#DEPOIS DA NÁUSEA, ADVÉM A SEDE DE LIBERDADE, CONHECIMENTO, SABEDORIA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Quem ama, ama além de prêmio e de castigo. Para quem ama, o feio
torna-se de uma beleza inestimável, sem precedentes, diz o senso vulgar.
Quem reverencia, gaba, encomia Deus como um Deus do amor, não sabe o
conceito, definição de amor, não forma do amor uma visão elevada. Não queria
esse Deus ser também Juiz? Os bons, os humildes desfrutarão o paraíso
celestial, os bufões, os pulhas, orgulhosos inferno neles. Deus viu seu filho
pregado na cruz, o seu amor pelos homens tornar-se o seu inferno, e nada fez para
impedir ali agonizasse de sofrimento e dor, morresse - que amor de Pai é este?
Não sou eu agora o mais sem Deus? Não sou eu agora o ímpio? Opiniões não
são consciência. Resolveu, então, meu coração que eu tivesse fé em outra coisa,
acreditasse em algo diferente. No limiar da fé, o adultério se a-nuncia,
re-vela-se, manifesta-se. Seja lá como for e de um modo ou de outro, sou
adúltero. Acreditar em algo des-acreditando é atitude improba, mostra com
excelência ser eu vulnerável, des-acreditar acreditando é não saber o que
habita as coisas, a essência delas.
Tenho fé que o efêmero é janela aberta para o eterno, e efêmero vivido,
vivenciado com muitas dores, agonias, questionamentos, indagações; que o nada é
o princípio inalienável da liberdade, da busca não do tudo, porque este habita
o imaginário, mas aquilo que institui valores, virtudes, faz a vida valer a
pena; que o vazio re-colhe e a-colhe o múltiplo, e este múltiplo é semente, é
raiz de buscas de verdades, inda que passageiras, de outras conquistas, de o
imperfeito aperfeiçoar-se; que a náusea é demonstração de insatisfação,
ojeriza, urticária com o que está sendo, mentiras, hipocrisias, farsas,
falsidades, cretinices, estas cositas tão vangloriadas pelos homens, o sudário
que os aquece no inverno, depois da náusea ad-vem a sede de conhecimento, de
sabedoria, de con-templar o que há-de vir.
Ao gosto de meus olhos e ouvidos, vou trilhando as estradas, vou andando
por bosques, assim faço a vida valer a pena. Assim, a morte é apenas a
impossibilidade do corpo de se aguentar em pé, após ter gasto tantas energias.
(**RIO DE JANEIRO**, 19 DE JUNHO DE 2017)
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