#AFORISMO 274/VIAGEM DO NADA AO VAZIO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Há-de existir ternura, singeleza, carícias nas imagens. Quem nunca
sentiu enorme prazer, alegria, numa viagem con-templar a paisagem? É um prazer
indescritível.
Poesia não é um fazer. Nem o fazer do dis-curso nem o fazer da língua
nem o fazer da gramática e suas trans-formações. É um con-sentir-se enviar pela
Linguagem na viagem das vias de uma paisagem. O envio é o avio da Linguagem.
Con-sintamo-nos viajar na viagem do nada ao Vazio, con-templando a paisagem do
horizonte, do uni-verso. Somos enviados ao In-finito. Deixar a viagem ser este
envio por todas as vias da paisagem é a poesia dos viajantes.
Viagem não é apenas modo de conhecer os componentes de um espaço, mas
modo de dar unidade às partes aparentemente soltas do conjunto. Maneira de
estender um espaço até o outro e de envolver os tempos diversos num mesmo
complexo. Viajante é a soma de todos os seus caminhos. As fronteiras, ele as
cria e re-cria de acordo com sua capacidade de movimentação
O poeta nesta viagem ao In-finito deve re-colher o discurso da liberdade
da paisagem, liberdade sensível, deixar a paisagem se expressar livre, dizer-se
espontaneamente. Assim, re-colhendo o discurso, deixa a paisagem vir a si
própria na Linguagem. O poeta não vai além, não ultrapassa, mas se re-colhe no
que escolhe. Só colhido pela Linguagem é que a verdade da paisagem o faz
a-colher o dis-curso na poesia. Ser poeta não é construir um outro discurso ao
lado ou além ou aquém das estruturas narrativas de uma gramática fundamental. É
restituir peso ao dis-curso da língua na gravidade da Linguagem.
O poeta é poeta por des-cobrir-se tão imerso no mistério da Linguagem
que toda a poesia, sendo a impossibilidade de falar sobre a Linguagem, o leva a
sentir nesta impossibilidade a Linguagem de toda poesia. A Linguagem é ela
mesma. Ser ela mesma é re-colher sempre o viajante na viagem da impossibilidade
de discursar sobre a Linguagem. Deixar-se colher pelo re-colher da Linguagem
torna o viajante poeta nas vias da paisagem. É o pensamento precursor que
descobre o espaço de jogo onde o poeta re-encontra na língua e na gramática de
seus discursos a poesia da Linguagem. Ser todo pre-cursor é, pois, a própria
essência do pensamento poético na terra linguística.
Nesta viagem do nada ao In-finito, sendo enviado pela Linguagem às vias
da paisagem, ouço música, con-templando a paisagem do horizonte, do uni-verso,
re-colhendo em mim o dis-curso da liberdade da paisagem.
(**RIO DE JANEIRO**, 16 DE OUTUBRO DE 2017)
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