#AFORISMO: A PALAVRA É O ESPÍRITO DA EC-SISTÊNCIA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
#O desejo
de amor só vive de entrega, onde têm raízes a iluminação e a redenção, cujos
frutos são os sonhos que alimentamos e AFAGAMOS, e quem a outrem, que en-vela e
re-vela, não poderá, Señor, alguma vez, desalgemar de mim as mãos rápidas de
gestos, deixando-me-ser aos olhos e ouvidos atentos e à minha nítida
simplicidade de Alma?#
“Há
procissão de águas na moldura da vidraça”.
Iluminação.
Amor.
Misericórdia.
Ágape.
Deus.
Nous.
Inner.
Numinoso.
Assunção.
Theos.
Luz da
maturidade, caminho para a velhice, para a morte, as cinzas acompanhadas de
alguns ventos de lembranças, de alguns outonos e invernos de esquecimentos...
Esta Luz mostra-me os devidos caminhos para sacudir a todos, arrancar-lhes de
dentro, jogar-lhes na sarjeta de suas misérias, e encontro os modos de atingir
estes objetivos, ainda que, no fim, seja condenado como alguém constantemente
em busca de escândalos, de auto-afirmação.
É
glorioso para o amor ver cair as folhas à medida que amarelecem. A rocha,
sobremaneira nivelada pela erosão e coberta de espesso leito, forma vastas
pradarias inundadas, sobre as quais se estendem, quase sempre, reduzidas
ondulações.
A
chuva, quando a chuva é precisa, não sentimos solidão, medo, tédio, a falta de
algo a fazer, uma lembrança de tempos idos e de tempos que estão indo, uma
memória de prazeres e satisfações, angústias e medos, uma melancolia,
nostalgia. Sentimos o vento, as tempestades, às vezes, as árvores que continuam
a florescer, a darem inúmeros frutos, o rio que rola suas águas continuamente,
as estações do ano se unem e se afastam, se ligam e se separam...
Apenas
o silêncio de perto e os rumores ao longe, distantes, podem ser belos: quem
isto não consegue compreender – o que quer que digam, que dirão, que tenham
dito – não me atacam em nome da Arte, mas em nome de seus segredos e fugas
particulares.
Travessia
do dia e noite, o sono que me vem revelar o desejo de sonhos que se manifestam
em imagens.
A
palavra é o espírito da ec-sistência.
Deus.
Com o
correr do tempo, quando a fé primitiva me modificasse pela experiência, os
sentimentos todos não sofreriam súbita revolução. Teria inda fé no destino
brilhante e, talvez, amasse mais a vida, ao reconhecer que pouco posso fazer em
benefício próprio. A altivez ceder-se-ia à humildade, quando conhecesse
distintamente os elevados ideais; talvez percebesse claro, por qualquer dos
sentidos, onde caem as sombras o terreno é sagrado; talvez apreciasse o
pensamento sábio e meditado; talvez distinguisse que nenhum escrúpulo me
impediria de sondar toda a profundeza da alma; talvez discriminasse o
verdadeiro valor estaria no reconhecimento da força interior que transforma as
vicissitudes; enfim, talvez discernisse os melhores esforços do homem são uma
espécie de sonho, enquanto Deus é o único construtor de realidades, o único
revérbero de outonos e memórias.
Iluminação.
Morrer
no inverno. À hora absoluta, delírio de luz. Não no outono, de monco caído. Ou
no verão, quando se está sem qualquer coberta ou cobertor, inteiro nu. Mesmo na
primavera em que tudo está ainda para ser. À hora máxima, os olhos em chamas,
mesmo fechados, a luz estrídula em todos os interstícios da vida. É para isso
que vim, não tenho interesses em ensinar, em aprender, o que isto pode
significar nesta derradeira hora? Vim para ser todo onde for. Até já me
disseram, e confesso haver ficado orgulhoso, que não vim para aprender, e sim
para ensinar. Passado o orgulho, perguntei-me o que teria para ensinar. Não
encontrei qualquer resposta, e isto foi o melhor, pois que se houvesse elencado
o que teria para ensinar não encontraria verdade alguma. Creio sim que atingi
um nível bem diferente do que era esperado. Descobri que devo continuar
exercendo a função – se não a exercer como estabeleci, nada terá sentido.
