#AFORISMO 1001/ JEGUE LAVRADOR EM TODOS OS ASSUNTOS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Epígrafe:
"A inquietação estabelece-se no átimo em que o olhar percuciente
perscruta as inveracidades nutridas na obscuridade não existencial, suscitando
ao "Ser" erigir-se e subverter conceitos inaudíveis em
realidades." (Graça Fontis)
"Diamantes que riscam o éter. Cristais que ensombrecem o etéreo.
Pérolas que iluminam o eterno crepúsculo à soleira das imagens do
alvorecer."(Manoel Ferreira Neto)
Vozes anônimas. Inquieto. Soltando os cães e suas correntes. Vomitando
os sapos secos. Ah, essas coisas do íntimo... essas coisas expressionistas...
essas coisas impressionistas... essas coisas simbólicas, metafísicas,
metafóricas, metalinguísticas... Procuro erguer-me na penumbra. Não sentir o
mundo a elevar-me. Andar à margem dos homens. A cortina cerrada estremece a atmosfera.
Insolência. Irreverência. Polêmica. Rumores que me transcendem. Silêncios e
solidão que me descendem.
Rumores que são da noite. Estranho. Medito. Olho ao relógio: três horas
da manhã. Calor imenso surge em minhas pernas.
Altíssimo disfarçado nos paraísos, como eu, osco,
No estro e desvario dos logradouros;
Altíssimo, consciência ubíqua, erudito, como eu,
Perniciosa omnipresença, velhaco polido em quaisquer locos,
Jegue lavrador em todos os assuntos,
Macunaíma preguiçoso em todas as redes,
Serafim Ponte Grande no mundo sem #porteras#,
Conquisto todas as carneiras grosseiras ou não,
De todos os submissos alvos ou negros;
Adopto todo o rebanho
– De extra, de longínquo, porque não me incluo nele,
Sou eu na transcendência das quatro patas,
Sem quaisquer trações, sem quaisquer marchas-rés,
Caracterizo-me nas duas retaguardas,
Pois neste dia pluvioso,
Em que as gotas d´água aspergem todos os acontecimentos,
A vulgacho baixa todas as renques,
Em comando ao colossal troço, que, sem beiras e afogadilho,
Abeirará ao abismo, eu serei o Guará Amaldiçoado, o Guará da Pradaria,
Consumando a proxeneta dos provectos algozes,
Ascendência e jaez de Fratricida, sem sustento nem indulto.
Os vendilhões do temp(l)o cresceram e se di-vers-ificaram,
Hipotecaram a boa-nova, o novo homem,
Alugaram o brilho da estrela de Belém,
Emprestaram a Torre Eiffel ao Brasil,
Venderam o Cristo Redentor a preço módico para o Afeganistão,
Patrimoniaram humanisticamente no Brasil, Turismo Sustentável, a Estátua
da Liberdade americana,
Que são esperança e fé dos homens por todo o sempre,
Extornaram o crepúsculo a crédito do eterno
Exportaram, a alto preço, o ouro, o incenso, o petróleo e a mirra.
Meus ágeis dedos agem mi-la-gro-sa-men-te
No ágio das multiplicações.
Eles dão ao diabo como brinde o sabonete de Pilatos
Que marca as trinta moedas de Judas.
As ondas enchem, entrechocam-se nas docas. Aéreos talentos fertilizados.
Peregrino em divinos ardores. Geniais tempestades. De estrangeiro de poeiras
seculares. Formas no ar. A sereia atravessa o deserto. Passeio nu pelo campo de
por baixo de chuva fina e fria. Livre de tudo.
Angústia acompanhada de medo.
Imagino que falo em vão. Quem vai acreditar tanta insolência e
irreverência sejam verdade, habitam-me o íntimo? Nietzsche me chamaria para
tomar um whisky para um diálogo no tangente a todas estas verdades minhas.
Também para não me ocupar e fazer a digestão da bisteka de porco que venho
comendo há dois anos, a aposentadoria só me permite isto. Pungente retro de um
inferno que vivo. Solene sorriso. Gentil riso de nada.
Amo as vozes que misturam o longínquo à distância.
(#RIODEJANEIRO#, 10 DE AGOSTO DE 2018)
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