#AFORISMO 285/DISCURSO POÉTICO E EU-POÉTICO NA OBRA DE MANOEL FERREIRA NETO SEGUNDO A CRÍTICA LITERÁRIA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
O autor reflete sobre a viagem no NADA, através das
paisagens: “ Con-sintamo-nos viajar na viagem do nada ao Vazio, con-templando a
paisagem do horizonte, do uni-verso. Somos enviados ao In-finito. Deixar a
viagem ser este envio por todas as vias da paisagem é a poesia dos viajantes. “
O sentir poético é a mola propulsora para o poeta.
Ele não se preocupa o fazer poético com a gramática do escrever, mas com o
sentir na infinitude do universo, passeando sua alma nas imagens sagradas das
paisagens terrenas, transcendendo o seu estado d´alma para o além do horizonte
visto e sentido.
O discurso poético se encerra na paisagem:
A Neblina ora esconde, ora sopra ao “Eu poético” os
caminhos nebulosos do NADA, rumo ao iNFINITO das Verdades e Incertezas do Ser;
a paisagem silvestre, traz o poeta à realidade do Ser e não-ser; o Vento canta
a melodia que anuncia a passagem do Tempo, caminhando entre as montanhas...
A dança entre o Ver do poeta e o Sentir do “Eu
poético”; entre o Ser e o Não-Ser; O Nada e o Tudo,O Finito e o Infinito; ...
são os elementos em que resultam a poesia propriamente dita:
“O pensar que a-colhe a palavra, o sentir que
a-colhe o in-finito - tentar redizer é poesia, pensamento originário. Relação
originária entre a poesia e o pensamento, movimentando-se no Ser como dizer, o
logos no sentido heraclitiano e fundamental do homem e a existência, entendida
na forma de compreensão do Ser,”
O autor descreve sobre a irremediável constatação
de que Não há como existir poesia, a não ser que existam o poeta e a alma
poética:
“ Assim o "eu poético" se a-nuncia,
iniciando a viagem para o seu conhecimento que só acontece com o exercício da
prática poética, o escrevinhar poesias em harmonia com o quotidano das
con-tingências.”
A poesia está guardada na alma do poeta e é dela
(alma poética) que depende o suscitar do Belo!
O poeta é o instrumento essencial para fazer
insurgir o “Eu poético” à revelação do verbo Ser.
Na busca pelo Belo poético tem de haver, então, a
Katarse entre o poeta e o “Eu poético”:
“A realização estética é uma criação, porque dá um
sentido à terra, fazendo comungar o homem do acontecimento que é a irrupção da
verdade. O artista também não domina o ato da criação artística;; ele é sempre
ultrapassado pela obra”
É nessa comunhão que reside o Sagrado: O divino se
manifesta no “Eu poético” e no poeta a transcender à lógica dos recursos
lingüísticos dominados pelo poeta.
Daí, revela-se a Verdade! Caminhando no Nada,
abstraindo o Tudo: A existência divina.
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Ana Sofia Carvalho, interpretando e analisando o
texto BÁRATRO DA ALTIVEZ, fornece-nos uma das perspectivas da obra do escritor,
da palavra à "filosofia da palavra", a busca da estética,
consciência-estética, poiésis e poiética, pres-ent-ificando-se em toda obra, da
estética ao Verbo do Ser. O processo desta caminhada do escritor em sua jornada
é sine qua non.
Assim, diz a crítica, comentarista Ana Sofia
Carvalho:
"Poderia referir-me a este texto como "A
filosofia da Palavra" mas talvez seja mais acertado falar de "exegese
da filosofia da palavra", uma espécie de relato do Big Bang da linguística
pensada e escrita (não tanto, penso, falada) que nos transporta numa espécie de
viagem temporal e espacial de desenvolvimento do ser da palavra até à sua
materialização como tal.
Ademais, a destreza quase crua do texto - como me
parece ser a nota singular do autor - não abdica dos aspetos
estético-literários, mediante a utilização fértil de metáforas e figuras de
estilo de enorme beleza.
Uma última nota: conheço e admiro dois grandes
escritores que me parecem partilhar consigo uma outra característica muito sui
generis: a capacidade de reinventar a língua, ou melhor, o léxico, criando novas
palavras: falo de Saramago e Mia Couto, cada um à sua maneira, e no caso do
Nobel já desaparecido, a criatividade não tanto do léxico, mas semântica (
através de uma reinvenção da prosa, recorrendo a uma nova caligrafia e
pontuação frásica, sem recurso a vírgulas, pontos aspas ou travessões - tema
que daria pano para mangas...).
Em outro texto do escritor, IDÍLIOS DA VERDADE, a
artista-plástica(pintora) e poetisa Graça Fontis esclarece os aspectos
estético-literários, referido por Ana Sofia Carvalho: o silêncio que habita na
filosofia da palavra é uma reflexão acerca da dialética da filosofia da
palavra, a desejância da Estética, que é uma vertente-vereda para a Filosofia
da Estética e da Poesia.
"Onde o silêncio se faz voz numa reflexão
passiva; assumindo o lugar do nada aquém do advir, transforma-se literalmente
numa dialética suave à mercê do tempo que se arrasta preguiçosamente sobre mar,
campos e melodias, devaneando, feito em asas sobrevoando o todo à procura de
algo ainda que...um mistério dentro desse universo. ..corpo...alma...Ser?...
