#MEU RITO É PURIFICADOR DE IMAGENS E DE ESPÍRITO, DE FORÇAS SENSÍVEIS E TRANSCENDENTES/CORTINADO OPACO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira e Ana Júlia Machado: AFORISMO
Não conto os fatos de minha vida. Com que objetivo? Não saberia a
hipotenusa das situações, circunstâncias e inevitáveis, nada salvaria de
mistérios, multiplicando ao quadrado.
Fatos são objetos, estes não me dizem quaisquer respeito e
considerações, em mim a subjetividade, em mim o subjetivo, eis as minhas
veredas; se não encontrarem a sim-patia do leitor, encontrará a sua simpatia
por buscar caminhos, distantes de minhas verdades.
As palavras não exprimem as idéias. O pensamento condiciona a emoção.
Se vós me con-cedêsseis mínimo de prosa, nos dedos que, em câmara lenta,
insinuam dígitos que são sentimentos nas almas brancas de páginas passadas! Se
vós me con-sentísseis a destreza das penas, com quem sobrevoais mares, lagos e
desertos, florestas e abismos!
Se vós con-sentísseis a perspicácia das asas, com que pairais bosques e
desertos, vales e chapadões.
Se vós me désseis o privilégio de um só segundo de anunciação divina
eterna e verdadeira, de saborear o gosto da água que sacia a sede da
eternidade, imortalidade, os dígitos teriam sido apenas modo de imprimir os
sentimentos e emoções que me habitam. Do vôo, mostro-lhe as nuanças, detalhes
não digo, são efêmeros, perpassam fios de outono nos anéis da medula,
pormenores tão menos são cobras que se autodevoram pelo rabo, nuanças de dores
e sofrimentos adentro longas noites de insônia, vigília de letras e sons, de
vozes que ecoam nos lamentos os cânticos de melancolias, nuances de verdades e
vazios que se entrecruzam.
É a superior audácia. A superior perspicácia. Se à dianteira dos
calcantes encontra-se um opaco véu de um urdido compacto que não cede avistar o
que depara-se do distinto lugar.
E porém a repleção da erudição desenfreia o desejo pelo conhecimento,
especialmente quando a erudição é conhecimento de causar interpelações, por
elementar suspeita que do diferente surge o amanhã em sua dissemelhança.
O cortinado opaco é o cruel que incumbe a avidez da ciência às
tenebrosidades de despovoado algum.
Conseguem determinados seres, com a audácia dos compelidos
que vão à face do marruá, aclamar que de ninharia possuem temor. E que
seriam escrupulosos se esbarrassem nas galerias escurecidas pela meia-luz que
tão-somente cede à exibição uns semblantes deformados. Conseguem sacar o
esplendor à audácia inepta, que entre as galerias escuras somente observam o
nentes que é refervo das tenebrosidades.
Quiçá não interessem-se de carregarem uma existência sombria na
ignorância. Quiçá lhes seja mais provocante a ostentação de reputação de quem
ingressou no negro dédalo e dele escapou ileso.
São os que declinam transitar ligações, pois cimentam os calcantes no
sítio que conceituam ser sua propriedade e condenam o distinto lugar que
deslinda-se quando o físico ataca pela ligação.
Audácia desta casta é serva da inópia. Os mentores, especialmente os que
montam na vacilante condição de intranquilidade inerente, não molestam-se com
as trevas. Possivelmente aprovariam extensos obscurecimentos. No mínimo a
multidão seria serena, pois na ignorância eleger repousar o físico na infâmia
da inércia.
Possuir temor do sombrio é coerência. É quando a súplica de reclamação,
ainda que emudecida no âmago do ser, é o superior repto aos influentes do
intelecto de parceira limitada. Possuir temor de possuir receio da negrura
hedionda não é instintivo ensinado. É quando arrecada-se a superior das
audácias, não da audácia hipotética dos destemidos que só entendem a causa da
energia e nem apercebem-se como a sua suposta sublimidade é a mais medíocre
pequenez.
Futuro é outro presente na esguelha de olhos noturnos, à janela da
Maria-Fumaça que segue desbravando o vale, nos soslaios dos olhares
vespertinos, das visões matutinas às revezes do crepúsculo. Presente serão
ontens esquecidos e latentes. Sentimento de busca e sublimidade. Da sublimidade
ao sentimento de busca, esplendores e desejos de pássaros, que cruzam o céu,
entoam suas líricas nas grimpas de árvores frondosas e folhas viçosas,
expressam-se em seus instintos diversos, habitam as silveirinhas dos lamentos e
silêncios. Ontens serão subterrâneos do espírito em cujas veredas, culpas de
desatinos, e os desatinos de culpas e pecados, as ansiedades clamam por outros
uni-versos, em cujas trilhas, a-núncios e revelações se espelham. Outroras
serão do espírito, em cujas profundidades, as angústias de sonhos e decepções,
as luzes que iluminarão os caminhos.
Longos dias, longas noites, em busca da luz plena e absoluta,
contemplando a lua em todas as suas manifestações, as estrelas em todas as suas
revelações.
De desejos que refletem nos espelhos, os ritmos de nostalgias,
pormenores de fantasias e angústias que se distanciam nas curvas dos tempos e
relógios, nalgum instante a esperança se me extasia os delírios.
(**RIO DE JANEIRO**, 17 DE JUNHO DE 2017)
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