ESCRITORA CRÍTICA LITERÁRIA E POETISA Maria Isabel Cunha COMENTA A PROSA SATÍRICA #PECADOS E PECADILHOS À LUZ PÚBLICA#
O Quinzinho meteu o pé na ferida da humanidade!
Ninguém vê os seus defeitos, esconde-os com todo o cuidado e sigilo,
confessá-los em praça pública? Isso seria mostrar-se tal qual é! Poucos teriam
coragem de semelhante ousadia, excepto Quinzinho que mostra os podres da
sociedade sem qualquer covardia. Despojar-se dos bens terrenos? Seria mais
fácil aceitar ser escalfado. Por este motivo, o Quinzinho declarar que a arca
estava vazia, o menino estava morto, porque a religião que professam pede-lhes
para confessarem e arrependerem-se dos seus pecados, bem como a despegar-se dos
bens terrenos, o que ninguém cumpre nem aceita nem mesmo perante as
calamidades, onde todos enfiam o “ rabo entre as pernas” mas a apertar com
todas as forças os valores que possuem. Parabéns Quinzinho. Um abraço, escritor
Manoel Ferreira Neto.
Maria Isabel Cunha
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Resposta ao Comentário Supra
Tratar da Hipocrisia das Religiões, dos Homens, da
Sociedade, das Ciências e das Artes enchafurdado no Nada e Vazio, na Metafísica
é verborréia e falácia, e o escritor Manoel Ferreira Neto esqueceu-se de
colocar o pé no chão. Entendo a posição do eminente escritor, a questão da
Liberdade, do Pensamento e do Mundo. Mas penso muito no que diz Herbert Marcuse
nesta instância: "A possibilidade de escolha do indivíduo não é o fator
decisivo na determinação do seu grau de liberdade, mas sim o que pode ser
escolhido e o que é escolhido pelo indivíduo." Ando por estas vias, quero
os meus pés nas ruas, avenidas, alamedas, becos da Humanidade, malandrando a Sociedade
Hipócrita.
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Vou convidar o escritor Manoel Ferreira Neto a
visitar-me aqui na Paulicéia Desvairada, para um diálogo. Espero que ele aceite
o convite. Temos muito a conversar.
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Um grande abraço, Sra. Maria Isabel Cunha
Quinzinho de Parafusos a Menos
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PECADOS E PECADILHOS À LUZ PÚBLICA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Quinzinho de Parafusos a Menos: PROSA SATÍRICA
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EPÍGRAFE:
"A arca entrou vazia em Jerusalém; o pequeno
nasceu morto".(Quinzinho de Parafusos a Menos)
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A verdade é que deitaram ao Nada a bagagem
metafísica, e dentro de pouco estavam acabados. Iam-se às tradições morais,
éticas, cristãs, que não serviam nem mesmo à época em que foram estabelecidas,
juramentadas; iam-se às idéias e utopias, mas elas, como as tradições, só davam
brilho na mente, antes sombria, entardecida, não podiam nem a troco de
inteligência e sensibilidade mostrar eficiência para futurais horizontes, puros
arrebiques, mente arrebicada de idéias e utopias é simplesmente tenda do diabo
elucubrando o pecado.
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Iam-se lá, iam-se acolá à cata de alguma
explicação, inda que tosca, para as ausências em todos os níveis de verdades.
Desde que o clérigo Bentinho Soares dissera que pecados e pecadilhos não
deveriam ser confessados somente com os clérigos no genuflexório, os homens
precisavam entender que os pecados tinham de ser compartilhados entre si,
mutuamente, só se viam todos dizendo a céu aberto nas esquinas, praças
públicas, botequins, lojas..., confessando os pecados, rasgando os verbos, a
imprensa aproveitando da situação para publicar tudo que era confessado. Que
mar de pecados e pecadilhos, tão extenso que a velha largou o seu arco no chão
e participou sua mudança para fora do mundo! Quê podridão. Quando a vida
pecaminosa de todos ultrapassou os limites do público e notório, sentiram todos
um alívio, friozinho gostoso na medula espinhal.
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Esvaziaram-se publicamente. O pior pecado é o
pecado publicado, e o de todos estavam nas páginas dos tablóides com o nome
assinado pelos pecadores mesmos. Riam-se de tanta alegria, felicidade. Os
êxtases passaram todos, o sentimento de vergonha, ridículo, culpas, remorsos,
angústias e tristezas, houve alguns suicídios por desespero de causa. E tudo
começou a desmoronar, valores, princípios, honra, dignidade, a coisa afetou a
economia, a política, o social. Tudo porque os pecados deviam ser
compartilhados publicamente.
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Não se viam outra coisa senão a comunidade inteira
andando no mundo do além, no mundo da lua à cata de re-colher e a-colher os
pecados e pecadilhos, retornarem à vida de trevas existenciais e con-tingentes.
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Parado à porta de uma barbearia, depois de
escanhoar bem a barba, quase até tirando a pele do rosto, um homem cerrou os
olhos por alguns instantes, abriu-os, passou pela testa o lenço que trazia
fechado na mão, em forma de bolo, e gritou a plenos pulmões que o padre
Bentinho havia professado o Apocalipse do Pecado, e como todos seguiram à risca
os seus conselhos, confessando tudo publicamente, ainda restava algo que
deveria acontecer tão logo não restasse nada mais a ser confessado. Uma
multidão enorme se formou à frente da barbearia para ouvir do homem o que
restava fazer depois dos pecados confessados.
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Era muito simples: todos se desfizessem de seus
bens materiais, nada mais possuíssem na vida, entregassem ao destino da morte
nus e crus, nada ficaria no mundo.
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Filas e mais filas nos bancos, clientes retirando
as economias e tocando fogo nelas em praça pública, retirando tudo da casa e
jogando na rua, caminhões da prefeitura recolhendo e jogando no lixão. Advieram
daí a fome, a miséria deslavada, o prefeito declarou não calamidade pública,
mas calamidade da miséria, pedindo a quem de todas as cidades da redondeza e do
pais encarecidamente pudesse ajudar que enviasse comida para o povo esfomeado.
Ninguém quis enviar uma côdea de pão: donde já se viu dispor dos bens, tocar
fogo em praça pública nas economias financeiras?
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E o povo faminto foi saindo, foi saindo, foi
saindo, pegando a estrada, picando a mula. Nada restou na cidade senão o
físico.
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Deixaram na entrada da cidade uma placa de madeira
com a seguinte frase: "A arca entrou vazia em Jerusalém; o pequeno nasceu
morto". Até hoje ninguém sabe explicar o porquê desta frase. É um
mistério.
#RIO DE JANEIRO, 15 DE MARÇO DE 2020#
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