ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA A PROSA #QUÊ SINUCA DE BICO#
Vida início
da morte... aqui não possuo a mais pálida dúvida... nascemos e começamos a
descontar para a morte... muitos até nem iniciam a vida... na questão de morte
início de vida, pode ser para os fanáticos, para mim é o fim de tudo... somos
apenas pó ou alimento dos bichinhos... uma coisa é permanecermos vivos na
memória de quem nos ama... essa da alma e do espírito não deixa de ser pura
ilusão... e como ainda ninguém veio do inferno ou do dito paraíso dizer que há
outra vida e que até melhor.... balela... prefiro estar porque sei como é...
mas, uma certeza e a única tenho, cá não fico para semente... posso deixar
raízes... mais nada... excelente texto e que dá pano para mangas.
Ana Júlia
Machado
Quê sinuca
de bico, hein, Aninha Júlia! Balela isto de inferno e paraíso... Ninguém voltou
para dizer se existem e como é a vida num deles. Aliás, a verdade que sabemos
em vida é que na morte somos pó ou comida dos bichinhos, eu particularmente
presto uma homenagem ao primeiro bichinho que "roer" "as frias
carnes do meu cadáver", como diz o mestre Machado de Assis - mortos nem
sabemos o que é isto ser pó ou comida dos bichinhos. Prefiro o nada aqui do
mundo, com ele posso deixar lembranças aos amigos e íntimos que me amam,
construir uma obra para de-monstrar que estive no mundo.
Sinuca de
bico mesmo!...
Manoel
Ferreira Neto
**QUÊ SINUCA
DE BICO!**
GRAÇA
FONTIS: PINTURA
Manoel
Ferreira Neto: PROSA
A vida é o
início da morte e a morte é o início da vida.
Chamem isto
de jogo de palavras, de dialética, de antagonismo, de contradição, de
paradoxo... Chamo de despautério sem eira, beira, absurdo sem ad-jacências e
contornos.
A coisa
complica mais ainda. A morte é o fim de tudo. O que resta vai para debaixo da
terra decompor-se, tornar-se cinza. Tudo bem. Aí que começa o "x" da
questão: se levo a vida conforme o figurino do bem, depois da morte, sou
espírito, vou para o Éden curtir a mesmidade de suas maravilhas, se transgrido
o figurino, depois da morte, sou alma penada, vou para o Hades, desfrutar da mesma
chama do cadeirão. A morte não é o fim de tudo? Não deveria haver isto de
espírito, de alma, após ela. Fim de tudo.
Desde os
primórdios, isto de morte: a mamãe tinha medo de morrer e me deixar desvalido
no útero. Não morreu, continua viva até o presente momento, e eu o mais valido
dos homens. A vida osso duro de roer, a morte um despautério. Durante a estada
na terra, no mundo, dividido entre o passado e o futuro, entre as decisões e as
consequências. Se decido que a morte é o fim de tudo, quando morrer, a
consequência, no inferno as mesmas chamas a arderem em baixo e eu flanando em
cima, se no éden, sentado debaixo de uma oliveira curtindo as mesmas
maravilhas.
Quê a mamãe
amasse de paixão os prazeres da carne! Mas deveria ter usado anticoncepcional,
mas não se engravidasse de mim. Não me fizesse o mais valido dos homens. Jamais
soube o que fazer desta "validez" toda, esta minha validez não tem
prazo.
Cansei de
roer o osso da vida, só fez gastar os meus dentes, não matou a minha fome de
entender o porquê depois da vida há o espírito ou a alma. Não quero morrer e
passar por esta divisão. Quero o fim insofismável e incólume de tudo. Já
consultei padres, cartomantes, sábios, pastores e todos me disseram não haver
solução para isto: depois da morte ou se é alma ou espírito. Quê sinuca de bico
me enfiei!
Talvez se a
mamãe não tivesse tido tanto medo de morrer e me deixar desvalido no útero, não
teria me tornado este homem tão valido que sou, iria para o inferno ou para o
éden, tão somente.
E agora a
minha validade não tem prazo.
#RIODEJANEIRO#,
20 DE FEVEREIRO DE 2019#
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