**FORNICA-SE LÁ ONDE NO TESÃO DAS PENADAS ALMAS NÃO LHES RESIDE QUALQUER CENSURA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Além
dos limites, fronteiras da con-tingência, periferia dos instantes-limites,
ab-surdos, abertos horizontes e uni-versos da trans-cendência, palavras
fornicam-se livres, que maravilha fornicar livres, fantásticos prazeres e
gozos!, busca inexpressível e ininteligível de dizerem o que lhes habita a
carne do desejo dos significantes, semiologias, semânticas, linguísticas,
metáforas, sentidos, assim re-velando a libido vernácula do verbo.
Antes
fora o vernáculo "fornicar": espremi os miolos para me lembrar dele,
angustiei-me, desesperei-me, não me fora possível a lembrança naquele
instante-limite de necessidade dele. Veio-me à mente "fenecar",
utilizando-me dele, embora duvidando dele, não era o de que precisava,
serviu-me de algum modo. Só mais tarde, nem pensando nisso mais, surgiu-me.
Existiu um outro naquele mesmo momento, larguei-o de lado, surgiria noutra
ocasião. Nada. Encontra-se enclausurado no limite da contingência, travessia
para a trans-cendência, ardendo de desejo de fornicar, mas não encontra a companheira,
o objeto do tesão que lhe realizará o desejo do prazer, do gozo, do clímax.
Quem sabe se me lembrar dele, liberte-o e saindo do limite da contingência
encontre a companheira, fornique com mais tesão ainda?! Quem sabe sabendo estar
enclausurada, faça-me lembrar dela, assim realizando as suas volúpias do
prazer? Nada disso acontece.
Redijo
rastos de mim na biografia de minhas reminiscências, originando linhas de
impressionabilidade, sublimidade, almejando na memoração assinalar, o
inenarrável contemplar, feito de quimera, de prenunciadoras reflexões e
paixões, nas fendas primitivas das espacejas frescas que sobrepujam o Eterno
alabastrino das sensações resplandecentes de dilecção e eloquências da
subsistência.
O
termo "fornicar", cujo sentido é a relação íntima, usa-se para o
inferno, fornica-se lá onde o tesão das penadas almas não lhe reside qualquer
qualquer censura, o clímax transcende o divino e o eterno, e perpétuo. "Vá
fornicar no inferno" tem o sentido de gozar o prazer da alma penada, na terra-mãe
era realizar os instintos, no inferno, o clímax das chamas eternas.
Forniquei
palavras, joguei-as nas imundícies contingentes do inferno, no safo dos
caldeirões had-jacentes ao perpétuo, mergulhei-as nas chamas ardentes além das
metafísicas carnívoras da ausência e manque-d´être, das falhas, faltas das
forclusions dos pecados inominais do verbo, à busca de expressar o sentimento,
emoção que sentem, quando os caminhos que só elas sabem, conhecem, não se
re-velam somente no inter-dito, com ironia, sarcasmo, cinismo sui generis
re-velam-se na fornicação aberta e livre no hades da liberdade, quando os
instintos da carne se decompuseram no silêncio do sepulcro, re-nasceram na pena
das almas hereges, das almas condenadas a postumarem, epitafiarem: "Nas had-jacências
do perpétuo, habita o clímax ab-soluto do litteris, ipsiando as ipseidades dos
ócios após o sêmen ejaculado livre e espontâneo às cinco pontas das
estrelas...", epígrafe que somente Brás Cubas entende após as suas
memórias póstumas, tendo os vermes comido seus restos mortais e contingentes,
descansando em paz na harmonia sin-tônica, sin-crética e sin-crônica do que
trans-cende as imanências do Hades. Quem sabe a suprassunção, o suprassumir as
quatro paredes do inferno sejam realizados com a postumidade linguística,
semântica das metáforas verbais do verbo carne, estar-no-mundo, fornicando no
que foi perdido após o grande evento do verbo-espírito re-criar-se carne-verbo
dos desejos, esperanças, sonhos, deixando às palavras, vernáculos o livre-arbítrio
de mudar o destino de a vida serem dores, na morte é que a felicidade, além do
perpétuo, eterno, pereniza-se, plen-ifica-se.
Desde
a eternidade à eternidade, as palavras a-nunciadas e re-veladas, no espírito
por inter-médio dos verbos-sonhos, vers-ificadas, vers-ejantes, vers-entendidas
no limiar, soleira, solstícios, tornadas vividas, vivenciadas, até mesmo
experimentadas, o ipsis re-cria-se litteris, o inter-dito refaz-se dito, morte
e vida não mais existem, jamais existiram à luz da terra-mãe carne e ossos à
luz da esperança do para ser na continuidade do haver-sendo, liberdade, ainda
que tardia, autenticidade além de todos obstáculos, censuras!
Verdade
além de todos os juízos, o ser nas trilhas, sendas e veredas do sublime e
simples.
(**RIO
DE JANEIRO**, 17 DE JUNHO DE 2017)
Comentários
Postar um comentário