#LÚCIFER PERNÓSTICO - ROMANCE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: ROMANCE
CAPÍTULO VIII - PARTE I
A comparação seria primordial. Não haveria quem não
caísse na gargalhada, antes mesmo da terceira palavra ser pronunciada; a quem
dirigida a comparação por mais fosse dotado de insigne ingenuidade, por mais
fosse sangue frio, teria alguma reação, se lhe chegasse aos ouvidos, em
palavras, tem lá as dúvidas se nalguma folha de papel branco iria saber
interpretar de acordo.
Se escrevesse algo sobre o nome do asno,
considerando o seu nome Lúcifer, o real, o dado por seu proprietário, sabendo o
nome deste ser Aldo Lúcio Ferreira, modificando-lhe a identidade, Lúcifer
Pernóstico, não é crido que o insigne senhor, cognominado assim por ser alguém
quem sustenta ser de muita importância, não o sendo, e o termo que define bem
isto é “presumido” – e para lhe identificar mais a importância o uso de um
termo mais nobre e fino: “pernóstico” -, este requer certas considerações
abstratas para uma compreensão mais profunda das intuições e intenções do riso,
da galhofa, ou seja, tomando em consideração o significado que nos apresenta
Aurélio Buarque de Hollanda, autor de Dicionário Aurélio: “Ter presunção ou
vaidade; arrogar-se, vangloriar-se; ter ou formar (de si) grande opinião ou
conceito”.
Creu ser importante registrar o sentido da palavra
“pernóstico” por não saberem as pessoas de seu significado, evitando-lhes
qualquer perda de tempo em olhar no dicionário, e assim ter de retornar a
leitura, quem sabe desde o início, para compreender bem o que está sendo
criticado, o que está sendo objeto de ridículo. O tempo que gastara para a
consulta no dicionário pode ser aproveitado para ler uns quatro ou cinco
parágrafos, dependendo do tamanho, e com isto mais uma compreensão se soma com
as outras adquiridas e o riso poderá ser ainda mais contundente, um riso à
grande.
Se o que ele sustenta ser, o objeto que fundamenta
a sua sustentação, não consegue argumentar se questionado, e o que ele faz não
é investigado em suas raízes, aliás, muitíssimo querido de alguns, isto ninguém
poderá negar, negligenciar, recusar como se pecado mortal não fosse algo,
maléfico seria; em sua linguagem e entrelinhas, o que está de por trás de suas
palavras, isto não é preocupação de ninguém, quem sabe até por não valer a
pena, daquelas intuições que só Deus saberia responder, por ser Ele quem
conhece os abismos mais profundos da alma humana.
São as tais coisas rasgar papéis, jornais.
Escrevera o editor-chefe sobre uma placa numa clínica médica, atacando de
frente a diretora. Sabendo Credólio Cruzilis desta matéria, procurou tirar
xerox. Inspirar-se-ia nela para criticar o editor-chefe. Publicara-a na
Internet. Encontraram-se. Credólio Cruzilis sugeriu ao editor-chefe que lesse a
matéria na Internet sobre o ataque que fizera à diretora da clínica médica.
Olhara numa caixa de papelão onde traz guardados todos os jornais,
correspondências, cartões, cartas, etc., etc., e não encontrou. Talvez isto
seja até melhor, tenho a obrigação de recriar as situações e circunstâncias,
não ficando preso a algo já escrito. Não acredita que tenha rasgado, mas é
possível; está em algum lugar.
- Por que será que você se importa tanto com o que
escrevo?
- Porque só escreve jericadas para atacar as
pessoas sem quê nem porquê.
- Por que será que as pessoas gostam?
- Porque não tem senso algum. O povo não tem senso.
- Porque elas entendem o que digo.
- Você é um completo imbecil – o editor-chefe já
estava atravessando a rua, quando ouviu Credólio chamar-lhe imbecil. Virou-se
para caminhar em direção a ele, mas desistiu, raciocinando que se desse atenção
seria ainda pior – Quer ser inteligentíssimo, usando a hermenêutica de
Sócrates, mas o máximo que chega a sua inteligência é isto – disse-o em voz
baixa. Só o início fora dito a plenos pulmões, algumas pessoas que estavam às
portas de suas lojas, os proprietários, ouviram nitidamente.
Isto não é outra coisa senão vaidade. Não é de seu
interesse contemplar esta dimensão, a vaidade, crê que ao in-verso será mais
risível ainda, por ser a realidade incólume.
Gostaria sim de discutir o que se mostra nas
entrelinhas da comparação. O carroceiro tivera a idéia genial de mandar colocar
uma espécie de varal à frente do burro, onde com imaginação e criatividade,
colocara uma cenoura dependurada, a distância desta e o animal deveria
aprioristicamente ser mais distante, qualquer esforço de abocanhar a cenoura
seria inútil, o que para alguns insignes senhores isto justificar e fundamentar
a razão de o asno viver desembestado pelas ladeiras da cidade.
Se alguém está precisando de um frete rápido, o
melhor mesmo é o da “carroça-do-asno”. Ninguém fala o nome do animal, ninguém
fala o nome do carroceiro. Há quem diga saber, mas é tão esquisito que se
esquecem dele com facilidade.
A curiosidade de imediato se apresenta, não havendo
outra alternativa senão ir ao ponto dos carroceiros investigar o nome do asno,
do carroceiro, se é que alguém se lembra dele. Investigado, respondem ser
Lúcifer, e o nome do carroceiro, Lúcio Ferreira. Então, dizer o nome completo
do carroceiro é já despertar a presença do “tinhoso”. Trata-se de um cacófato –
se ficar esclarecendo os termos a todo instante, tudo perderá a sua graça, mas
não vê outra alternativa senão fazê-lo aos leitores menos versados: “Som
desagradável, ou palavra obscena, proveniente da união das sílabas finais de
uma palavra com as iniciais da seguinte: por exemplo, “lá tinha uma garrafa
vazia”, “latinha” é o cacófato. Assim, além de o leitor degustar mais os risos
à grande, vai adquirindo mais conhecimentos, elitizando-se com a nossa querida
Língua Portuguesa.
Hesitante, quanto a apresentar o nome real do
animal, deve ter cuidado para não ferir os brios de alguém, se o fizer, quem
estará sempre olhando para a página será ele; é-lhe sugerido que, ao invés do
nome Ferreira, colocasse “pernóstico”, referindo-se a algum insigne senhor
quem, por ser muito pedante com a sua vaidade, assim é chamado por alguns, e
isto, a menos que as informações não sejam verdadeiras, é de seu conhecimento,
o que não está agradando muito. Muitas vezes é visto olhando para todos os
lados a fim de perceber se alguém não está rindo com a sua passagem. Soubera
Credólio Cruzilis que alguém lhe chamara “pernóstico”, e a sua inteligência não
fora além de “se há os pernósticos é que há também os invejosos”. Sabendo
disto, outra não respondera senão: “Tenho inveja é dos anos, sabem dar coice
mortal; ainda não aprendi, mas chegara a hora”. Se passa perto de um grupo de
pessoas conversando, aguça os ouvidos para saber se não estão se referindo a
ele de modo jocoso, dizendo o epíteto que recebera. E aqueles de quem é
inimigo, os que não gostam dele, às escondidas irá tratar-lhe de Lúcifer
Pernóstico.
Manoel Ferreira Neto
(MARÇO DE 2005)
(#RIODEJANEIRO#, 30 DE AGOSTO DE 2018)
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