#NO SILÊNCIO DO CALAR-ME, EMUDEÇO-ME# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Calo-me.
Silencio-me. Emudeço-me. No emudecer do silêncio, calo-me. No calar do
emudecer, silencio-me. No silêncio do calar-me, emudeço-me
Levo
um grito sufocado encravado num sentir emudecido. Impossível “re”-tê-lo,
“re”-presá-lo por mais tempo: domá-lo. Estilhaço-me. A palavra, se em represa,
é um murmúrio de arribas, sussurro de confins, cochicho de alhures e algures;
se correnteza, brado, estampido.
Ando
para a luz levando o fardo de desejos, esperanças de ver-me “ser” nas linhas do
espírito e eterno, esforço-me para não ruir, seco e falido. Se o passado me dói
no corpo e na alma, é só quando me aproximo dele com a alma de presente, este é
o sentimento latente. Fracas possibilidades de letras reais nos sentimentos
verdadeiros, de vozes imaginárias nas emoções re-criadas, in-ventadas,
esboçam-se e des-aparecem – quase verto lágrimas pujantes! -, roendo entranhas,
re-vezando mordaça, ruminando aparências, e a escuridão em que tateio o trajeto
arrasta correntes, mas sigo na busca des-esperada de me ver sendo. Cada dia
debulho uma letra de minha fala, perco-a nos sonhos, e dou um passo para a
distância. Breve me perderei no horizonte.
Sonhos
da vida, degraus no infinito.
(**RIO
DE JANEIRO**, 13 DE JUNHO DE 2017)
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