**AFORISMO DOS CANTOS ORFEÔNICOS DA SOLIDÃO/AO POETA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE** - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Vagas sorrelfas de idílios compactos à luz da
neblina que cobre a superfície do abismo, que envela montanhas, chapadões,
vales, qualquer fantasia de pensar e sentir a sua proximidade esvaecida por
algum tempo e qualquer pensamento sobre o que além de onde a neblina pode ter
pés estão, desde antemãos, as revezes são invisíveis, vagos idílios de
sorrelfas ads-tringentes às asas da águia que mudou o seu caminho, segue a
sensibilidade outras quimeras do longínquo e distante, mas pousada nalguma doca
esplenderá seu olhar à imensidão do mar por onde sobrevoou inúmeras vezes, sonhos
e esperanças outros, perpassando longínquos e distantes, é a sua mística
jornada, mas nalgum dia desaparecerá na neblina, atrás tudo se tornou lenda,
mito, causos dela, a sendeira do infinito...
A minha pena não basta para pintar como devia o
baile que a extraordinária gentileza dos convivas da casa improvisaram.
Interessante a coruja cantar nalguma galha de
árvore pela noite e madrugada a fora, e durante o dia a águia sobrevoa os
lugares da terra e do mundo, sempre adiante, adiante, e avançando segue. Sem
pensamentos, sem idéias, sem ideais, perscrutando o mar e as nuvens se
comungando à distância, gaivotas se alimentando à beira-mar, algumas pessoas
passeiam com os cachorrinhos de estimação. A águia e a coruja, vagos devaneios
vagueiam, as cores do arco-íris dissipam-se num lance de lince, o entardecer e
o anoitecer se comungam, a lua e as estrelas, cantos orfeônicos da solidão, do
sempre in-vestigar as trilhas percorridas, com ímpeto e coragem, sentir
carências, faltas, falhas, continuar no amanhecer outros vôos entre as coisas e
os objetos, entre os homens, perscrutar a longitude dos mares, desertos,
con-templando a distância, meiguices, ternuras, afetos, afeições, entregas,
amor, amizade, alvorecer de novo dia, se o Ser se faz continuamente, a continuidade
é também o Ser, e o tempo segue tocando a sua gaita de foles, e os éritos
atrás, a viola, o orfeão, haverá a curva a ser trilhada, e não mais a visão
dele...
Como poderia eu, aliás modesto escrevinhador das
aventuras de um caminho do campo, como poderia eu exprimir esta amálgama
surpreendente de beleza, de brilho, de elegância, de alegria, de amabilidade e
de júbilo?
Sonhos, idílios compactos, furtivas sorrelfas,
volúveis quimeras, voláteis fantasias não sejam o menu de sobremesa após o
banquete de churrasco regado a vinho, à luz dos sons dos mares. O velho e o
mar, José, e agora? Remar contra a correnteza, contra as ondas, ou deixar o mar
levar o barco? Na calçada, o poeta pensa, perscruta, investiga, contempla o
tempo e o mar, um abraço, no peito, a lembrança, re-cordação, na moldura a
imagem dos éritos caminhos percorridos de ideais, sonhos, idéias outras,
sentimentos e emoções, entregas, andando a passos de bicho-preguiça, mão
segurando o braço, cabeça baixa, passeando no calçadão da praia, na longa
estrada de terra e buracos da Ilha de Itaoca, nas ruas de pedras gauches, numa
mesa de restaurante com os amigos, os velhos e surrados causos. As risadas de
quando os jornalistas tresloucados invadiram a suite só para perguntar o porquê
de a coruja renascer de seu canto, num momento indevido, instante de
intimidade, quinze dias numa pequena ilha até passarem as euforias, fantasiado
com um belo chapéu mexicano, abas mais que largas, um ponche...
Se a coruja nasce de seu canto, não poderia
responder, grande mistério e enigma, mas que o canto da coruja inspira o
re-nascer, disto não haja duvidar.
As palavras reperticuram solenes e calientes.
Estava apenas brincando com os vernáculos.
(**RIO DE JANEIRO**, 26 DE JUNHO DE 2017)
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