AO LONGO DA ORLA MARÍTIMA GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA
Solenes
indícios de pormenores, inda que esparsos, ad-versos
De
sentimentos cujos silêncios re-fletem a alma livre,
Serenas
alegrias, suaves felicidades, ou, diria melhor,
Re-velam
outras dimensões de olhar as coisas do mundo
Sem
indagar-lhes, perquirir-lhes, mister saber-lhes,
O que
inspiram a deixar-me à vontade, simplesmente
Vendo
paisagem, perscrutando panoramas, horizontes,
Sobretudo ao
anoitecer à beira-mar, clima ameno pós chuva
Vespertina,
nada mais confortável, sensações fluem,
Idéias
frescas jorram soltas,
Quase nem
havendo tempo de verbalizá-las, o que desperta
Dispersão,
alheamento, pés nas nuvens brancas.
Contudo...
Amaria voluptuosamente curtir este instant,
Inda me não
é dado fazê-lo, quiçá por "curtir" ser termo vulgar
Frente ao
sentido que a pós-modernidade atribui-lhe
Vem-me a
necessidade manifesta de re-fletir o que me traz
À solidão
para a vida, alfim esta abre-lhe os braços,
Símbolo,
signo de acolhimento, é-lhe sêmen para as utopias,
Momento de
transformações
Sinto, inda
que distante, a presença não de alegrias breves
Que se
esvaecem de imediato, mas se alongam infinitivamente
Re-novando-se,
inovando-se, a liberdade íntima afora-se
Na floração
dos desejos, sonhos da verdade,
Isto queria
com volúpias, mister esperar
Sem
exigências e tensões acontecer,
Agora é
vivenciá-la na quotidianidade das coisas,
Situações e
circunstâncias, devorá-la com êxtase, saboreá-la.
Templos de
verbos defectivos a regenciarem conjugações
Que fluem
intuições e percepções,
“A reflexão
é o drama do ser que
Não pode ser
objeto para si mesmo",
De
sensibilizar as emoções que criam inventam
Sonhos que
despertam conhecimentos outros,
De loucuras
de uma paixão por gerenciar
Passos e
trilhas para a metafísica do efêmero,
Aventura do
tempo a reverberar medos e indefinições,
Da fronteira
que se abre ao finito...
Tabacaria de
pensamentos solitários que id-ent-ificam
Desejos e
vontades saciar a sede de poesia
Por que
tabacaria lembra a apoteose do nada sou, nada ser
Brilhando a
arte de encantar, apesar das contingências,
Embora as
náuseas do presente,
Havendo
esperanças de prismas outros,
Ângulos
inusitados de senti-la plena?
Passaram-se
as gerações de elucubrar os sóis a brilharem
Nos recantos
re-cônditos das ilusões fantasias,
Sombras nas
calçadas a levarem ruas a fora
Dúvidas,
incertezas, questionamentos do sentido de existir
Passaram-se
as épocas de delinear
As querenças
da consciência
Em proclamar
as condutas e posturas da virtude,
Valores
éticos escafederam-se, as imagens que a a-nunciavam
Perderam-se
no infinito das águas cristalinas,
As ondas
diminuíram-se, leves esparramam-se na praia.
Nada restam
senão vislumbrar os vazios da alma,
Silêncios
que emanam sons a repercutirem ritmos, melodias,
Ventos
fortes passando rumo aos
Corcovados
perdidos alhures,
Alhures dos
panoramas carentes de silhuetas do eterno,
Passaram-se
as fissuras, ansiedades, desesperos
De a
eternidade ser a presença lídima e incólume
Dos tristes
trópicos, das palavras e coisas,
Dos milagres
e heresias,
De preencher
as esperanças deixadas, largadas ao léu
De
pretéritas e subjuntivas insolências, rebeldias,
Sinto muito,
tempo de re-considerar as visões
Com os
linces dos instintos enamorados
Das carícias
intelectuais, gnósticas,
Quiça
re-vertendo as in-versões do logus e gnoses,
Risível,
cômico, beirando as raias da loucura, alucinação,
Poetas,
escritores e filósofos vangloriam-se por rezarem
Na cartilha
do senso e saúde mental,
Re-colhem-se
as dimensões sensíveis,
Resta o nada
vazio de sonhos,
Talvez
ad-versando as versões múltiplas da vida e morte,
A solidão se
agiganta dentro de mim, o meu interior
Sente a
ausência do presente indicativo dos verbos
Que
descrevem, inscrevem a sede de cascatas
De águas
cristalinas,
Metáforas
acessorando as palavras com significados perenes,
Até parece
que as linguísticas, semânticas exilaram-se
Das poesias
que encantavam falências, lapsos de sentimentos
Eivados de
amor, entrega doação,
Agora só
gerenciando manque-d´êtres e forclusions,
A vida-nada
existe, nada existe a vida,
Além do bem
e do mal,
Aquém das
considerações intempestivas,
Metafísicas
vazias da luz e contra-luz
Linguagens e
estilos alucinando imagens com fluxos
Inconscientes
das divinas comédias da História
E das
Dialécticas, e nada mais resta senão
A língua
inerte, nenhuma flor no seu lácio de pronúncia...
Ah, solenes
indícios de pormenores
Deste
momento de lazer,
Sentado de
por baixo de uma palmeira,
Popeyanos
banhando-se nas águas do mar, deitados na areia,
Pondo os
assuntos em dia,
Vento suave,
sol de tostar o corpo, legando-lhe um bronzeado,
Buscando
reter o que se me anuncia
N´alma que
possa ser compreensão e entendimento
De ausências
que iluminam sonhos de sóis que aquecem
O vazio-nada
das perquirições perenes do tempo...
Só ao longo
da orla marítima é-se possível
A eternidade
dos instantes-limites.
#RIO DE
JANEIRO#, 22 DE FEVEREIRO DE 2019#
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