#AFORISMO 266/CARÁTER PERSPECTIVO, PROSPECTIVO DA EXISTÊNCIA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
A alma circuns-pecta pers-cruta as ad-jacências de suas vivências -
sentimentos des-vairados que resultaram em re-colhimento para re-criar verbos
de possibilidade de encontros, de liberdade em projetar quimeras e sorrelfas ao
além, sonhos e esperanças ao vir-a-ser de vida outra envelada nas contingências
do presente e do quotidiano.
A alma intros-pectiva sonda as bordas de suas experiências - lembranças
e re-cordações de instantes de prazer, ideais e utopias olvidados por outras
necessidades e urgências prioritárias, sonhos e esperanças frustrados,
fracassados, fora esquecida a disponibilidade do tempo, num átimo de segundo
impensado tudo perdido, tudo deposto, as bases da vida não foram cuidadas com
percuciência, a continuidade dos passos faz-se por inter-médio de dificuldades;
faltas, dores e sofrimentos são consequências in-evitáveis...
Até onde vai o caráter perspectivo, prospectivo da existência, ou
noutras palavras, tem ela mesmo outro caráter? Uma existência sem
interpretação, sem "razão", não se torna precisamente um absurdo? Uma
vez que, por outro lado, toda existência não é fundamentalmente interpretativa,
isso não pode ser decidido, como seria necessário, pelas análises mais zelosas
do intelecto, as mais pacientes e minuciosas intros-pecções; desta forma, o
espírito do homem, no decurso destas análises, não pode impedir-se de ver a si
próprio conforme a sua perspectiva e somente nela. Enxerga-se um palmo além da
ponta do nariz, a existência dobra as curvas de confins.
O mundo voltou a tornar-se infinito, no sentido em que não lhe podemos
recusar a possibilidade de se prestar a uma in-fin-idade de inter-pretações.
Os ponteiros do relógio continuam seguindo a trajetória do tempo, das
horas. As horas passadas não re-tornarão. Não se chega ao Éden voltando ao
genesis, sim seguindo em frente.
A vida sabe o que faz, sabedoria profunda. Momentos há que exige
conhecimentos, exige que se aprenda o que não fora aprendido, aprendizagem
permeada de dificuldades, misérias, pobrezas, dores e sofrimentos...
Dá-nos o cobertor conforme o frio - não tivéssemos condições de suportar
as coisas, não nos dariam tais fardos. Isto para os homens especiais, aqueles
que ela escolhe, o que aprenderam fará todas as diferenças. Chegado o tempo,
ela mesma, a vida, cuida de mostrar os caminhos, de orientar nos novos
caminhos.
Por vezes, longos e intermináveis anos são levados para se ver um sonho
realizado. Há quem só no final da vida degusta o prazer de único sonho
realizado, vive-o, vivencia-o pujantemente. Há quem vê seus sonhos realizados,
passando por dificuldades indescritíveis, inomináveis, mas estes sonhos
realizados são a pedra de toque de esperanças, a todo instante projeta novos
ideais, novas utopias, novos desejos e vontades. Aí é que a vida reconhece o que
habita o íntimo deste homem, os seus merecimentos.
A vida é pura sabedoria. Vivendo e sofrendo, nas dificuldades, miséria e
pobreza, é que se mergulha profundo nesta sabedoria, assimila-a, vive-a, é-se
outro, o que passou foram apenas pedras de toque de aprendizagens.
(**RIO DE JANEIRO**, 14 DE OUTUBRO DE 2017)
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