#AFORISMO 272/ÁGUAS REVESTIDAS DE LUZES E MAGIAS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Há certa intensidade de clímax que o homem mal pode ultrapassar, e não
sem umedecer os olhos, não sem sensibilizar a alma de desejos do
instante-limite do além, re-vestido de verbos, inspirando o silêncio. Para
apreciar qualquer fino gole d’água, a goela hei de encher, beber até fartar,
saciar-me a sede verdadeiramente real dos sentidos, sentimentos do amor pleno
de entregas e doações, da sensibilidade de amar as emoções do verbo
in-trans-itivo de vivenciar a plen-itude do ex-tase do sonho.
Aqui, a água, que segue o rio sem margens, medita e vive poderosa e
satisfeita, o passado se re-torce e se torna mínimo, o presente emoldura de
imagens distantes a cintilância de luzes, tecendo a eternidade de magias e
mistérios. Com prazer, bebo em honra ao sonho, ao desejo, à liberdade, aqui as
águas são boas de verdade. Os termos vagam sobre onda que, de hesitados e
tumultuados, ficam indecisos.
O vento bate e espalha os meus cabelos, um ser que brinca – não estou só
nesta praia deserta, não me sinto vazio nesta areia a receber as ondas do mar –
antes de fazer uma estapafúrdia com todos os naipes escondidos. Desejo sair de
mim mesmo para o universo no sentido de des-cobrir o ser. Procuro um bom copo,
é hora de brindar...
Bela nascente aflora em realidade. Palavra e imagem a mudarem os matizes
de ser do habitante da concha de pedra que conserva sua própria água e se abre.
Falsos sentidos e lugar. Estão aqui e a variar, estão lá e acolá a des-variar.
O meu "ser" cont-empla o arco-íris que colore o céu - cor da
vida, cor do amor, cor do desejo, cor do sonho, cor da esperança, cor da fé,
cor do eterno, absoluto. Mergulha profundo no horizonte de outros idílios
iluminando os êxtases, volúpias brilhando de glórias, fantasias tecendo de
alegrias o vir-a-ser do Verbo Amar.
Realidades simples a-nunciando a verdade que frutifica a árvore, cuja
perspectiva e expectativa é alimentar e saciar os desejos.
Quimeras que regam de águas divinas os mistérios, enigmas do tempo e
busca do Ser. Sente no uni-verso de suas buscas e querências a pó-ética do Amor
que ilumina os Verbos, quando no mundo fenece o silvestre do espírito, a
essência da Verdade que eleva a alma aos auspícios da montanha onde o rio
corre, per-corre, in-corre, re-fazendo sendas, criando veredas, rumo ao
infinito do mar, a "eidos" do Absoluto que evangeliza, espiritualiza
de seren-itude as etern-itudes do clímax divino, da divin-idade do gozo.
Verbaliza a musicalidade do cântico dos cânticos, a melodia das canções
folclóricas da natureza em harmonia com a beleza mágica da vida, o ritmo das
líricas românticas que recitam o verbo-de-amar com os sentimentos lúdicos do
pleno e do eterno, re-fazendo de sendas o horizonte das esperanças, de atalhos
o infinito da fé no há-de vir, de trilhas os confins do desejo de presença da
solidariedade, compaixão, amizade re-nascendo de cinzas o éden de flores e
lilases na estética dos poetas sonhadores, na beleza das letras que compõem de
linhas, entre-linhas e além-linhas o outro da alma sedenta de lirismo criando
de utopias a ética do amor em harmonia, sincronia, sintonia com a rosa azul com
que os boêmios declamam a etern-itude des-abrochando no peito dos homens
espiritualidade da entrega ao Verbo-[às]-Esperanças da Vida Eterna.
Os significados dissipam-se, perdendo o ânimo, que, de voláteis e
inflamáveis, desmaiam, manifestando por processo exterior a descrição minuciosa
e fiel de uma extravagância. Os sentidos evolam-se, deixando os recursos, que,
de intensos e flamejantes, cochilam, re-velando a mudez e o som numa narração
sublime e leal de uma estupidez e inocência, de uma in-solência e in-ferno.
Penso poderia estar alhures. De mim já se afastou a última esperança.
Acaso a natureza ou nobre alma agora um bálsamo não têm, que me traga bonança?
Por vezes, não sinto limites no corpo. Con-templo ora o sorriso cínico e
irônico, revelando rebeldia e meditação acerca de o cristianismo com-templar a
morte e não a vida, dizendo-me da melancolia e nostalgia. Ponho em nível de
suas sensações as extremidades algo longínquas das mais nobres emoções. Imagino
estar algures.
(**RIO DE JANEIRO**, 15 DE OUTUBRO DE 2017)
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