Amor.
É
preciso perder o paraíso terrestre para vivê-lo verdadeiramente, para vivê-lo
na realidade de suas imagens, na sublimação absoluta que transcende qualquer
paixão. É preciso perder o odor frágil e ameno da flor que nasce logo ao
amanhecer de um novo dia para senti-lo verdadeiramente no íntimo, dando formas
e estilos a novas emoções, novos sentimentos e intuições, a verdade plena
vigiando no coração aberto do dia.
Misericórdia.
Haverá
imagem de intimidade mais condensada, mais certa de seu centro que o sonho do
porvir de uma flor ainda fechada e encolhida em sua semente? Se não há imagem
desta intimidade, dizendo que a flor seca perfuma a gaveta em que murchou, quem
sabe fora eu em absoluto infeliz em dizendo assim, quando deveria dizer que o
sentimento ficara na semente, a flor fica sempre na semente aquando emurchece.
Como se há de querer que não a felicidade, mas a antefelicidade, permaneça
fechada na gaveta.
Ágape.
Gravou-se-me
na memória a imaginação. Gravou-se nela a flor seca que perfumou a gaveta em
que murchou. As verdadeiras imagens aprofundam lembranças vividas, deslocam
recordações vivenciadas, para se tornarem lembranças da imaginação.
Interessante isto!... As palavras também são guardadas em gavetas, esperando de
lá serem reveladas ainda com mais sentimentos e emoções, pois que o tempo as
tornaram mais reais, mais essenciais para a vida. Por que relaciono a flor com
as palavras?
Nous.
E o
espírito paira sobre o abismo. Não há de ser por os olhos não se dignarem a
contemplar e vislumbrar neste momento em que o espírito paira sobre o abismo
que perderei a oportunidade de trazê-lo à superfície – talvez tenham eles
alguma vertigem, se olharem com muita atenção e entrega, são capazes de não
resistir à profundidade, respeito-lhes a vertigem, mas não posso deixar de me
furtar ao prazer deste instante de contemplação. Neste caso, não é o silêncio
que é diferente, não é o sublime que mostra suas nuanças, o sentimento é que é outro.
Tal explicação à luz de uma justificativa parece-me viável para a compreensão:
a alma volta à serenidade de antes, de outrora, naquele momento mesmo em que
intuí um sonho muito forte em mim, em princípio vaguei os olhos pelos
horizontes, um vazio sem medidas tomou-me por inteiro, não me pude controlar,
saí correndo, mas após descansar veio-me à mente que o desejo era de trazer os
abismos à superfície.
Theos.
Experimentar
a intimidade, uma vez vivida e sentida não se apaga mesmo que os homens se amesquinhem,
ridicularizem-se, degenerem-se. A réstia de luz que perpassa o tempo, o espaço,
envolve um mistério de doação “escondido na beleza, na volúpia, na quebra da
solidão, no a-núncio da esperança, no afastamento do medo, na presença e
re-velação do silêncio”.
Inner.
Instante
inesquecível em que torno a sentir! Escuto o riso da ampulheta, diante do tempo
– o vento invade-me a voz que é sonho, o desejo da mente que é imensidão, a
vontade da alma que é eternidade. O espelho procura a imagem, buscando aprimorar
com ousadia o registro de mim – desço pela janela do que já se tornou
inevitável, como a taça que se estiola no chão e eu não quero, insisto e
persisto em não “emendar” – diria ser eu um teimoso, um burro empacado? A
imagem constrói a matula de lacaios, busca a taberna de difusos, desejando a
transparência de cinismos e ironias.
Numinoso.
Luzes
não são suficientes para iluminar a longa área de mato e capim que se estende
adentro mistério entre árvores, galhos, esquecimentos, de alguém que, sentado
no meio-fio, a noite segue seu caminho, se há outra significação para o pouco
ou demais de olhos que desejam com que gestos ou modos de revelar o erro
abstrato da criação, e o silêncio perpassa momento difuso, profuso, completo de
viver tudo de todos os lados.
Assunção.
Creio
que diante de tantas dimensões divinas e humanas, a Terra-Mãe está cheia do
Amor de Deus, e por isso mesmo deseja, tem vontade do Sublime e do Sagrado.
(**RIO
DE JANEIRO**, 30 DE JUNHO DE 2017)
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