ERGUIDO ALGURES, DENTRE AS TERRAS LAVRADAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
EPÍGRAFE:
Estão por ai
cantando, declamando, recitando, impingindo regras e leis de como realizar uma
EPÍGRAFE. A isto respondo: "A epígrafe é minha, realizo-a como melhor me
aprouver."
O Louvor e a
Glória à Vida por que grito são meus, habitam-me a "humanidade do
ser" O que importa se não aceites, ad-mitidos, con-sentidos. Cumpro a
minha Responsabilidade e Liberdade de Expressá-los livremente."(Manoel
Ferreira Neto)
Aroma
incerto no vento, canto erguido algures dentre as terras lavradas, dentre os
pastos de capim seco, luz que sobe de além da montanha, dentre as montanhas
separadas à distância, o mar esplendendo-se ao in-finito, um raio de sol
irisando a poeira suspensa na metafísica das misérias e pobrezas, no abstrato
das fomes e sedes seculares, no solipsismo das angústias e tragédias fugazes e
eternas, nas metáforas de Paz e Guerra alimentando unicamente o poder, são a
súbita re-velação de uma realidade perdida, de um tempo perdido, e jamais
reencontrados ou referenciados, porque são só apelos, vozes inaudíveis,
derradeira origem do mundo original, profundeza sem fundo, abertura ao vazio,
limite do ilimitado índice que está para lá de todos os índices, de todas as cláusulas
e parágrafos ilícitos, de todas as constituições ilícitas e jurídicas, se
a-nunciam em mim pela pura suspensão, um ouvido atento e nenhum rumor, um olhar
incerto que procura o que não há, o que não ec-siste nem algures, um recuo
brusco para além de tudo o que é referenciável, representável, a-nunciável, um
questionamento que não duvida de sua razão, uma cegueira trans-lúcida de uns
olhos opacos e abertos, uma interrogação que não interroga, um encantamento de
nada, uma ad-vertência, aviso de nada. De um modo, linguagem e estilo ternos e
carinhosos, disseram-me a plenos pulmões: " - Vou costurar estes olhinhos.
Precisam de descanso."
Ouço-os de
novo a esses cânticos anônimos que sobem das regas algures, em parte alguma,
como voz da própria terra, como sussurros e murmúrios de suas cavernas, buracos
e grutas, como lamúrias de suas próprias entranhas rasas e profundas, eu as
revejo a essas luas enormes na ascensão majestosa de uma noite quente de Verão,
sensação térmica de 50 graus, eu os sinto ainda a esses aromas no vento e que
aspiro ainda de narinas dilatadas para que a sua realidade entre em mim e eles
sejam reais, que os possa sentir e deliciar-me com eles. E um trêmulo a-núncio
fala nas origens do meu ser, de minha obra, de meus desejos e vontades de
realizá-los com perfeição e apreço, no que os trans-cende e assoma no ilimitado
de mim.
Voz obscura
de uma alegria obscura, vértice de um encontro comigo, ó realidade perdida,
imagem desvanecida no horizonte dos horizontes, voz submersa a todas as vozes,
e que fala ainda quando elas se calam e eu ouço sem ouvir, e se a-nuncia quando
tudo se esgotou, e bate obliquamente como pancada leve no ombro, e que se abre
além da hora mais longínqua como uma varanda, e que irradia ainda de impossível
para além de todos os possíveis, e que recusa todas as razões para ser e é
ainda, e que inicia a minha vida onde ainda não há início, memória de um tempo
antes do tempo, de um começo antes de seu verdadeiro início na origem dos
segundos e milésimos deles, do lugar do meu nascimento verdadeiro, sede e
princípio de divindade que ainda não se corroeu. Eis porque a minha saudade a
re-conhece a essa origem absoluta que não é sequer “memória do céu”, porque o
próprio céu é já uma explicação desta voz mais antiga do que ele, é já uma
concretização, ainda que para lá do mundo, de um apelo que vem de além do
mundo, de além de todas as possibilidades de sua ec-sistência, do aquém de
todas as alternativas de minha historicidade e historial-idade.
Já não viso
o além. Como é belo o mundo, para quem o olha, ingênua e simplesmente, sem nada
procurar nele, sem nada desejar dele, sem saber o que o habita ou não. Como são
esplendorosos os astros e a lua, os arroios e as ribeiras, as florestas e os
abismos, o porco e a anta, a flor e o bem-te-vi, o sol e as estrelas, o casal
que entrecruza os braços num tim-tim de vinho em taça de cristal, comemorando
aniversário de namoro, de casado, de ficado, bodas de prata, de ouro...! É
prazeroso e ameno passear pelo mundo, perambular pela cidade, na sombra de por
baixo das árvores, no sol escaldante, atravessando as ruas e avenidas do mundo,
imaginariamente, contingentemente, de modo, estilo e linguagem suaves, como
quem acabasse de despertar e se abrisse a tudo quanto o rodeasse, a tudo que se
lhe a-nuncia de espiritual e sensível, além da contingência, sem a menor
hesitação, sorrindo de tranqüilidade, apenas curtindo a natureza, e mesmo os
inúmeros terrenos baldios espalhados por toda a cidade, apenas sentindo as
sensações de prazer por estar vivo, por ser vida, por sonhar com a esplendidade
das esperanças e fé mística de meu povo.
Não, não é a
pintura retratando, re-presentando a guerra.
É o retrato
da própria terra,
Que se
dizima em violência, injustiça, desumanidade,
No confronto
de irmão contra irmão.
É um combate
por "nada",
A deus-dará,
à mercê do vazio dos princípios morais e éticos,
Das nonadas
da fé e da esperança sustentadas de dogmas,
Preceitos,
Princípios,
Das
dimensões sensíveis,
Da
consciência dos valores e virtudes,
Seja dia,
seja noite,
Entardecer
ou alvorada
Que
virtudes, valores éticos e morais
Trans-cendem
a Vida.
Diante da
humanidade, cada um dos indivíduos
Somos Vida,
e ela precisa e deve ser respeitada!
Não, não
esculturas animadas,
Apesar da
similaridade.
São
mulheres, velhos e crianças
Que jazem
sob as pontes, nas calçadas de avenidas e ruas,
Malroupidos,
desigiênicos,
Esfomeados,
sem horizontes,
Presidente
recusando que seu país
Abrigue
refugiados,
Corruptos
levando o povo à miséria, fome e sede,
Presidente
Acendendo a
Guerra da Lei e da Bandidagem,
Inocentes
morrendo...
A vida deve
ser extinta...
Não, não
caricaturas que representam
Sentimentos,
emoções, ideais, sonhos, esperanças,
O que
perpassa o íntimo nas travessias dos desejos aos sonhos
Idéias de
uma obra-prima de artista,
São
caricaturas que pres-ent-ificam
A pedra
angular do que transcende a alma,
Contingências,
essências...
Não se trata
de pintura barroca.
É o morro, é
a favela,
Onde a
miséria está na boca, na barriga,
no sexo, na
mente.
Perguntam:
"Quê país é este?"
- Só num
país existem a miséria, a mediocridade, hipocrisia, o desrespeito e
desumanidade à Vida? Quê mundo é este?
#RIODEJANEIRO#,
03 DE FEVEREIRO DE 2019#
Comentários
Postar um comentário