#QUALQUER TRAVESSIA É MÁGICA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Luz
breve, que ec-sistas, onde? fugidio indício que me a-nuncie o meu lugar na
vida... que proscreva o meu livre-arbítrio uni-versalmente... Silêncio efêmero
que me sussurre o pensamento que pense o pensar... Solidão solícita que murmure
o sino que tange, o som que perde. As nuvens brancas espelham-se em miríades de
re-flexos, multíplice alegria, trêmula, sinais nulos, irrita e anula, os meus
olhos tremem, as extremidades sacolejam.
À
janela do meu vazio, eu!...
Nítido
nulo horizonte linear. Imperceptível une-se ao azul do céu, in-fin-itude
ab-soluta in-eks-sistente, na linha in-eks-sistente da separação que os une. A
vida toda está aí. Os meus olhos passam por tudo, mortos que falais ainda,
vozes nítidas e absurdas no ar, imóveis instantes de outrora...
À
varanda de minhas fantasias, quimeras, sentado num banco de mármore, as rosas
no jardim des-abrochando viçosas e ternas, manhã de novo dia, estendendo-me
além das metafísicas da esperança e da fé, da teoria do conhecimento dos verbos
e dos projectos, tentando encontrar um lugar no auspício de uma montanha,
olhando o panorama do mundo, os olhos perdiam-se na frincha das folhas de um
flamboyant do outro lado da rua, o in-finito se mostrando inteiro, nítido nulo
o horizonte e já frio, um deus crescia dentro de mim... - ah, pretéritas
lembranças e re-cordações de manhãs da infância, da juventude! Estava só, tão
cheio de meu nada. No ponto nulo que separava a vigília que se esgotara e a que
re-nascia... Mas agora, à distância destes anos, ou à distância nula da morte,
agora tudo se amassa em encantamento ou em indiferença ou em absurdo - agora a
rua está deserta.
Afastar-me
no trote desértico, na algazarra do cavalo marchador em ruas de pedra.
Só eu
e a luz do dia, só eu e os raios incandescentes do sol. Uma alegria nula.
Indício fala no limiar das origens. Fulcro, certeza fora de mim, por mim
escolhida, mas ec-sistindo na realidade, conferido com ela, ordenando-a, fixa e
apesar de tudo mutável, limite máximo da minha direção, do meu impulso cego e
absurdo.
Travessia
do dia e noite, o sono que me vem revelar o desejo de sonhos que se manifestam
em imagens.
Evidente...
A simbiose entre o sujeito que transita e o objeto transitado, ao ponto que já
não se sabe quem é o conteúdo, quem o continente. De Ubi sunt ao ad ubi. Elegia
transitiva. Qualquer travessia é mágica . Viagem, idéia de viajar ao processo
de Ser no caminho do trajeto interior, secreto no indivíduo.
As
janelas de guilhotina, de todas as casas, mesmo aquelas em que ninguém mais
habita, estão fechadas, e aquelas que, desabitadas, pela ação do tempo, estão
caindo, restam apenas escombros, por dentro conduzem inerente à vontade à Cruz
do Cruzeiro que mostra à cidade a redenção e ressurreição, e isto é alcançado
com o retorno ao amor que fecunda e gera a compaixão e misericórdia. A palavra
é o espírito da vida. Iluminação, Amor, Deus, Misericórdia, Nous, Theos, Ágape,
Inner, Assunção, Numinoso. Creio que diante de tantas dimensões divinas e
humanas, a vida está cheia de inevitável dose de solidão.
... eis
a magia da liberdade que é a solidão à hora de nascer...
(**RIO
DE JANEIRO**, 13 DE JUNHO DE 2017)
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