#LIVRE SOU SÓ, SÓ SOU LIVRE"# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Palavras
não existem por existir, à toa. Têm o seu sentido, servem aos instantes,
situações da vida. Algumas são bem difíceis de pronunciar com a verdade no
riste da língua. São postergadas, por vezes. A vida fá-la ser pronunciada, o
seu sentido seja vivido, embora a dor esteja presente, e mesmo que o tempo a
amenize, jamais se é possível esquecer o momento da pronúncia, os sentimentos
que perpassavam a alma.
Cinco
letras apenas. Pronunciei. Mesmo que não tenham sido ditas, faladas - numa
mensagem registrei-as. Olhei-as, con-templei-as escritas. O peito insuflou-se
com a dor. Para não senti-la ainda mais forte, para não vê-la sozinha na
mensagem, ainda registrei "Um grande abraço". Sabia este momento iria
acontecer, teria de estar diante da verdade, da situação, cara a cara, frente a
frente. Intuí e imaginei os sentimentos, as emoções que me pervagariam. Não
foram tão diferentes do intuído, imaginado, o que não intuí e imaginei direito
foi a dor. A dor é imensa... O tempo amenizará, mas os sentimentos jamais serão
olvidados. Estarão guardados num cofrezinho da memória, especial. Lembranças,
recordações estarão presentes.
Dizer:
"A vida é assim" parece-me ridículo, vulgar demais, além disso
negligencia os sentimentos, que são verdadeiros e reais. Direi: "Estava
escrito nas estrelas que iria acontecer. Era necessário assim fosse".
Assim terei oportunidade de projetar os tantos sonhos que se a-nunciaram,
re-velaram, o desejo de vê-los real-izados, vê-los no quotidiano das alegrias e
felicidade da conquista. Sê-lo-ão como se houvesse sido no outrora deste
instante ou instante de daqui a algum tempo. Sentirei em mim felicidade dupla,
a do passado como se houvesse sido lá, a do presente por não haver esquecido,
haver-lhes guardado com carinho e amor para o tempo do acontecimento, tudo tem
o seu tempo devido.
Não me
faço promessas, ao longo da vida a realidade se mostra outra, o real é
diferente, não há mais sentido real-izá-las. Determino que vou fazê-lo. Não vou
deixar que o homem em mim morra, não vou con-sentir que a busca da vida e dos
sonhos acabem aqui e agora, siga com a dor em mim, o sofrimento envele o que me
habita, o que há em mim, o que há-de vir. Prometi isso, determino a mim.
Palavrinha
difícil... Difícil é simples para defini-la no instante de sua realidade
inevitável e indevassável. "A d e u s". Separo-a para con-templá-la,
senti-la presente não na sua realidade de palavra, mas no sentimento que ela
faz ec-sistir. Dizem que o sentido dela não existe - acredito nisso, faço-o por
saber os sentimentos e emoções estarão presentes por sempre. Mostrando a
realidade em todas as situações, circunstâncias é para sempre, o "adeus
eterno", aí não há como não ter o sentido que tem, que traz em si mesma,
significa que não haverá condições de viver o vivido, mesmo com as suas
diferenças.
Vivi
as alegrias, vivi a felicidade, conheci outros sonhos, con-templei outros
horizontes, vislumbrei outros uni-versos, ainda mais profundo que isso vi a vida
sendo modificada, transformada, fui a cada passo dos caminhos me tornando
outro, o outro de mim que estou vivendo agora, transformasse-á, modificar-se-á
nas trilhas de veredas e sendas do que há-de vir. Aconteceu para ser
"outro", o "eu" já não significava nada, estaria apenas no
prolongar dos dias, ao redor o abismo, à frente o nada. Outro vou pro-jetando a
vida, buscando-a, vou construindo as conquistas, vou sentindo a alegria e a
felicidade delas, em mim não o agradecimento formal, mas a emoção sublime e
sensata de "Sou feliz hoje, tenho a vida nas mãos feitas conchas; não pude
com-partilhar, mas realizei, está compartilhado no espírito".
Noutros
momentos da vida, tomei da pena, diante de dores e sofrimentos, e registrei a
alma, deixe-a dizer-me, deixei-a expressar, ser ela não eu, escrevesse-me,
escrevesse-a, senti-me melhor, continuei a seguir as trilhas, jamais os
esqueci. Escritos, ficaram inscritos na memória. Digo à minh´alma com toda a
sensatez de caráter e personalidade, sensibilidade: "Não fosse você
haver-me escrito, o que seria de mim hoje?". Não há resposta, tudo o que
disser neste sentido serão apenas meras fantasias ou elucubrações ridículas e
medíocres. Mas há uma realidade a ser considerada na sua essência, haver sido
escrito mostrou-me o vazio não haver sido instituído vez por todas, esvaziei-me
nas letras, preenchi-me de outras experiências e vivências, amadureci-me.
Disse
"adeus"... Sinto a tinta sendo registrada na folha branca de papel,
sendo o movimento da mão desenhando a letra, letra cursiva, em verdade GÓTICA
pelos seus traços. Nada seria esquecido. Não esqueço o eco que a palavra deixou
em mim, a caneta e a tinta não esquecerão também por haverem ... o movimento
contido da mão como se elas é que houvessem sido as dores e os sofrimentos.
Às
cavalitas do tempo as sendas e veredas mostram os horizontes e uni-versos à
frente, chegar lá é mister e imprescindível.
Ser
feliz con-sente a solidão do ser e a solidão do ser con-sente a liberdade. Só
sou livre e livre sou só.
(**RIO
DE JANEIRO**, 18 DE JUNHO DE 2017)
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