#AFORISMO 334/SONHO DA "SENAÇÃO" E DA REALIDADE PRESTES A CONCRETIZAR-SE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto/Ana Júlia Machado: AFORISMO
Findou...
Terminou uma etapa, uma época, um estádio da minha existência... não
concluiu hoje, já findou há uns tempos, mas a causa, ou privação dela foi
protelando esta resolução...
Terminou...
Terminou, pois havia que findar
Findou, pois desejo que assim seja,
Estimo o seja, amém
Terminou, mas desejo que permaneça esta área, tal como permanece, com o
que fica...
É uma lembrança, um ido deixado para trás, uma herança para quem
pre-tender, com-preender con-templar e estimular alcançar... Com-preender
con-templar e agrilhoar atingir-lhes.
Debulharei novo sentido, novo itinerário, nova expedição...
Ambiciono tudo de novo.
Não aceito morte, nem razões de vida, justificativas do simples mortal.
Quero dar vida à folha vazia e branca, deixar-lhe sozinha diante do mundo, das
coisas, vê-la sonhar com o amor, a felicidade. Vê-la sofrer com os
des-encontros, angústias do não-ser que lhe habita, dores que lhe corroem o
íntimo; vê-la ferida e ressentida com as palavras de não, com as atitudes
agressivas, com os sentimentos fingidos e falsos que a pena lhe demonstrara,
enquanto vertia a tinta que registrava as palavras e os sentimentos
inconscientes que me habitavam, quiçá sentimentos de naquelas linhas
repousar-me, sonar, ressonar, acordar embevecido de outras coisinhas fantasiosas;
vê-la chorando, des-cobrindo “sonhos dentro de outros sonhos, dentro de outros
sonhos, dentro de outros sonhos” através, por inter-médio dos fracassos e
frustrações, des-ilusões e des-enganos. Manchar com tinta a folha vazia e
branca com cores da alma, com imagens distanciadas dos horizontes infinitos,
com ângulos distantes do uni-verso re-presentado de além quimeras nos aquéns
bordados de fantasia, pontos cruzados de utopias, mesmo que seja de uma
perdida. Esqueciam-me as perspectivas longínquas, que a sensibilidade intui,
mas só re-presentando-as é-me dado esboçar-lhe no silêncio de mim, mesmo que
amem ocultar-se e revelar-se, perspectivas de luz, sombras, sons, perspectivas
de noites sem estrelas, sem lua, chuvosas.
Adormeci à busca de peregrinos querubins com asas frágeis e brancas,
surpresa, susto, decepção, esbarrei em asas duras de ferro, geladas e em chamas
vomitando sofrimentos. Sopitei à indagação de forasteiros mensageiros,
estrangeiros e-mailers, com ansas débeis e cãs. Surpresa. Inquietação.
Desilusão. Abalroei em ansas rígidas de aço, regeladas e em lavaredas jorrando
padecimentos. Sopitar elevado? Jamais... Repousar? Idealizar? É indiferente.
Pássaro lesionado, de ansas partidas, extraviado, isolado... nas alvoradas em
seu pesar.. o éden volvido em Érebo.
Vou rasgar fronteiras, entrar nas amplidões do eu que desejava, sonhava
ser o outro de si, mas terminou um “eu” sem verbo e sem carne, verter-lhe
lágrimas de chuva?, verto-as solenemente noutras condições ad-versas, o clima é
sui generis de melancolia, nostalgia, e des-fazer a solidão da procura do eu no
não-ser, do outro no ser-solidão das florestas silvestres das esperanças.
Vou traçar uma vereda clara nos caminhos do campo, e sem desvios, sem
corta-estrada, sem nonadas, entregar-me como a flor à abelha, a árvore ao
machado, vice-versa, ad-verso às intempéries da vida, às tempestades do desejo
e da realidade. Vou deixar minha alma re-fletir nos versos a fé de outros
sentimentos que me levem à vida, elevem-me ao espírito das esperanças sublimes
dos versos e ausências, e nestas folhas brancas e vazias escrever idéias e
pensamentos falando dos versos de brisas, neblinas, garoas e neves.
Vou esboçar um busto de bronze pequenino, entregar o esboço a um
escultor a escupir-lhe, colocá-lo numa corrente de ouro, trazendo-lhe ao peito,
e sem rituais, orações, silêncio incógnito, congênito... Só por aquela fissura
de uma corrente suspensa no pescoço, uma efígie, quem, o que vai fazer luz os
desejos mais íntimos, as luxúrias mais uterinas.
Desejo não a sensação temor. Ambiciono-me ceder mais, me exercitar mais,
idolatrar mais. Jornadear até afadigar…. Afirma-se que, previamente de um
flúmen tombar na imensidade, ele tirita de receio. Observa para o ido para o
extenso trilho, que cursou, e contempla à sua face uma imensidade tão ampla que
ingressar nele nentes mais é do que descampar para eternamente. Mas o flúmen
não consegue regressar. Ninguém consegue regressar. Regressar é inexequível na
vida. Você consegue somente ir em frente. O flúmen carece se aventurar e
ingressar na vastidão. E só quando ele ingressa na vastidão é que o receio
ausenta-se, pois somente nesse caso o flúmen perceberá que não se aborda de
descampar na vastidão, mas volver-se imensidade. Por um lado, é sumiço, e, por
outro, renovamento.
E o sonho da "senação" e da realidade prestes a
concretizar-se...
(**RIO DE JANEIRO**, 30 DE OUTUBRO DE 2017)
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