**ENTRE OS AFAGOS DE MUSAS** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Epígrafe:
"O
nonsense é a luz do supremo valor da Sabedoria"(Manoel Ferreira Neto)
: vazio –
este que me habita, este que me é, que lhe sou, de cujas teias desejo
desvencilhar-me, havendo o que me impedir de realizar esta estranha façanha,
dizer com todas as virgulas, dois pontos, hífen, algo que não fora possível
perceber em primeva contemplação, em primitiva revez de antemãos, então o que
me resta são imagens do que me habita espiritual e poeticamente, o nada, este
que me acompanha desde tempos imemoriais...
decidi-me
entre os afagos de musas, os cumprimentos do tempo, adeus dos sonhos, iniciar
outro parágrafo com os recursos que para mim criei a fim não de justificar as
quimeras e as fantasias, soube eu traduzi-las, tornei-as águas que me saciam a
sede por algum tempo, ínfimo sei-o eu, mas é assim que me realizo com o pouco
que se me revela ao espírito
- sendo isto
me habita inteiro, e por vezes, tentando-me desvencilhar de tantos mistérios
que me povoam, sou ainda capaz de criar ou inventar outro, ou simplesmente
deixar de criar e inventar, dizendo vez por todas o que me perpassa o espírito,
as dores que me acompanham, os sofrimentos que busco levar comigo através de
cada passo dado, continuando a caminhar sem limites e fronteiras, e a ponto e
natureza descobrir que muito pouco fora ainda andado, há outros caminhos,
através de alamedas e becos, há outras emoções e sentimentos a serem sentidos,
sendo verdade, não apenas criação de um espírito que no instante se encontra
diante de sua reflexão a respeito do silêncio que lhe habita, da vontade de
verbos que saciem a fome, de outras construções que a sede sacie e a cada gole
a possibilidade de outras fontes, águas jorrando simples e acompanhadas de uma
música, a de sua revelação e a do instante em que cai no mesmo lugar, abrindo
caminhos para a continuidade...
não me
entregar a emoções e sentimentos que se anunciam inda em primeva revelação,
manifestação, e por isto disse a mim que apenas registrasse as palavras
seguindo o fluxo de algumas emoções que se mostram leves, de uma leveza sem
frios nem invernos que a cubram de desejos de poesias, flores que a ornamente,
dando-lhe um caráter ingênuo e inocente, e toda a busca fosse primeiro entender
esta imagem que se me apresentou ao espírito, e, ouvindo música sendo executada
e interpretada por um vocalista, podendo imaginar os seus gestos e atitudes em
dança com os desejos e vontades que habitam o íntimo, e só a vida irá tornar
possível o encontro e o desencontro, outro passo distante do longínquo
imaginado
não sabendo
sobre o que desejo e imagino poder dizer com únicas palavras, se contar as
sílabas de todas, saberei que nada fora registrado, e nada diz coisa com coisa,
não sendo esta a intenção, embora saiba que intenção alguma há, e, havendo,
tudo serão criações e invenções de linguagens outras que intencionam mostrar o
íntimo em frangalhos, o desejo de estar dizendo algo que ultrapasse as letras,
desconhecendo as entrelinhas, além das linhas, onde me encontro em verdade,
nada havendo que me liberte das teias que desde há muito tomou-me inteiro, não
pude desvencilhar-me, entreguei-me
o que me
assusta um pouco por saber como se torna possível reunir o que nem na
imaginação se torna de algum modo o lance decisivo para que algo do espírito
seja revelado, sem as artimanhas, o desejo de haver algo que justifique e
explique os enganos e arbitrariedades, a vontade de mostrar o que habita
poeticamente a alma, o espírito
e toda a
luta, entrega, medos e temores, acompanhados de fugas e ousadias, numa espera
sem fim, e tudo o que resta outra coisa não é senão a possibilidade de uma
linguagem, até que ela se mostre completa e absoluta, mudando os rumos da vida:
aquilo de apertar a tecla e tudo o mais está realizado, faltava apenas a
ousadia de apertar o botão,
a bomba do
tempo explodindo, aeiou, féretro, feto, preciso de amor, de carinho, de poder
entender o porquê desta música agora poder revelar sentimentos outros próximos
do que sinto e penso, do que penso em sentir, sinto pensar em mim, e tudo o
mais se me apresenta difícil, impossível, senão em outras situações adversas ao
quotidiano das fantasias e quimeras, isto de tirar o chapéu, curvar-se diante
das situações e circunstâncias
- nada
havendo de mais prazeroso senão isto de brincar de nada dizer com a
engenhosidade e arte de seguir o fluxo da consciência, às vezes contrariando em
absoluto os princípios da linguagem e estilo eruditos, criando imagens que só
com muito intuição se pode investigar o que porventura possa significar, se é
que signifiquem alguma coisa, mas que dizem
de algum
modo não estar enganado quanto ao fato de agora nada haver em mim que indique
verossimilhança com algo que está ao meu lado, negligencio, recuso, em nome do
que não saberia explicar, e, se me pusesse a tentar fazê-lo, creio, a
explicação se me revelaria à esguelha, de soslaio aos desejos e sonhos de algo
realizar que me transcenda, diga um pouco o que...
só além das
linhas se poderá ter alguma idéia, isto se considerar uma entrega sem limites à
busca de entendimento e compreensão, o que é absurdo de todo por ninguém estar
disposto a investigar a linguagem e o estilo de alguém, dizer o que dentro
habita a sua alma, o que necessita tanto de saber para dar início a alguma
sabedoria, esta que mostra, apesar das nuances do tempo e das situações a que
ele está sujeito a todo momento, se assim posso dizer, isto sem atrapalhar a
idéia de que não me é dado
saber o que
realmente estou com vontade de dizer, tornar público, e que, daí por diante,
ninguém mais se veja olhando, observando as minhas atitudes, ações, o que nelas
discorda das palavras ditas, escritas, pensadas e imaginações, seguindo as
invenções e criatividades que o dom me dera a possibilidade de buscar
realização ou um fracasso em limites e fronteiras:
brinco com
as palavras, é precisamente isto que mais me realiza quando me entrego a criar
de modo inteiramente inusitado, não havendo qualquer respeito às leis da
escrita, aos limites da criação, e daí nada mais posso dizer que me justifique,
que me indique, embora só eu mesmo sabendo, nada dizendo, nada registrando,
buscando palavras que desmanchem o que de algum modo pode ser intuído e
percebido, cabendo à inteligência estabelecer a sabedoria existente nestas
palavras...
entre os
afagos de musas
#RIODEJANEIRO#,
20 DE FEVEREIRO DE 2019#
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