MÁXIMA ÁSNICA: "VENTO SOMBRIO E EFÊMERO HABITA MINH´ALMA"
Isto, em verdade...
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Queiram discutir as criaturas humanas neste ou
naquele ângulo, desde que alegrem os calafrios, deixemos de lado os brios, não
carece de entrar nestes méritos; estou velho, não posso ter fortes emoções,
relinchos, outra coisa não é possível senão deitar no chão e estrebuchar de
tanto rir com tão perniciosos pensamentos; as mocinhas de boa conduta desejo
que saltem este relincho, ajuda a conservar os calafrios antes dos brios, se é
que me expresso numa língua ásnica compreensível aos espíritos imbecis e pernósticos,
façam-lhes chorar de tanto rir; mas o reverso desta moeda é tão triste e
melancólico que faria as Górgonas ajoelharem-se diante das pedras, pedindo-lhes
perdão e compaixão por atitudes tão vergonhosas com os homens, não importando o
sexo, se olhasse a Medusa, tornar-se-ia pedra e nada havia que ou quem pudesse
reverter a situação... Pediriam perdão, estavam arrependidas de haverem tornado
pedras tantos homens, mas as livrassem da nostalgia, melancolia, tristeza...
coisas assim do arco-da-velha, não importando aqui e agora tratar desta
questão, estou retornando do passeio com a família Neves. Não me consta, jamais
ouvira dizer que as pedras perdoam. Se perdoassem, alguém já teria dito que as
pedras também perdoam.
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Há um ditado árabe que diz o seguinte: “se você
jogar uma pessoa de sucesso em um rio, ela certamente sairá de lá, com um peixe
na boca”. Isto porque, onde ela estiver, o sucesso vai estar ao lado dela. Não
posso dizer que tenham os Neves conhecimento deste ditado, mas em verdade, tendo-lhes
ouvido dizer, que se jogar um imbecil no Rio das Pulgas, ele sairá de lá com um
cágado na boca, pois não sabe discernir o que é o quê nesta história, imagino
que alguém tenha recriado. Há muitos que são versões de sabedorias milenares,
bíblicas.
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Para mim, não me é dada a liberdade de separar a
alma e o corpo, como faz o povo, e ainda menos diferenciar alma e espírito. Não
sou rã pensadora, aparelho de objetivar e registrar, de entranhas congeladas;
tenho de parir constantemente os pensamentos e idéias na minha dor,
insatisfação, angústia, desespero e dar-lhes asnicamente todo o sangue,
coração, fogo, alegria, paixão, tormento, consciência, destino e fatalidade que
existem em mim. Viver é transformar em luz e flama tudo aquilo que se é e
também tudo aquilo que nos atinge; não podemos agir de outra maneira.
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Asno não procria; não é preciso castrar. A menos
que... Será que alguém em Atenas Atéia teve a magnífica idéia de me castrar,
assim não poria no mundo outro asno intelectual. Vá que a moda pegue! Seria
concorrência desleal com os intelectuais humanos: enfim de quem tirar a razão
das perspectivas observadas das mazelas e picuinhas humanas: dos intelectuais
humanos ou dos ásnicos intelectuais? Bem, há-de se considerar que asno não
procria. Na mente ateniense atéia, tudo é possível e permitido.
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Meu instinto “particular”, o secreto amor que nele
cresce, mostra-me situações em que sou dispensado de relinchar de mim; no mesmo
sentido em que até agora o instinto de mãe da mulher conservou a situação
dependente da mulher. Em última instância, exijo bem pouco, a máxima é: “quem
possui é possuído” (possuo instinto sou possuído pelo instinto) – isto, como
tenho de repetir vez por outra, não por virtude, por uma meritória vontade de
singeleza e moderação, mas porque o senhor supremo assim exige, prudente e
inexoravelmente: tenho em conta uma coisa, e apenas para ele junto e acumulo
tempo, energia, amor, interesse. Essa espécie de homem não gosta de ser
perturbada por inimizades, tampouco por amizades; esquece ou despreza com
facilidade.
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Os instintos são os testemunhos de tempos idos e
não retornados, mas que na cauda e nas orelhas trazemos sempre a sensação de
vento sombrio e efêmero habita a alma...
#riodejaneiro, 15 de dezembro de 2019#
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