#DIALÉTICA DA CRIAÇÃO E DO AMOR ENTRE OS DIVINOS TRÊS# (UMA LEITURA DE ‘A SANTÍSSIMA TRINDADE É A MELHOR COMUNIDADE) GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: DISSERTAÇÃO EM TEOLOGIA
II PARTE
B...
Jesus
estende sua amizade até mesmo ao discípulo que chega a ponto de traí-lo.
Chama-o de “amigo”, assegurando-lhe assim que ele ainda continua chamado à
verdadeira amizade. A amizade de Jesus com os oprimidos e os pecadores
restabelece neles a dignidade e assegura-lhes a capacidade de amar. Ensina que
sua amizade mais íntima, a que dedica à sua mãe, abrange também os discípulos
que, por sua vez, hão de conquistar muitos para esse tipo de amizade aberta.
Não existem limites nem fronteiras. É esta a revelação da liberdade absoluta de
Jesus no poder do seu amor.
A amizade
possui um caráter de totalidade, de liberdade, de escolha. Ela é dilectio (de
diligere, “escolher”). O amigo é um escolhido; há liberdade para se dar
preferência, ultrapassando as fronteiras da carne e do sangue. Moltmann
enfatiza a necessidade de se falar mais do amor-amizade, pois que a expressão
“fraterno” parece só incluir as mulheres indiretamente.
Um amigo é
uma pessoa querida para nós (carus, do sentido original de caritas). Existe aqui
um elemento de respeito, de alta valorização, de reverência. Mas há também a
alegria de estar com o amigo. Agostinho diz que a recompensa do amor-amizade é
o próprio amigo.
No amor de
amizade existe uma convicção profunda de que necessitamos da afirmação e do
amor que procedem do outro. Esta espécie de amor-necessidade em nada diminui o
amor-doação. Até Jesus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, dirige a Pedro a
pungente pergunta humana: “Tu me amas?” E, para todos os tempos, esta permanece
como a pergunta central, em torno da qual giram todos os seus apóstolos e
discípulos. Conta-se que Immanuel Kant antes de dar o seu último suspiro, teria
perguntado ao seu criado se ele, Kant, havia feito algum mal a alguém. O criado
disse não. Virou o rosto para um lado.
"Por
causa da Santíssima Trindade,somos convidados a manter relações de comunhão com
todos, dando e recebendo e juntos construindo uma convivência rica, aberta,
respeitadora das diferenças e benéfica para todos".
A comunhão
surge quando o eu-tu se expressam juntos, quando superam o eu e o tu e, unidos,
formam uma relação nova que é o nós. Dizer nós é revelar a comunidade. Ora é
algo parecido com este processo que ocorre na Santíssima Trindade. O Eu pode
ser significado pelo Pai. Este Eu(Pai) suscita um Tu que é o Filho. O filho não
é somente a palavra do Pai. É também a palavra ao Pai. Esta relação surge o
diálogo eterno. Pai(Eu) e Filho(Tu) se unem e revelam o Nós. É o Espírito
Santo. Ele é o nosso Espírito, o Espírito do Pai e do Filho. Aqui temos,
portanto, a união divina, como expressão do relacionamento entre as três
divinas Pessoas.
O amor se
exprime mais especificamente no relacionamento eu-tu-nós quando cada uma das
pessoas é aceita, afirmada e amada como se fosse única e mediante um relacionamento
direto. Os relacionamentos em termos do “nós” aplicam-se melhor a amizades e a
comunidades naturais, como o matrimônio e a família e suas extensões imediatas.
O amor de
Deus, falando-nos diretamente por meio de Jesus Cristo e pela graça do Espírito
Santo, toca o nosso coração. Quando entramos neste diálogo correspondendo a
Deus com o amor de adoração e unindo-nos a ele pelo amor criativo e redentor
aos nossos irmãos, então nós também compreendemos que seu amor e seu zelo
paterno nos falam através de todas as realidades criadas e de toda a história.
Podemos considerar isto como uma espécie de relacionamento em terceira pessoa
que, pela fé, se torna transparente nos relacionamentos tu-eu-nós.
“A pessoa
humana nos oferece uma analogia para entendermos melhor o que queremos dizer
quando falamos dos divinos Três como Pessoas. Em cada existência humana
descobrimos as seguintes relações: sempre há uma relação eu-tu. Nunca o eu está
só. Ele sempre é também eco de um tu que ressoa dentro do eu. O tu é um outro
eu, diverso, aberto ao eu do outro. É nesse jogo de diálogo eu-tu que a pessoa
humana vai construindo sua personalidade” ( A Santíssima Trindade é a Melhor
Trindade, Leonardo Boff)
“Revela-nos
Cristo que a vida divina é comunhão trinitária. Pai, Filho e Espírito vivem em
perfeita intercomunhão de amor, o mistério supremo da unidade. Daqui procede
todo amor e toda comunhão para a grandeza e dignidade da existência humana”
(Documento de Puebla n. 212)
Se a busca,
pelo homem, da sua identidade, da realização das suas possibilidades mais
íntimas, é o problema que comanda toda a antropologia, levanta-se com isto uma
questão religiosa à qual a Cristologia pode dar a resposta. Na forma lapidar de
K. Rahner, toda antropologia é uma "cristologia reduzida" e toda
cristologia é uma antropologia levada ao ponto máximo.
Existe uma
unidade originária entre Cristologia (Cristo) e Pneumatologia (Espírito Santo).
Isso queremos mostrar primeiramente a partir de uma reflexão neotestamentária.
Essa reflexão pode ser resumida em duas proposições: O Jesus carnal (sárquico:
de sarx = carne) era já a presença do Espírito Santo no mundo; o Espírito Santo
na Igreja é já a presença do Cristo pneumático (ressuscitado) no mundo. A essas
duas proposições está latente uma outra, de ordem trinitária, que pode ser
formulada assim: o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, dogma definido
pelo Concílio de Constantinopla 381). Com isso se quer dizer que o Espírito
Santo, por sua origem, tem algo do filho e não só do Pai. Essa afirmação
bastante abstrata contém razões que depois se tornarão mais claras. Passemos
agora a fundamentar essas três proposições.
Em “Ouvintes
da Palavra”, Karl Rahner faz ver que o homem é um ser essencialmente aberto,
que não se fecha nunca sobre si mesmo para dizer a palavra “fim”. Nesta
abertura consiste essencialmente autotranscendência: ele faz com que o homem se
projete sempre para a frente. Porém, para Rahner, não é uma abertura para o
vazio, como havia afirmado o seu mestre Heidegger e nem mesmo é orientada para
um futuro que não se tornará nunca realidade, como acontece nas utopias de
Marcuse e de Bloch, mas é uma abertura que desemboca no Absoluto, o qual é
encontrado como único mistério capaz de saldá-la e fechá-la.
“A essência
da criatura espiritual consiste nisto: o supra-essencial, o que a transcende, é
o elemento que lhe confere estabilidade, significado, futuro e o movimento
último, de modo tal, porém, que a essência da criatura espiritual, que lhe
pertence enquanto tal, não resulta por isso diminuída, mas justamente assim
adquire a sua última validez e consistência e progride”.
#RIODEJANEIRO#,
05 DE FEVEREIRO DE 2019#
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