#NA LIBERDADE DA CAMINHADA NOS ENCAMINHAM OS CAMINHOS SILVESTRES# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
"O
caminho se presentifica frente aos obstáculos que a vida nos apresenta"
(Graça Fontis)
Por
seus atos, o homem se determina, sai do magma das coisas, enquanto impõe seu
ato livre: ele ek-siste, mantém-se de fora de si mesmo, no seu projeto, sua
relação com o que é. O existente é o único ente capaz de abertura ao ser.
Assim, se a existência do homem é autêntica, faz sentido por si mesma.
Uma
vez que falar é comprometer-se, o sentido dessa moral é manifesto: trata-se,
como no sistema do filósofo Kant, de realizar o universal com sua própria
carne. Uma vez que se escreve ou se diz, fá-lo sempre a partir da verdade de
quem somos, de quem re-“presentamos” na vida e no mundo, nas relações com os
homens, as coisas e os objetos, a partir da res-ponsabilidade em/de buscar e
desejar a nossa autenticidade, verdade, a superação de nossos problemas, tornarmo-nos
homens-Deus.
Há no
ser humano o apelo pela fusão, para a unificação, para a comunhão com todas as
coisas e para ser um com elas. Os raios que se fundem lentamente à noite
delirante e caprichosa são a nossa inarredável saudade do momento em que estávamos
todos juntos, éramos energia originária com imensas virtualidades de
realização.
Na
liberdade da caminhada nos encaminham os caminhos silvestres, enquanto nos
levam a pensar a essência do real na radicalidade das diferenças de ser e não
ser. Na linguagem se trava a luta em que o não-ser se desentranha do Ser, dando
ensejo a que os entes apareçam. Nada na alma, “a força da semente/que rompe a
terra e surge vigorada”, a semente que é a-núncio e promessa, luz que re-vela a
“árvore-da-vida” que trará frutos, se a regarmos de sinceridade, seriedade,
dignidade e honra, se a vivermos de modo autêntico, e nas trilhas da vida vamos
sentindo o gosto delicioso e essencial de nossa felicidade e alegria,
contentamentos e prazeres, e desejamos chegar ao nosso destino. Os sentimentos,
a espiritualidade que nascem, re-nascem em nós, rompem nossas dificuldades,
problemas, angústias, tristezas, depressões, e surgem vigorosos, plenos e
sedentos de VIDA, de realização, lançando ao céu, aos horizontes e universos, o
broto resistente de que somos vocacionados à plenitude, à sublimidade e
eternidade, num “excelso brado”, re-presentados e arquetipizados, literalizados
e anunciados, re-velados e manifestados pelas orações em voz silenciosa, quando
a nossa expressão é real, eivada de sonhos de redenção, salvação, ressurreição,
sobretudo de espiritualidade.
O
silêncio se dá na impossibilidade e como impossibilidade de falar e escrever
sobre ele. A voz silenciosa se revela na possibilidade se ouvirmos no mais
profundo de nós, nos interstícios de nossa alma e espírito, as “palavras” de
nosso ser que anseiam pela luz do mundo, nas re-(l)-ações com os homens, as
coisas, os objetos, a vida na sua essência divina.
(**RIO
DE JANEIRO**, 28 DE JUNHO DE 2017)
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