*SIMPLESMENTE SIMPLES A SIMPLICIDADE...** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Acordei esta manhã, ovos e bacon na minha cama.
Depois da calamidade, ou deverei chamar de tragédia, confundi o vidro de azeite
com o de pimenta, mesmo tendo sido algumas gotas, a ardência foi além dos
limites. Para não jogar a comida fora, eram três da madruga, engoli-as, tomando
apenas alguns goles de água. Acordei esta manhã, ovos e bacon na minha cama.
Nem olhei direito para o meu prato preferido pela manhã, o estômago depois da
tragédia da pimenta não tem espaço nem para uma côdea mínima de Panettoni.
====
Circun-vagando ventos de leste eivados de dimensões
futurais do longínquo, por onde passarem, inda que sibilando serenos, o
longínquo é a meta, linguagem não do destino, desde a etern-idade até à
eternidade pre-determinado, mas onde re-festelar-se, sibilando-se de silêncios,
até o instante de prosseguir, o longínquo é apenas porto para o In-finito, o
uni-verso é o Olimpo, encontro de todos os sibilos, sin-fonia de eter-idades
aos ritmos e melodias do ser verbal nas regências da plen-itude, cujas seivas
do espírito divino trans-elevam esperanças e sonhos às égides do pétuo-per dos
prazeres e desejos.
====
Simplesmente simples a simplicidade em dizer se
etern-idade houvesse, o eterno viria antes de quaisquer eternos, fossem frutos
da imaginação ou fossem o tão-somente real. O nada seria devaneio de varridos
de pedra no instante absoluto da crise bacamartiana dos valores supremos, das
virtudes egrégias, dos conceitos divinos, das categoria máximas, loucura
trans-elevada além das nonadas trans-cendentais, e, além disso, o nada seria
quimera de desiludidos com a vida ter sentido, fantasia de des-compassados, não
correspondidos no amor, frustrados e fracassados com a esperança e os sonhos,
simplesmente os que se arrastam nas sarjetas do mundo, puros vermes.
====
Volte, Benzoca, a dizer que sempre dormiremos de
pés cruzados, nunca nos separaremos, pedindo-lhe ajudar-me a dormir, estava
carente. Volte, Benzoca, a dizer que nunca mais nos separaremos. Não seja uma
estranha sem cérebro ou coração.
====
Estando com você, de pés colados, dormindo de
conchinha, mão dadas no transcorrer do dia, me esqueço de que já estive triste.
Estando com você, Benzoca, me esqueço de que já estive triste.
====
Sem você, não há sentido em qualquer coisa que eu
faço
Ventos de leste. Sibilos de norte. Horizontes.
Uni-versos. Nos horizontes, começam o caos do in-fin-itivo verbo-de ser,
termina o cosmos das in-trans-itivas con-ting-ências do nada perfeitamente
encalacrado nas travessias de nonadas, pontes ceifadas para os éritos do genesis,
éresis do anti-princípio da terra, e dizem que a des-esperança do ser-verbo da
plen-idade será vencida pelos terrenos baldios do mundo - simples a incólume
sorrelfa do in-audito, sem a terra como podem os corpos humanos estarem em
trânsito, sem o mundo como podem as con-ting-ências do absurdo se elevarem e
buscarem a espiritualidade do ser na pedra de toque angular dos trans-itivos
diretos e indiretos? - simplesmente um vazio obtuso circun-dando a etern-idade,
vazio de sibilos do vento, vazio das raízes da castanheira, vazio das náuseas
do absoluto, vazio pleno do mundo.
====
Se etern-idade houvesse, nada justificaria o nada,
se o nada precedesse a etern-idade, de algum modo a etern-idade está à frente,
próxima ou distante, a grande questão seria arrebitar o rabo e sair correndo
atrás dela, nalgum buraco de mundo ou abismo encontrá-la-ia, tempo de só
alegrias, de correr atrás dos pretéritos consumirem-se.
====
Nada pode me levar de volta a menos que con-sinta,
patenteie com solicitude. Não posso parar aqui, de modo algum, e não estou
pronto para descarregar.
====
Ventos de leste. Sibilos de sul. Porque seria
pergunta mais que percuciente no trans-curso, percurso dos ventos a esperança é
sempre a música idílica da perfeição que ad-mira as imperfeições por ser ela o
verbo "in", o mover das coisas, brincando e saltitando com as
circunstâncias, por ser ela o sorumbático das melancolias, nostalgias e
saudades das meiguices insolentes do inferno.
====
Se a etern-idade nadificasse angústias, náuseas, se
nadificação houvesse na etern-idade, habitasse-lhe as pre-fundas, simplesmente
simples a simplicidade de conjugar os verbos defectivamente para o ser preceder
o não-ser, para a morte preceder a vida.
====
Etern-idade não etern-iza o nada.
Nada etern-iza a etern-idade
Etern-izada a etern-idade, nadificada a
nad-icidade.
Nadificada a etern-idade, etern-icizado o nada.
====
Não,
Não é de minha intenção fundamental
Ser mito, ser lenda, ser legendário
Seja ele inspirado nos deuses gregos,
Seja de origem culta,
Quero apenas re-festelar-me nas margens
Do Rio das Pulgas,
Cogitar o mundo, o pensamento, a sensibilidade,
Não sou menino de recado, de mensagens,
Bruxo que desvenda os mistérios da existência.
====
Se continuar chovendo, a barragem vai quebrar,
posso afiançar sem qualquer temor e tremor de estar de sacanagem, para usar
poucochito do coloquial, a categoria deve estar sempre nos trilhos. Se
continuar chovendo, a barragem vai quebrar, e estou a cá pensando e cogitando
como os transeuntes vão passar para a margem esquerda da barragem. Algumas
dessas pessoas vão tirar-me, tudo o que podem tomar de mim vão levar,
saltitando pelos becos a fora.
====
Bem, trabalhei no dique, Amigo, noite e dia, só
esporadicamente um tempo para suspirar. Trabalhei no dique, Amigo, noite e dia,
olhando as nuvens neblinadas de além. Cheguei ao rio, joguei minhas roupas
fora. Vejo tudo que sou, tudo o que desejo ser. Alguns indivíduos tem pele
apenas para cobrir os ossos.
====
Silêncio do nada. Silêncio do eterno. Ouço o
silêncio do mundo. Se etern-idade houvesse, simplesmente simples a simplicidade
do silêncio habitar o nada, quê delícia deliciosa ouvir as vozes do nada,
declamando o soneto do deserto, em cujas semânticas e linguísticas o epitáfio
da vida estaria plen-ificado de epígrafes da morte, espírito e alma,
enchafurdado no inferno das metafísicas, nas psicanálises do inferno.
====
Acordei esta manhã,
Ovos e bacon na minha cama,
E daí?! - enraizar-me-ei nas alegrias do coração
Algumas pessoas estão dormindo,
Algumas pessoas estão acordadas...
#riodejaneiro, 17 de dezembro de 2019#
Comentários
Postar um comentário