#ABECEDÁRIO METAFÍSICO DO VAZIO E DO NADA# GRAÇA FONTIS: GRAVURA Manoel Ferreira Neto: POEMA
Aquele
desejo inominável, inaudito
A
criatividade acender a vela de algo inédito,
Ninguém
jamais o haja ao menos imaginado inconsciente,
Não havido
inda por longo tempo
Creio ser o
instante-limite de realizá-lo,
Aquela
vontade indescritível o engenho, arte acompanhem-me.
Bem-aventurada
a liberdade sobre as coisas
Que os
ideais exigem,
Existe o que
me silencia a voz
Se
pretéritos de dúvidas e incertezas,
Penso os
infinitos dos verbos
Que
concebem, geram, concedem a vida...
Casa-do-ser
onde sentir-me confortável, desfrutando
De todas as
condições de perscrutar a vida que me habita,
A existência
que precede a essência,
Saber-me no
mundo, pisoteando poeiras, cascalhos, pedras,
Palmilhando
campos, chapadão...
Perscrutar
os subterrâneos da alma, arrancar-lhes o perdido.
Deduzir
posso de palavras, pensamentos, idéias,
O que
estranho demais seja por não admitir este verbo,
Não falo
daquilo que coloca acima de todas as coisas,
De toda
ciência,
Da verdade
re-velada e da eterna salvação da alma,
O que são a
joia, orgulho, entretenimento, garantia da vida.
Ergo as mãos
à soleira da montanha,
Etiquetas,
princípios, à esquerda de ideais,
Às
re-versas, in-versas imagens, perspectivas, contra-luzes
Da
liberdade, escravidão, alienação, loucura mansa,
Consumam
preceitos, dogmas, idôneos cogitos,
À mercê de
jogos estrambóticos arrancando calafrios.
Fazer o quê?
- seria percuciente a perquirição
Falácias
escorreitas deslizam dos becos,
Bohêmios
dedilham cordas de agonias, desesperos,
Idílios
fecundam obséquios obtusos, que recompensas
Esplendorosas
por tanta finesse concedida,
Quimeras
febundam a liberdade dos sonhos.
Grunhem os
porcos nas madrugadas de lua cheia,
Desespero
zera de vírgulas, interrogações
Sobre o que
explica o porco ser um animal tão sujo,
A sujeira é
a sua identidade,
Nas
tabernas, cantinas, bares e botequins, quiosques
Tessituras a
erupirem imagens corrompendo visões...
Húmus de
terços dispersados de compadecidos
De sorrisos
passageiros, tristezas contínuas,
Retalhos de
seda envelam o anoitecer,
Na alforje o
que silencia o resto das cogitações,
Para me
sentir inteiro, alfim mister sê-lo,
Reverso as
razões de afogar mistérios, temores, tremores.
Id, ego,
superego,
O som das
vozes é plausível de notas e melodias,
A poesia
basta, preenche os vazios de nada,
Esvaecem-se
forclusions e manque-d´êtres,
Vazios
cobertos de neblinas e garoas,
O sorriso
tem um "S" que carece de acertar-lhe o sotaque.
Já-já o
ponteiro do relógio a-nunciará outra hora,
A ampulheta
acaba de se virar, recomeça a passagem da areia,
As folhas
das palmeiras indicam que a chuva está vindo
Do alto mar
para a ilha,
Sêmens e
vestígios artificiam as tecituras de ventos
Que agitam
as águas do mar, redemoinham poeiras.
Kayros... O
tédio é aquela insuportável, intolerável
Calmaria da
alma, que precede a viagem feliz
E os ventos
alegres, alvissareiros,
Tempo
oportuno de in-vestigar o "abecedário",
Afugentar o
tédio de qualquer modo é vil, viperino,
Tédio
tornou-se cultura, para manter a criatividade sob controle.
Lâminas
afiadas cortam de sinistros mistérios
Carências,
inseguranças, medos,
Há uma mola
ceifada em mim dentro, bradando,
Posso mover
os olhos, mas não a cabeça,
Dir-se-ia
estar ela apenas pousada no pescoço,
Se a giro,
deixo-a cair.
