Sonia Gonçalves ESCRITORA E POETISA COMENTA O AFORISMO 290 /**SOU A VOZ DA VIDA**/
Éhh! rsrsr Parabéns Manu por mais esse texto super agradável a leitura
lembrando algumas passagens bíblicas como Pedro que negou Cristo por três vezes
com cantarolar do galo e tal... Acho que você está com a sensibilidade
aflorada, não é para menos querido. De fato, a vida é bem à toa mesmo Manoel
Ferreira Neto, pena que só nos damos conta de quão ele é frágil quando já
estamos na metade do caminho.... Seus questionamentos com o rouxinol é bem
válido, para quê e por quê tanto sofrer né? Dizem para nos engradecer como
pessoa, ora isso é bem vago e bem à toa, realmente tem coisas que não
entendemos e nem sei se iremos algum dia. Eu amei te ler Manu, apesar do sono
que estou aqui... Bjos Parabéns pelo texto e parabéns para Graça pela
pintura...Tudo de bom!
Sonia Gonçalves
#AFORISMO 290/SOU A VOZ DA VIDA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Rouxinóis em colóquios a intervalos, e ouço como voam sobressaltados de
um lugar a outro. Um rouxinol tentou instalar-se numa folha de mangabeira num
terreno baldio frente à minha residência, e, quando saí à porta, ouvi que se
mudara para além, numa antena de televisão, onde trinara uma vez e calara-se,
igualmente em expectativa. De que estava ele à espera?
Era em vão que procurava acalmar-me: esperava e desejava algo, e não
sabia, de antemão e revezes, se seria realizado, até cria que havia
possibilidade de não o ser, por outras razões muito diferentes da que estava a
imaginar; e isto me exasperava sobremaneira, uma tristeza muito profunda
perpassava-me as entranhas, necessitando de algo que me despertasse a atenção
para a vida, para as coisas, para o mundo, enfim, para toda a eternidade.
Ao mármore, pastas, sob o mármore, pasto serás, sobre o mármore, quanto
tempo, não mais sendo... quanto tempo, sob o sol, ficarás?
Entre mármore, és, foste, serás: Com ele, por ele, nele, Os Extremos dos
matizes Esgotaste e esgotarás, Mesmo que in-vertas, Per-vertas, con-vertas... A
ordem natural das coisas...
Decorando-te a noite o dia e enfeitando-se o dia a noite.
VERNEINUNG. - “Ferirei o Pastor e as ovelhas se dispersarão”. - Ainda
que todos se escandalizem de ti, eu nunca me escandalizarei... - “Em verdade,
eu te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes, me
negarás”. - Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo algum te
negarei... “E, da mesma forma, diziam todos, também!”
Querendo negar, não negou: Verneinung.
No clímax da saudade alegria não há, prazer não há, felicidade não há,
não há sequer miríades de ínfimas alegrias. Não há pecados, nem recados.
Sem querer negar, negou: verleugnung.
No clímax da saudade longínqua, num lugar que não há, sem distância se
estendendo, se esconde a razão da saudade em espaços não conhecidos, sabidos.
No entretanto, na ausência de vento, a nuvem desce cada vez mais; tudo
se torna mais quieto, mais cheiroso, um cheiro de mato, de serras, de terra, e
de repente cai uma gota e como salta sobre a vidraça da sala de estar, onde
fumo um cigarro.
O que é isto? Será, de verdade, a voz da vida que me questiona. Talvez
não. E a voz interior responde-me: “... sim, é verdade, sou a voz da vida...”
Seja sim a voz da vida, gostaria que me respondesse a uma única questão que me
venho fazendo desde que me entendo por um indivíduo. Responde-me: para que o
sofrimento? Olhando-me de soslaio, um sorriso nos lábios, as faces límpidas,
dir-me-ia “...à toa, sem finalidade...”. Só poderia ser ironia, sarcasmo,
cinismo da parte da vida, com certeza estava a fazer menos de minha
inteligência, um destes pitis de homens que estão prontos e acabados para
qualquer eventualidade, para as grandes coisas, mas em se tratando das pequenas
são uns fracos e covardes, sabendo de antemão que a resposta não poderia ser
outra, a vida é à toa...
Dolmens, menires, cavernas abrigavam o homem primevo. O civilizado
erigiu seu teto, de variada forma, palácios, arranha-céus...
Valia-se o primevo da água do mar, do lago, da lagoa, do rio, do arroio,
da catarata, da cascata, da bica. O civilizado trouxe a água
para a sua casa...
Lá fora, de dia, arde o sol. De noite, a lua e as estrelas, Com sua
vacilante luz. O civilizado trouxe a luz para a sua casa...
Ao amanhecer do devir distintas pétalas brotarão flores selváticas nas
sêmitas e trilhos por onde contundir...
(**RIO DE JANEIRO**, 18 DE OUTUBRO DE 2017)
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