MARIA FERNANDES ESCRITORA E POETISA COMENTA O AFORISMO 326 /**COGITO ERGO NOM SUM**/
O autor sente-se perdido no meio da escrita com que depara no dia-a-dia
e classifica de “ escrita escriturária” “palavras mudas, cegas, coxas “ sem
sentido da estética, do belo, de fundamento, de origem, de objetivo. Se esta
escrita agrada ao leitor, não pretende agradar, apenas substancializar a sua
escrita, isto é aprofundar os seus conhecimentos para deles obter conclusões
fundamentadas e lógicas. Se escrever é utilizar palavras sem nexo, “ penso logo
não existo” porque quer pensar com nexo. Onde residirá a gafe? Nele ou na
escrita que não considera digna de ser literária? Eis a questão. Excelente
texto que gostei muito de ler. Obrigada, escritor e mestre na escrita. Um abraço,
Manoel Ferreira Neto.
Maria Isabel Cunha
Começaria de res-ponder-lhe, caríssima escritora e poetisa, crítica
Literária, Amiga, Maria Isabel Cunha, não habita em mim, mesmo nos regaços da
alma, onde a hipocrisia nem se re-presenta nas gafes de flores que des-fomeavam
as anunciações de noções e conceitos do belo na beleza, da beleza no belo, sim
substancializar a minha escrita, as pros e prés de crições, também não tenho,
isto exclusivamente, quaisquer intenções, interesses de ensinar, colocar o menu
da linguagem e estilo, forma, conteúdo, nos devidos trinques, quaisquer
intenções disto tenho, quero, além de obter conclusões fundamentais e lógicas,
in-vestigar os vestígios, o pleonasmo vicioso é intencional, das utopias do
verbo-estético da linguagem, não sou professor para isto elucubrar, ensinar,
nas letras nada se ensina, aprende-se no exercício delas.
Aí está a questão... Palavras sem nexo... Sim, eminentemente sem nexo,
por começar das divisões de silabas condenadas pela gramática oficial... Não seriam
estas as ridículas, alfim, quem as pode entender, não é mister escrever tão
difícil assim, só rindo mesmo das Zagaias do Tempo onde me seivei, onde me
eivei destes orvalhos e seren-itudes eruditos. Onde existem as gafes? Em mim ou
na escrita que não considero digna de ser literária? Quem considera se o que
escrevo é literário ou não não sou eu, sim o outro, quem lê. Posso não
considerar a minha escrita literária, mas considero a do outro, reconheço-a ou
não. Creio que isto não seja questão de considerar ou re-conhecer, está mais do
que evidente e trans-lúcida, diamante puro à luz do sol: não existo porque
penso. Não sou o inferno dos outros. Sou o meu próprio inferno, ácidos bem
críticos contra as estapafúrdias de minha linguagem e estilo, jamais contra a
erudição de ambos. Não considero dignos a minha linguagem e estilos: frutos da
incompetência e insuficiência.
Estimo que esteja compreendendo com percuciência a autocrítica que faço
de minhas "coisinhas", devido à autocrítica não empreendo passos à revelia.
Quiçá nas gafes reunidas haja algum senso merecedor de ser refletido,
meditado, pensado no pensamento que pensa? Quiçá!...
No final do Aforismo fica aquela dúvida: não sabia que não existia o
quê? - o verbo defectivo? quem tece estas considerações por demais
intempestivas não sabia que não existia, por ele pensar as suas considerações
são intempestivas? O que há de gafectivo que existe? Está é a questão. Mas fica
aquele questionamento: o que é isto - gafectivo? Diz respeito apenas à gafe?
Manoel Ferreira Neto
#AFORISMO 326/COGITO ERGO NON SUM#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Pós de esias esparramados no chão
De metáforas destituídas de sons, sentidos
Jogados na sarjeta de palavretas
- E quê palavretas! Indecentes, imorais
Tenho vergonha, tenho asco, tenho náuseas -
Desprovidas de perspectivas, luzes e imagens
Nonsense...
