busco
a linguagem da folha abandonando a árvore, busco a verdade de estar comigo
próprio. Em momento algum compreendo-me: se estou alheio não me enxergo,
esfrego os olhos como se a tirar-lhes alguma sujeirinha, se estou disperso, não
me visualizo, mister lavar os olhos, são os bichinhos das árvores nas calçadas
da cidade, embora não visualize ainda, apesar da visão intensificada, se estou
em mim, não me trans-cendo, se sou o verbo de mim, não me trans-elevo.
Sou
Deus diante do espelho, preparando-me para criar o absoluto da verdade. Sou
Mefistófeles frente ao atrás da imagem re-fletida no espelho, urubuservando as
maledicências do efêmero perfeitamente apaixonado pelas maledicências do
eterno, hipocrisia, farsa, falsidade, seduzido, o melhor seria dizer.
Que
farei, eu, sem deuses, sem juízes? quem serei: réu, juiz e deuses? Dançarei o
desespero, ópera muda, seresta demoníaca de estar nu ante mim próprio.
Vejo
rostos que me amam, dedicam-me carinho e amizade, tentando saber quem fui,
querendo traduzir as vozes de meu silêncio...
Sou um
retrato, miragem que o tempo dilui. Orquestra e prelúdio. Luzes da ribalta e avant
prémier. Metafísica transcendendo em
mim.
(**RIO
DE JANEIRO**, 10 DE JUNHO DE 2017)
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