#NÃO POSSO SUPORTAR AS TENSÕES# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA BLUES
Eis aqui o meu presente de Ano Novo à minha Amada
Esposa e Companheira das Artes, Graça Fontis, por todos estes anos de nossas
existências dedicadas às Artes, ao nosso amor de cônjuges, às críticas
literárias e amigas, Ana Júlia Machado e Sonia Gonçalves, desejando-lhes um
novo Ano de sonhos e utopias nas Artes e na Vida. Feliz Ano de 2020 a vocês.
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Rolei e caí, dancei e me espreguicei no chão,
chorei a noite inteira, noite inteira dizendo a coisa mesma, rasgando os verbos
e regências, rolei e caí, espreguicei no chão, pensara, cogitara sobre as
cositas do mundo e pensamentos, chorei a noite inteira.
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Acordei esta manhã, por volta das nove e meia da
manhã, tendo a simples noção de que devo ter apostado meu dinheiro errado,
digamos assim, desejando dizer que existi de modo errado, já que há quem me
chamam Macunaíma, o eterno preguiçoso, pensar custa caro, mas tenho sérios
problemas de saúde no digníssimo coração.
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Tenho problemas tão difíceis, não posso suportar a
tensão, inclusive venho sentindo dor na nuca há algum tempo, a tensão é
sobremodo árdua, difícil, trans-cende os limites. Tenho problemas tão difíceis,
eu não posso aguentar a inquietude das idéias e pensamentos, estou exausto, e
nada posso fazer para amenizar isto, sem eles o que é de mim. A mulher quem
encanta os meus miolos, a pintora dos nossos setes, amor, carinho, entrega,
esperanças, sonhos, utopias mútuos, nossas artes, aconselha-me a partirmos para
uma viagem, visitarmos os parentes entre o Natal e o Ano Novo, e passar o
primeiro mês do ano sem cogitar as cositas do mundo e do pensamento, levarmos a
vida na flauta.
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Algumas senhoras tem encantado os meus miolos, nada
de interesses escusos, de idéias e pensamentos fúteis, nada de desejos e
vontades, simplesmente, simplesmente o estilo de viverem suas idéias e
pensamentos, a linguagem de suas atitudes e ações, o modo de expressarem os
sentimentos, a sensibilidade.
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A paisagem é brilhando, gleamin nas faíscas de luz
dourada do dia, instante esplendoroso, o verão bronzeando a pele humana,
momento que se sente a presença dos sonhos, da liberdade posta em questão. A paisagem
é brilhando, gleamin na luz do picadeiro do circo, antes da atuação dos
palhaços, onde sentir a presença dos sentimentos mais profundos e verídicos, a
sensibilidade. Nada segurando para trás agora, não finco os pés no caminho de
pretéritos, a memória existe, lembrança e recordação são a minha história.
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Bem, eu fiz tudo o que sei apenas para manter fora
de minha mente as esquisitices das idéias, pensamentos, pensar errado para não
ser ovelha das ideologias chinfrins e xucras. Bem, fiz tudo o que sei apenas
para manter fora da minha mente os interesses viperinos, custasse o que
custasse. Bem, pago por me expressar livremente, pensares e sentires, pago e
meu coração sofrente, quê sofrências, "é" sempre na linha, nos
trilhos.
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Bem, levanto de madrugada, desço os degraus e me
coloco na sombra da alcova, mister saber que estará sempre no meu encalço, a
companheira de todos os passos. Levanto de madrugada e deito na rede da varanda
e me ponho a ouvir o som noctívago, e cogitando as roladas e caídas em
contra-partida com a hodierna existência. Não sou menino de ninguém, ninguém
devidamente treinado para me doutrinar. Não sou menino de ninguém, e não há
ninguém bem treinado para lavar-me o cérebro.
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Estou fora, tudo passou, esta mulher foi dirigindo-me
às lágrimas da alegria, prazer, inclusive o sentir-me feliz. Estou fora, tudo
passou, esta mulher, ela foi dirigindo-me os pensamentos, idéias, as visões das
coisas e do mundo, nada de querer ter um peixe na boca sempre que mergulhar no
mar, cuidar com esmero da "consciência universal". Esta mulher tão
louca, tão sábia, tão humana, eu juro vai sempre tocar a nossa canção, Woman,
John Lennon, pintar o nosso sete, e para o ano algumas cositas inéditas.
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Bem, vindo o tempo quente e os botões são na
videira, vindo o clima quente do verão, os botões são na videira, nada há tão
deprimente que não satisfazer o sentir juntos o perfume das flores, o
despetalar delas a todos os alvoreceres.
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Levantei esta manhã, vi o retorno do sol nascente,
mais cedo ou mais tarde haverá quem vai se queimar, as questões climáticas
estão bem complicadas. Mais cedo ou mais tarde, você irá passear na praia,
tomar um banho nas águas salgadas, deitar-se na areia, bronzear-se, postar-se
nas pistas para o deleite dos transeuntes.
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A noite está cheia de sombras, os anos estão cheios
de condenação antecipada. O que justifica, explica a complexa memória da
existência? Não compreendo, apesar de entender com percuciência, o pretérito
ser pedra angular das coisas futuras, ser através dele que construo os sonhos e
utopias. A noite está cheia de sombras, os anos estão cheios de condenação
antecipada.
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Vamos colocar nossas cabeças juntas agora, vamos
colocar todos os assuntos antigos para um fim, não por estar na véspera de Ano
Novo, mas sairmos da mesmidade das coisas, colocarmos a liberdade em questão,
artificiar a consciência universal, dirigir o nosso destino conforme quem
somos, aliás tendo sido o que me ensinara as senhoras quem estão encantando os
meus miolos com suas posturas e condutas críticas.
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Bem, rolei e caí, dancei e espreguiçei no chão e
chorei a noite inteira. Rolei e caí, dancei e espreguiçei no chão e chorei a
noite inteira.
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Acordei esta manhã. Devo estar pensando errado.
#riodejaneiro, 16 de dezembro de 2019#
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