Ser não é mostrar-se e mostrar-se não é ser
Descompassadas nas trilhas dos inter-ditos,
Além-ditos, aquém-ditos,
Palavras mudas, palavras cegas, palavras surdas,
Palavras coxas, as famosas claudicantes,
Desconectadas dos precipícios onde se embevecem
De sensibilidade, contingências, trans-cendências,
Excluídas das cisternas onde se escondem
E saciam a sede do inócuo,
Todo ente nasce sem razão
Prolonga-se por fraqueza
Morre por encontro im-pre-visto
Nada,
Nonadas...
E os olhos se extasiam com o resplendor
Do inaudito, in-intelig-ível, imaginário das transgressões
Do inóspito, insolências da meiguice, meiguices insolentes,
Verbos desqualificados, verbos descompassados,
Intoleráveis, insuportáveis, enguli-los, quê mal-estar!
Amaria das prefundas de minh´alma escrever uma escrita escriturária,
torna-se-me, contudo, quase impossível de fazê-lo no que tange ao fato
inconteste de que cometeria uma série de gafes, estar nas tintas para isto -
ah, como estou! Antenas sempre ligadas. Não é bom para a minha imagem, por não
estar familiarizado com a linguagem de "escrita escriturária", nada
sei sobre ela, ademais estou sobremodo sem assunto, melhor dizendo,
des-assuntado, as gafes seriam inevitáveis, o bom senso aconselha-me a não me
utilizar de gafes; creio não ec-sistir, alguém solidário, prestativo,
compassivo, pode desejar ajudar-me, dizendo que quem faz a contabilidade de
pessoa física e jurídica e denominado escriturário, quem trabalha em cartório
também é chamado de escriturário, mas não desta escritura a que me refiro, a
escrita escriturária aqui menciono não existe.
Então, restam-me:
As imaginações férteis que viajam
Anacronias da ternura seduzindo as maledicências da alma
Anestesias da carícia e toques bolinando os boduns,
Anistias da ternura, entrega, doação
Dos instintos primevos do eterno, efêmero.
As estrelas velam
O ossuário dos ideais,
Contra-luz das utopias e dialética da iluminação.
Nada...
Nada puro...
Nada sublime...
Nada divino...
Nada supremo...
Nada reles...
Nada bastardo...
Nada: Ser ou Espírito?
Cinzas de esias cobrindo matagais, mangues
Cogito ergo non sum
Con-templar é matar a sede de conhecimentos
Cinzas lembram ossos, após alguns anos
De por baixo da terra, tornam-se cinzas
Recordam o limite inevitável da vida, a morte
Cinzas de nada...
Cinzas de nada puro...
Cinzas de nada sublime...
Cinzas de nada divino...
Cinzas de nada supremo...
Cinzas de nada herege...
Cinzas de nada proscrito...
Cinzas: Reais ou frutos da imaginação fértil
Aliada à inspiração, percepção, intuição, intenção?
Des-assuntado em nível tão elevado em que me encontro, a "escrita
escriturária" que amaria sobremodo re-velá-la à larga das con-tingências e
trans-cendências, mas, pelo simples fato do medo de cometer gafes em série com
a linguagem, com o estilo, com eles não estou familiarizado, restando-me o estilo
que poderia ser hilário, seria facílimo realizá-lo, mas o des-assunto deixou
estes versos e estrofes que não possuem claro, escuro, são palavras chapadas, o
real.
Onde - as gafes?
As gafes - onde?
Gafes - onde?
Onde... Gafe?
Não existe o "onde" ga-fectivo! Existe o verbo
"defectivo" - Latir é um deles: não existe a primeira pessoa nele:
"Eu lato"... Óbvio, não sou cachorro.
- Não sabia que não existia!
(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE OUTUBRO DE 2017)
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