#O ATRÁS VEM DEPOIS DE TUDO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA E TÍTULO/ Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Porque um "tu" é um "eu" que estamos vendo em
alguém, um "eu" fugitivo, escorregadio, in-apreensível e todavia tão
presente, tão aqui, tão agora, que nos perturba de inquietação, des-assossego.
Quem me abre a porta de ti, para eu ser tu sendo eu? Que eu saiba o que pensas
e sentes, o que lhe perpassa o íntimo, que sentimentos e emoções se lhe
a-nunciam nos interstícios de tua alma - mas como ser tu a pensar e sentir? E
como ser eu a pensar e sentir em ti?
Morrer no verão. À hora absoluta, delírio de luz. Não no outono, de
monco caído. Ou no inverno, quando se está encolhido pela metade. Mesmo na
primavera em que tudo está ainda para ser. À hora máxima, os olhos em chamas,
mesmo fechados, a luz estrídula em todos os interstícios da vida.
Fora, a noite resplandece límpida, ponteada de estrelas que velam o
ossuário da terra, como de flores de ramo não invisível de todo, mas a visão
quase pouca lá não chega inteira. A cidade imobiliza-se desde toda a
eternidade, cristaliza-se desde a gênese do mundo e da terra, imensidão do
espaço, o ar é leve e suave - um êxtase.
Imagens re-fletidas no espelho: re-versas a-nunciações verbalizam a luz
que re-vela a alma de desejos lúdicos do amor que se esplende por todo o
infinito, no peito o pulsar de sentimentos, cáritas de palavras manifestam a
linguística da felicidade, o verbo feliz do tempo na continuidade do ser
vers-ifica, mares-ifica êxtases e volúpias prefigurando o absoluto pouco a
pouco no tecer de contingência em contingência as linhas do universo, no nada
vazios passeiam livres, entregues às circunstâncias da travessia, o atrás vem
depois de tudo, a coruja re-templar no canto dos mistérios o ad-vir da
sabedoria a exalar a gnose do conhecimento, amar no sonho do amor a essência
lívida, transparente do espírito que vela na soleira do efêmero a esperança do
eterno, sentir do amor a dimensão diáfana da alma que alça voo profundo no
infinitivo, além quaisquer inspirações do belo, além quaisquer querências da
beleza, ser tao da sensibilidade que perscruta os abismos do pleno efêmero
desejando as miríades de luz orvalharem o silêncio de gotículas frias, suaves,
leves, trans-elevando aos píncaros do sublime o ser-krishna e que na noite de
lua cheia trans-ilumina a passagem ao alvorecer de iríadas na divina comédia de
ouros e risos a metafísica pura do paraíso celeste, jardins terrenos
des-velando as cores múltiplas das flores, pintando de brilhos lúdicos o
retrato retros-pectivo de genesis nas efemeridades do apocalipse re-verso da
morte, do morrer verbo de eternizar as metáforas do verso-crepúsculo da vida na
orla marítima das águas que trans-correm os itinerários da fonte ao silvestre
das origens subjuntivas e gerundiais.
Amor puro. Amor verdadeiro. Amor de entregas do ser e não-ser. Amor do
tempo na poesia poiética do divino. Amor do sonho na poiésis da utopia que
origina a sarapalha de silvestres contingências.
(**RIO DE JANEIRO**, 08 DE JUNHO DE 2017)
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