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Mas, o escritor na continuidade de seus
pensamentos, idéias, desejando a Estética, a Consciência-Estética, necessita
dos significantes para trans-mitir a luz que habita no silêncio para versar e
compor as sendas para a realização desta intenção, projeto, necessita criar,
re-criar, in-ventar, re-in-ventar a línguística, a semântica, neste texto
BÁRATRO DA ALTIVEZ, conforme o comentário da escritora e poetiza Maria
Fernandes, #MARIA ISABEL FERNANDES CUNHA#, revela com nitidez e transparência a
questão de necessitar cingir-se ao seu estilo, vivência e instrução (natureza
da existência):
"Para compor um poema, quantas ideias
sobressaltam o autor que procura os significantes mais cintilantes,
deslumbrantes, ousados, eruditos, mais apropriados para a mensagem que deseja
transmitir ao leitor, mas nem sempre surge a musa inspiratória e se contenta
com outros menos soberbos, menos imponentes e o poema que desejou deslumbrante,
apenas lhe parece um arremedo insignificante, perante a luz que lhe disparou na
mente, aquando da iniciação do mesmo.Logo, o autor de uma obra desconhece em
absoluto a aceitação do leitor perante a mesma. O sensato será ser autêntico,
cingindo-se ao seu estilo, vivência, aptidão e instrução (natureza da
existência)."
O escritor polémico e abstrato na sua dialética,
dada a erudita linguagem que utiliza e os princípios filosóficos de que dispõe,
torna-se inacessível e até um pouco fastidioso para o leitor comum que encontra
dificuldade em concentrar-se e até conseguir terminar a leitura dos seus
textos, dada a sua prodigiosa concentração do saber adquirido, inteligência e inspiração
invulgares.
Um ser inquieto com a própria existência, pesquisa
no seu próprio ser e em tudo o que o circunda respostas para a sua existência.
Busca nos mananciais de cultura existentes, desde a antiguidade: Bíblia,
Evangelhos, obras de autores consagrados respostas para as suas inquietações,
mas apenas encontra in-verdades, mentiras seculares ou ambiguidades como
resposta para as suas inquietações.
Deseja a sublimação do amor e toda a sua
envolvência em consonância com o ser/existente, mas encontra falsidades que lhe
provocam tristeza, lágrimas e uma sociedade com ausência de carácter, sem
espiritualidade.
Na procura da verdade do Ser/Existente vê-se pó e
luz, faltando-lhe porém, o conhecimento da continuidade no tempo do seu próprio
Ser.
Grande e perspicaz observador de tudo o que o
rodeia, é um crítico imparcial, sagaz, conseguindo penetrar na alma e
perscrutar os seus segredos do(s) autor(es) através das suas obras.
Não admite a finitude do Ser, mas sim a plenitude
do mesmo, no encontro Vida/Morte, onde o Ser tomará consciência de toda a sua
magnitude.
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Exatamente o que concerne aqui...agora...o canto
extraordinário, exorcizado...belo e pleno. ..Porquanto...outros dormem...a
mente vagueia nos interditos inexplicáveis da alma ...Espírito!...Não pensem
ser fácil ao leitor!...Discernir num átimo o contexto verbalizado ...a carga
estereotipada, metamorfoseada...sentimentos, sensibilidades e emoções em cada
verbo, palavras, frases e pontuações. ..Ah, sim...ler e reler... viajar dentre
linhas assimilando os sentidos com alegria prazerosa por conhecer ou tentar ao
máximo uma aproximação do aparentemente indecifrável. ..Quiçá venhamos
finalmente com sucesso penetrar nessa viagem lúdica e contemporânea abrangendo
uma linguagem poética, limpa e terna...tornando luz o antes obscuro e
inimaginável. ..após. ..adentrarmos neste percurso...o irreal torna-se real...o
todo apresenta-se em seu coração ou...É o escritor se apresentando a dizer..a
que...por que veio...mostrando através das palavras o tão sonhado mundo...sem
limites. .. sem fronteiras e sem razão...simples e categoricamente.
..viver/vivendo filosoficamente a sua... toda existência intrínseca mergulhada
numa subjetividade que há muito ainda que se investigar!..
Respeitante ao nada e a arte do escritor, Manoel
Ferreira Neto, apraz-me verbalizar, que estimar letras impõe abnegação, afinal,
a literatura não auxilia para nada. De outro modo, nem tudo carece auxiliar
para factos: há realidades que despendem finalidade, que duram somente para
aformosear a existência, para apontar a susceptibilidade de quem não se
satisfaz unicamente com aquilo que é verídico. A arte, em comum, e a
literatura, em peculiar, são acções cuja dimensão habita nessa excelsa
“ineficácia”. A literatura é usufruto, é submergir no deleite que os textos
conseguem presentear. O deleite belo que as letras facultam convertem-nos mais
concentrados àquilo que é intangível, converte –nos susceptíveis aos
padecimento do planeta.
Nas letras achará distintos itens sobre o dom literário,
e os componentes que a estabelecem, cláusulas que facultarão a qualquer ser,
uma jornada para um cosmos onde só os enormes espíritos conseguem contemplar.
(Ana Júlia Machado)
(**RIO DE JANEIRO**, 17 DE OUTUBRO DE 2017)
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