#CONFUNDINDO ALHOS COM BUGALHOS" GRAÇA FONTIS: FOTO(ARQUIVO) Quinzinho de Parafusos a Menos: SÁTIRA
DEDICATÓRIA:
À escritora, poetisa e crítica literária, Ana Júlia
Machado, como gratidão por ser a primeira quem me reconheceu nas letras
malandras.
Quinzinho de Parafusos a Menos
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Sábado de muito calor, até o asfalto treme, olhado
à distância. Nada mais agradável que cervejinhas bem geladas, torresmo ao
ponto, sentado na varanda, observando a natureza.
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Acabo de chegar do Supermercado, tendo lá ido
adquirir a "malinha" de cerveja, doze latas grandes; ao inverso do
torresmo, pensara no fígado de boi. Enquanto esperava a vez de ser atendido,
prestava atenção no funcionário do açougue, sua educação, sua dedicação ao
cliente. Dissera ele ao cliente, após servir a "picanha" para
churrasco: "Algo mais o senhor deseja?", sendo o comum "Quer
mais alguma coisa?", dito na lata. Isso fora muito pouco, diante do que
acontecera com uma senhora que comprava carne moída. Dissera o quanto queria,
trezentos gramas. Entrou o funcionário: "A senhora deseja trezentos gramas
de carne moída". Ai, quando ele dissera: "Trezentos gramas", meu
queixo caiu, meus olhos brilharam de prazer, alegria. Funcionário de açougue
dizer "trezentos gramas", quando não há quem não diga "trezentas",
o que é erro crasso. Isto porque "grama" é do gênero masculino. E
antes de chegar ao supermercado, ouvi no carro o locutor da emissora de rádio,
passávamos de por baixo do Elevado Emboaçu, no noticiário dizendo "No fim
da semana passado", quando dizem erroneamente "No fim da semana
passada", isto porque o "passado" não concorda com a semana e
sim com o fim. Nossa, como é agradável ao ouvido escutar a Língua bem
pronunciada, lê-la bem escrita, conforme as suas regras e exceções! Sinto-me no
sétimo céu.
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Agora, confundir alhos com bugalhos, é outra
estorieta sui generis. Confundir "liberdade poética" com
"analfabetismo da Língua", que disparate! Sendo assim, posso
livremente dizer "A maioria dos homens são incultos" num poema, numa
prosa, numa monografia, numa dissertação, numa tese. "A maioria
de..." leva o verbo para o singular e não para o plural. Não é liberdade
poética, é analfabetismo. Toda liberdade poética fundamenta-se na estrutura, na
linguística, metalinguística..., referindo-me aos neologismos, às criações, é
registrada no ponto, caso contrário, torna-se despautério, e o poema perde toda
a sua estética. O imortalíssimo Carlos Drummond de Andrade revolucionou a
Poesia com as suas criações, invenções, neologismos, e todas elas dentro da
estrutura, da linguística, semântica, e sua obra tornou-se de uma Estética sem
limites.
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Mas hoje estão confundindo "liberdade
poética" com despautérios da Língua. Para se safarem da responsabilidade
dos despautérios, justificam-se com a "liberdade poética". Se o
açougueiro houvesse dito "trezentas gramas", estaria justificado o
fato de num açougue a Língua Portuguesa ser respeitada está muito errado, está
fora do contexto. Tem-se sempre o preconceito de açougueiros serem destituídos
de inteligência, sensibilidade. O açougueiro do supermercado não usou da
liberdade açougueana, dizendo trezentas gramas. Foi direto no ponto. A língua
corretamente usada conquista e seduz os clientes.
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De volta à casa, comentei com a minha secretária na
Universidade, Emília Sousa, que me acompanhava, sobre o que havia presenciado..
"Sabe, Professor Quinzinho, agora eu entendo bem quando você diminui na
nota dos alunos os erros de Português. Ouvi o açougueiro dizendo, estive quase
lhe perguntando se estava certo, o meu ouvido acusou de imediato..."
"Emília, se você for ao Bairro do Bexiga, nos botequins e restaurantes,
vai ficar extasiada com a malandragem paulistana usando da Língua com esmero.
Até para ser malandro há-de se ter a Língua na ponta da língua". Rimos à
vontade.
#RIO DE JANEIRO, 14 DE MARÇO DE 2020@
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