Memórias
sarapalhadas por todos os cantos e sítios
Reuni-las,
comungá-las, aderi-las,
Não desejo,
não quero, não intenciono pensar
O que as
memórias significam, identificam,
Sou porque
não quero pensar as memórias,
Penso que
eu... por que... bah!
Nada a
espreitar-me de esguelha,
Quiça
querendo saber as intropecções, circunspecções,
Talvez
mostrar-me estar perquirindo o que me habita,
Arrancar-me
as volúpias, êxtases, alfim a alma
Verte
lágrimas pujantes por não admitir a morte,
A vida andam
de mãos dadas: nasce-se, morre-se sem nada.
Oráculos
decifrem-me as culpas, remorsos,
Revelem os meus
sacrifícios, minhas penas
Por pecar
contra a santidade das dores, sofrimentos,
Abóboras das
sorrelfas e desvarios do eterno/eternidade
Nas mãos
vazias de sementes, frutos dos inauditos sentimentos
Das sagas
originárias das intemperanças e inquietudes.
Pers de
pectivas de risíveis amores
Solsticiam
de fantasias e imaginações férteis
Prazeres,
felicidade, alegria,
Ao invés de
alçar voos por picos e colinas,
Apraz-me
andar nos dormentes da linha férrea,
Andarilho de
tragédias da sabedoria e conhecimento.
Querenças
ambíguas, dúbias do que não existe
A
complementar as regências e gerências
Das
metafísicas que contingenciam o nada,
Das
metáforas que despertam o espírito,
Ascendem o
vazio às antípodas da verdade,
E todas as
in-verdades esparramadas na mesa.
Reter-me
geográfica e animicamente
Numa
paisagem vocabular,
Se o lugar
realça o ser que nele se encontra,
Este por sua
vez atribui ao lugar
Em que se
encontra alguma coisa
De sua
própria individualidade.
Sonhos
abraçam esperanças,
Esperanças
acolhem no peito a liberdade em questão,
Os velhos
mortos cedam lugar aos novos mortos,
Nihil sub
sole novum,
Lácios de
erudição latinizam os verbos do efêmero
Os adjetivos
do compulsório.
Turvas águas
ziguezagueando os caminhos do bosque,
Recuso as
ilhas imaginárias,
Deflagro
sentimentos metafísicos no sujeito
Que me
habita,
As
metafísicas tem necessidade de uma cartografia,
Para serem
compreendidas plenamente.
Uni-versam
intelecto e sensíveis perquirições
Mantras do
sublime, aguçando inda mais
As sagácias
contidas,
E no ranger
de vozes reverbero todos os prazeres
As palavras
concedem ao dedicar-lhes amizade,
O acaso
imperativo tenta abater os sonhos.
Verto
lágrimas por con-templar a chuva que cai no mar
O vento
agitando-lhes as águas,
Congruência
de pensamentos e emoções
Serpenteia
densas nuvens a placidez do olhar
Onde as
palavras caem
E do balcão
do quiosque a vontade do perpétuo impera.
Xis, eis a
questão posta em evidência:
Ser-me-ia
possível lidar com a consciência pesada
Do que com a
má reputação,
Quanto mais
embotado o olhar,
Tanto mais
distante é o alcance do bem,
A sensação
de haver passado ao reino do bem produz agitação.
Yalas
seduzem ideais eivados de futurais sentimentos,
Bolinam
utopias seivadas de cânticos de coruja,
Uivos de
lobos nas estepes,
Deveria eu
ruminar altissonante as ausências, faltas, falhas,
Desgostoso
dos grandes pensadores,
Ligado à
melancolia, nostalgia, saudade do inda por vir?
Zunidos
ausculto,
Quiça por as
intenções de tornar-me a chuva,
O vento não
haverem sido realizadas,
O abecedário
metafísico do vazio e nada
Ser o que me
fora possível,
Tarde
chuvosa à beira-mar...
#RIODEJANEIRO#,
18 DE FEVEREIRO DE 2019#
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