Maria Isabel Cunha ESCRITORA E POETISA COMENTA O AFORISMO /**NA LIBERDADE DA CAMINHADA NOS ENCAMINHAM OS CAMINHOS SILVESTRES**/
Este texto ressalta a relação que o homem trava com o seu semelhante e
pelas coisas que o circundam. É através da linguagem falada ou escrita que cada
Ser se define e assume perante os demais. Segundo o autor, todos oriundos de
uma mesma matéria sentimos necessidade de comunicar e até unir com os outros na
caminhada da vida. Na linguagem, o não ser desentranha-se do Ser, revelando
assim as características próprias e singulares que distinguem e identificam
cada Ser isolado e único. Texto riquíssimo pelos conceitos que apresenta e
justifica, merece toda a atenção do leitor. Parabéns, escritor amigo. Um
abraço.
Maria Isabel Cunha
#NA LIBERDADE DA CAMINHADA NOS ENCAMINHAM OS CAMINHOS SILVESTRES#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
"O caminho se presentifica frente aos obstáculos que a vida nos
apresenta" (Graça Fontis)
Por seus atos, o homem se determina, sai do magma das coisas, enquanto
impõe seu ato livre: ele ek-siste, mantém-se de fora de si mesmo, no seu
projeto, sua relação com o que é. O existente é o único ente capaz de abertura
ao ser. Assim, se a existência do homem é autêntica, faz sentido por si mesma.
Uma vez que falar é comprometer-se, o sentido dessa moral é manifesto:
trata-se, como no sistema do filósofo Kant, de realizar o universal com sua
própria carne. Uma vez que se escreve ou se diz, fá-lo sempre a partir da
verdade de quem somos, de quem re-“presentamos” na vida e no mundo, nas
relações com os homens, as coisas e os objetos, a partir da res-ponsabilidade
em/de buscar e desejar a nossa autenticidade, verdade, a superação de nossos
problemas, tornarmo-nos homens-Deus.
Há no ser humano o apelo pela fusão, para a unificação, para a comunhão
com todas as coisas e para ser um com elas. Os raios que se fundem lentamente à
noite delirante e caprichosa são a nossa inarredável saudade do momento em que
estávamos todos juntos, éramos energia originária com imensas virtualidades de
realização.
Na liberdade da caminhada nos encaminham os caminhos silvestres,
enquanto nos levam a pensar a essência do real na radicalidade das diferenças
de ser e não ser. Na linguagem se trava a luta em que o não-ser se desentranha
do Ser, dando ensejo a que os entes apareçam. Nada na alma, “a força da
semente/que rompe a terra e surge vigorada”, a semente que é a-núncio e
promessa, luz que re-vela a “árvore-da-vida” que trará frutos, se a regarmos de
sinceridade, seriedade, dignidade e honra, se a vivermos de modo autêntico, e
nas trilhas da vida vamos sentindo o gosto delicioso e essencial de nossa
felicidade e alegria, contentamentos e prazeres, e desejamos chegar ao nosso
destino. Os sentimentos, a espiritualidade que nascem, re-nascem em nós, rompem
nossas dificuldades, problemas, angústias, tristezas, depressões, e surgem
vigorosos, plenos e sedentos de VIDA, de realização, lançando ao céu, aos
horizontes e universos, o broto resistente de que somos vocacionados à
plenitude, à sublimidade e eternidade, num “excelso brado”, re-presentados e
arquetipizados, literalizados e anunciados, re-velados e manifestados pelas
orações em voz silenciosa, quando a nossa expressão é real, eivada de sonhos de
redenção, salvação, ressurreição, sobretudo de espiritualidade.
O silêncio se dá na impossibilidade e como impossibilidade de falar e
escrever sobre ele. A voz silenciosa se revela na possibilidade se ouvirmos no
mais profundo de nós, nos interstícios de nossa alma e espírito, as “palavras”
de nosso ser que anseiam pela luz do mundo, nas re-(l)-ações com os homens, as
coisas, os objetos, a vida na sua essência divina.
(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE JUNHO DE 2017)
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