*ZAGAIA NO TEMPO DO NADA** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA ****
Epígrafe:
Passeando na orla marítima da Praia da Luz, Ilha de
Itaoca, respondeu-me Zagaia, sorrindo, postando-se à minha frente,
estendendo-me a mão para um aperto de ideais, sonhos e utopias, à pergunta que
lhe fiz: "Zagaia, o que é isto: "O NADA NA CONTINUIDADE DO
TEMPO", e à res-posta, sentamo-nos no QUIOSQUE DA ANY, e tomamos a nossa
cervejinha juntos, trocando palavras, idéias, ideais, pensamentos, projetos e
entregas.
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Nada digo, digo nada. Nada escrevo, escrevo nada.
Nada olho, olho nada. Nada vejo, vejo nada. Nada desejo, desejo nada. Nada
observo, observo nada. Nada crio, crio nada. Nada re-crio nada. Nada
con-templo, con-templo o nada. Não ouço, ouço nada. Nada sinto, sinto nada.
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Nada de nada. Nada de verbos. Nada de inspiração.
Nada de ilusões, quimeras, fantasias. Nada de melancolias, saudades vazias.
Nada de angústias, tristezas, náuseas. Nada de passado, presente, futuro. Nada
de desejos, vontades, esperanças, sonhos. Nada de palavras, semânticas,
linguísticas. Nada de sátiras, crônicas, comédias. Nada de alvorecer,
crepúsculo, entardecer...
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E me perguntam como sei tanto do nada, admirado
quem quis isto saber. Nada sei do nada. Nada sei de nada. O nada aqui na
madrugada. Nada de utopias, ideais, projetos. Nada... Nada no peito, nada na
alma, nada no espírito. Nada com invisíveis relâmpagos me atinge, vem, vem,
amada verdade do nada. Nada de absoluto, nada de eterno. Nada de in-finito,
uni-verso, horizonte.
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De nada Deus lhe pague. De nada Deus o abençoe,
proteja nas sendas e veredas de nada. De nada Deus lhe inspire para debulhar as
contas do terço, rogando o nada como único pertence para seguir as trilhas sem
margens, sem extensão, sem poeiras metafísicas, sem psicanálise metafísica do
inferno.
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De nada Deus o ilumine para versejar, versificar a
meiga insolência da morte, sagrado coração do nada, as meiguices insolentes do
inferno nas chamas do caldeirão. De nada Deus o santifique para escrever os
dogmas e preceitos da bíblia cristã, da bíblia pagã.
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Será que a pessoa quem num comentário perguntou-me
como sei tanto do nada faria esta mesma pergunta? Questionaria com critério e
categoria: como pode nada saber do nada? Responder-lhe-ia: "Nada sou e,
sendo nada, nada posso saber do nada" Nada de verdade, in-verdade, mentira.
Nada de pés na estrada rumo ao in-finitivo do verbo nada, com aquele sentimento
de nada que ele se tornará a etern-idade, a vida eterna. Nada de risos,
sorrisos no tempo de Zagaia, nada de galhofas, ironias, sarcasmos, cinismos com
o tempo do Onça que se esplendece a todos os nadas, esperando encontrar o
Templo do VAZIO.
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E se nada você entendeu, compreendeu, tente
sentir-me profundamente NADA-TEMPO-DO-VERBO, senão fique curtindo o vazio do
nada. Nada de vazio, nada de vácuo, nada de abismo.
#riodejaneiro, 29 de dezembro de 2019#
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