#AFORISMO 314/{E O SONO CEIFA DEVAGAR}# - PINTURA: Graça Fontis/AFORISMO: Manoel Ferreira Neto
Con-templo a terra de céu sem nuvens, de nuvens sem
céu. Espero o amanhã para outras idéias, pensamentos que me in-diquem as
poeiras da metafísica, efêmeras e etéreas, as fumaças da antropofagia, da carne
viva, da antropologia da passagem, travessia do ser ao conhecimento, da cultura
à consciência, do nada de trevas à luz do nada.
Persuasivas as idéias, pervago solene e sereno ao
entardecer, distante, disperso, deixado de ser avatar, uma vez que se dissolve
na multiplicidade, polifonia, possibilidade outra de re-novação, re-nascença,
in-ovação, re-colhendo e a-colhendo as experiências, dialécticas e
contradições, de tudo fica um pouco. Sob as ondas ritmadas, sob os ventos,
pontes. E sob o sarcasmo, a gosma, o vômito, soluço do cárcere, o sabre de
folha larga e recurvada que sonho, {e sono ceifa devagar}, mal se desenha,
fino, ante a falange das nuvens olvidadas de passar.
Para o que há-de ser, há-de vir, para o que há-de
se perder, para o encontro de outras metas e rumos, outras labutas e
dificuldades, para a construção de valores e virtudes eternos à luz da
espiritualidade, de outros propósitos e interesses, na rarefação de mim, o
tempo salta para além, na música de outrora, tudo se re-vela e acontece, nada
se manifesta e morre.
No solo ardente, trincado, porções de minh´alma,
momentos de felicidade, ao seu estilo e linguagem, instantes de
questionamentos, angústias, agonias, tristezas, nunca d´antes mais aferidos em
sua nobreza sem frutos. No tempo e fora dele, irreversívelmente, sinal de
decepção que vai se con-sumindo a ponto de con-verter-se em signo de beleza no
rosto de alguém.
Do belo
Da vida que imita a arte
Sabedoria
Da arte que imita a vida,
Estesia
Da criação e re-criação
Das dimensões da contingência,
Conhecimento
Do bem e da verdade,
Bem que enaltece e liberta
A alma de suas correntes e algemas,
Verdade que eleva o
Ser e o não-ser
Ao espírito da vida,
Consciência estética
Do espírito e transcendência
Visão ética e moral,
Além das situações
Do efêmero e perene,
Aquém das travessias
Das tristezas à felicidade!
Voz de entonações, sinfonias, harmonias na
querência da vida/ec-sistência que se faz, que se a-nuncia, que se re-vela na
passagem sem pressa dos ponteiros do relógio do tempo, contradições e
contra-sensos da história, vivências e experiências de re-nascentes luzes de
novas posturas éticas e morais, novas visões artísticas e filosóficas, nas
re-nascências das imagens do pleno e sublime, idílios e quimeras do sonho-verso
do eterno, da utopia-verbo da inocência, do in-fini-itivo-sorrelfa da
ingenuidade, ser-tao do amar-verbo de buscas trans-itivas, da cáritas-estrofes
de querências in-transitivas, onde as pers-pectivas da imagem nascem das
esperanças, florescem de conquistas e infortúnios, transformam-se de
felicidades e prazeres - os cânticos serenos, suaves do amor re-fletidos
originam-se no espelho dos sentimentos divinos, são concebidos no olhar
perspicaz que os a-lumbra no itinerário das intuições de suas perspectivas de
encontros e alegrias.
Voz de liberdade, concebida no silêncio de sentir o
que profundo habita os interstícios da alma, de con-templar o que habita o
sentimento do silêncio, gerada na solidão de ser-me, ouvindo o ser em mim,
buscando a verdade intrínseca ao estilo e linguagem do estar-sendo, que se
manifesta espontaneamente, deixando-me extasiado, não pensava que fosse ouvi-la
tão límpida, fosse vivê-la de modo tão presente, tão forte, chegando quase a
gritar “Meu Deus, sou livre! Sinto a liberdade em mim”, lembrando-me de na
juventude ser defensor ímpio da liberdade, sem saber em verdade o que ela é, o
que significa na vida, ilusões e quimeras de um estudante de filosofia, não
havendo quem não ouça a minha voz em todo mundo. Não o faço, contudo, vivê-la é
o mais importante.
Voz de músicas, cânticos e baladas, canções que
elevam as idéias, ideais ao cume do por-vir, aos auspícios do por-ser, por
serem os liames que id-ent-ificam o ser-tao da sabedoria, conhecimento.
Descortina-se um horizonte amplo, a abranger em um clima de tolerância uma
grande di-versidade. Os sons das línguas mais divulgadas mesclam-se em surdina,
melodias e musicalidades das palavras mais sonhadas, seus sentidos tornem-se
realidades insofismáveis, adiram-se em murmúrios e sussurros, para esquentarem
a altissonância das metáforas do perene, silepses do efêmero e mortal. O
uni-versal traje de noite, um uniforme de civilidade, reduz exteriormente a
di-versidade humana a uma unidade decorosa.
(**RIO DE JANEIRO**, 24 DE AGOSTO DE 2017)
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