#AFORISMO 1024/ DO NADA TRAVESSIA PARA A SURPRESA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Epígrafe:
O tédio da solidão é para quem não sabe contemplar o sentido efêmero do
silêncio.(Graça Fontis)
A madrugada é um abismo, vácuo de risos e dores, gargalhadas e
angústias.
Trago a fumaça à revelia do que me trans-cende dos sentimentos de tempo
e verbo de ser, expilo-a ao deus-dará de todas as con-tingências, recupero o
lince de meus olhares à distância que vêem miríades de imagens a ensaiarem as
perspectivas da plen-itude branca da vida, os ângulos onde as cores da paisagem
do infinito se sintetizam, iluminando-a de desejos e vontades do verdadeiro
verso do espírito do eterno.
Efemérides seduzidas, efemer-itudes des-compassadas. Sorrelfas compactas
de idílios, quimeras reduzidas de utopias. Fantasias simplificadas de sonhos,
sonhos envelados de neblina. Sintonias, sincronias, harmonias, à luz as trevas,
às trevas a luz.
Alguém, à janela de suas verdades insofismáveis, sabe a minha linguagem
final, a que aflora num susto a aparição do silêncio, a que flana suave e
serena por sobre as águas do oceano, a que sagra e a-nuncia os fachos de
enigma. Nada vivente é Uno, é sempre, ao contrário, um Muitos.
Estou aqui onde me crio, re-crio, onde me invento, faço-me. De tinta são
os meus traços, caracteres. Com palavras sistemas se criam. Na palavra se crê
com fé profunda, da palavras um iota não se tira. Nascer e morrer,
eterno oceano, alternando a trama, a vida uma chama, e sentado ao tear
vibrante do Tempo teço à divindade o seu manto vivo. A folha é de papel,
linhas, margens, as letras são cursivas, in-cursivas, des-cursivas. Esboço um
sentimento que retiro de mim dentro, garatujo uma emoção que me perpassa o
íntimo, delineio uma idéia que se me a-nuncia, burilo um pensamento que se me
re-vela: ainda não são os originais, não é a verdade minha. Re-crio-lhes as
bordas e ad-jacências, recomponho-lhes a imagem, re-faço a face, re-estruturo o
perfil. Evoco o abstrato, invoco o transcendente, faço das perspectivas a minha
raiz, faço dos ângulos o meu ser, das linhas a alma, das entre-linhas o
espírito.
Farto de mim, distancio-me, fico à espreita, constato: na vida ou na
arte, em carne, osso, caneta ou lápis onde estou-sendo não é quem sou, onde sou
não é quem estou sendo, onde estou não é sempre, não é eterno, não é absoluto,
não é efêmero, não é nítido, não é nulo, onde sou não é para sempre, o que sou
é por um lince do olhar.
Águas re-fletindo imagens sob raios numinosos do sol, lírios brancos à
mercê de vento suave, belga pousado no arame farpado da cerca, trinando seu
canto, nuvens brancas deslizando no azul celeste, pétala perdida de rosa
vermelha sendo levada a esmo pelo rio sem pressa de sua jornada.
Sentimentos leves perpassando o íntimo, carinho, ternura, afeição, ouço
o pulsar do coração, extasiado de emoção, no que em mim trago dentro, as
volúpias da alma transcendem as elegias do instante de sonho, em mim sentindo
íntimo, a alegria conjuga versos, a felicidade recita de rimas as fantasias do
amor correspondido, do amor sentido profundo, do amor saboreado, do amor
entre-laçado de corpos à busca do clímax absoluto e pleno. No que em mim deseja
de Verdades as regências verbais tecem de erudição a estética do estilo
sensível, espiritual, as metáforas conjugam de imagens a linguística do eterno,
as regências nominais desenham no horizonte as perspectivas da linguagem do Ser
e Tempo; e a contradição, quando perfeita, para sábios e tolos é mistério, é velha
e nova, meu amigo, a arte nos interstícios da alma de verbos alucinados,
desvairados...
Esperanças delineiam de perspectivas, cânticos solenes em uni-versos
líricos, plen-itude de êxtases compõem de estesias alhures de sentimentos à
busca de subjetivas verdades, algures de desejos de felicidade à busca do
espírito de con-templar o absoluto sentido efêmero, sentido volátil, sentido
nítido nulo, sentido estrela cadente, sentido vazio, sonhos do belo, beleza de
re-fazendas conjugam imagens e intuições, perspectivas e inspirações,
criatividade e percepções, re-criando da memória o movimento, literalizando da
recordação os instantes, no poema do espírito a presença viva do eterno feito
amor, do efêmero feito desejo, do há-de ser feito querência, do simples feito
grandeza, do nada feito travessia para o além...
O amanhecer é surpresa.
(#RIODEJANEIRO#, 23 DE AGOSTO DE 2018)
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