#CONTRA VIM MORTIS NON EST MEDICAMEN IN HORTIS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Quem entra no inferno perde as esperanças. Entra,
as portas são trancadas, não há como fugir? Pertence por inteiro ao demônio,
com ele não há esperança de diálogo, quem dita as normas é ele?
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Nada disso, são até perguntas imbecis, idiotas, de
que não entende que não há mais qualquer possibilidade de perdão dos pecados
muitos, das canalhices tantas, mesmo que os arrependimentos se façam presentes,
as culpas sejam assumidas, tudo está consumado por toda eternidade nele.
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Jamais ouvi dizer que uma alma tenha passado um
tempo nele, mas com os arrependimentos, consciências das culpas, Deus a haja
levado ao céu. No purgatório é que isso acontece. Mereceu o inferno, o inferno
é a moradia eterna; e mesmo porque as almas jamais, nunca se arrependerão de
coisa alguma, não há condições de consciência disto ou daquilo, são almas duras
e concretas; se nelas habitasse sensibilidade, antes da morte, teriam ao longo
das experiências e vivências percebido o caminho de senões, e com as esperanças
teriam re-vertido as condições em que se encontravam envolvidos, tornando-se
outro homem, o que humildemente chamo de con-versão, e a vida se fez outra,
transformou-se, não mudaram o passado, este é imutável, mas seguiram outros
rumos diferentes. Paulo foi um canalha de marca maior, mas se con-verteu,
tornou-se santo.
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No seu íntimo, habitam as esperanças todas de outra
vida, fez delas a pedra de toque da espiritualidade, compreendeu que a
perfeição adviria, procederia da imperfeição, e teve ajuda divina. O mesmo com
Santo Agostinho e outros. Prova de que Deus escolhe os imperfeitos para a
con-versão verdadeira e real, para seguir outros caminhos. Neles, habitam a
esperança, estava presente no mais recôndito deles.
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Para os que entraram no inferno con-versão é
“conversa-pra-boi-dormir”, ressurreição é idiotice, quase que dar bom dia aos
jumentos, muito própria de alienados, redenção é ilusionismo dos mais baratos e
chinfrins, a realidade é o mal, o arbitrário, gratuito. O mal, quando vivido,
vivenciado na íntegra, quando se lhe entrega de corpo e alma, corrói e elimina todas
as esperanças, extingue o bem, que, porventura, habitava a alma.
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Sem consciência o mal é vida real, só observar com
percuciência o mundo, onde tudo acontece e tudo é possível; sem vida real, a
presença do bem, solidariedade, amor, compaixão, o mal é realidade inconteste,
a própria essência humana.
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Jogo palavras a esmo, brinco, ironizo, emendo
sentidos ad-versos e contrários, desejo uma compreensão, quero a luz verdade da
vida, resta-me o re-verso do in-verso, isto é, a esperança de questionar ainda
mais.
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Entrei no inferno dos questionamentos insolúveis,
da realidade. Não há saídas, justificativas e explicações, como o jegue teimoso
acho-me empacado sem esperança de qualquer idéia que isto re-verta.
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Quem entrou no inferno, no inferno estará por todo
o sempre. Entrei nos mistérios insondáveis, jamais terei qualquer resposta
inteligível ou razoável.
Mas falemos do outro lado da moeda: quem entra no
céu conserva-as integralmente. Antes de tudo o mais, questiono-me neste
sentido: por que conserva as esperanças inteiras? Não acredito em
re-encarnação.
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Deve-se viver, sem choro e vela, a realidade,
re-colher e a-colher o real, assim é que o homem constrói sua vida, real-iza
seus objetivos, torna-se digno de re-conhecimento – noutros termos, dimensões
da idéia e pensamento, o real res-ponde pelo conhecimento e, re-conhecendo o
conhecimento, o real de-monstra as veredas do ser; o real engrandece, eleva,
mostra e de-monstra o que é isto viver em nome da virtude, de valores sólidos e
inestimáveis; a real-idade, o real imortalizam, eternizam.
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Pedra é pedra e não símbolo, metáfora do que é
duro; inferno é inferno, e não metáfora dos homens pecadores, infringiram todas
as leis de Deus, especialmente os Dez Mandamentos.
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Caneta é caneta e não metáfora das letras, como
explicar imbuído de senso o invólucro da pena? – um objeto apenas? Isto de a
pena ins-crever a pedra na folha branca de papel só existe na cabeça de quem
não tem consciência de que as letras não têm este poder tão grande, colocar a
pedra no papel. Pode o papel embrulhar a pedra preciosa, diamante, para enviar
de presente a um amigo ou íntimo – ninguém vai embrulhar uma pedra qualquer de
rua e enviá-la a quem quer que seja, gastar dinheiro com o envio por correio, o
preço varia conforme os interesses do cliente, se “simples”, “registrada”,
“sedex”, estes últimos custam mais, com a quantia de uma correspondência
simples pode-se comprar pão.
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Desde que se nasce, ouve-se a todo momento: “caia
na real! A vida só tem sentido se vivida realmente”, “tenha consciência de o
real ser o que garante o absoluto na vida”, “viva o real, esqueça-se do resto”,
etc., etc. E o que é real? Trabalhar, ganhar dinheiro, construir bens
materiais, casar, ter filhos, educar-lhes, formar-lhes para a vida, agir e
atuar conforme os princípios pré-estabelecidos pela sociedade, morrer. Tudo o
mais são picuinhas de mentes vazias, são mazelas e pitis de homens ridículos.
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Assim, ouve-se continuamente e com freqüência: “se
não viver você a realidade das palavras de Deus, o inferno está-lhe reservado
com todas as pompas e euforias”, “o inferno é a realidade do mal, é o real da
ausência de amor no coração”.
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Re-(s)-urge com prepotência e empáfia o
questionamento-chave, à moda e estilo da negação e in-verso do que se deseja e
sonha, em busca da verdade e do absoluto: “existe mesmo um “lugar” chamado
inferno, onde as almas pecadores postumizam o mal que semearam no mundo ou se
trata unicamente de oratória que desemboca na “conversa-pra-boi-dormir”?
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Se se tiver um cargo público, melhor ainda, a
publicidade garante a vida futura, a aposentadoria que permite desfrutar – para
sentir o gosto da fruta, faz-se mister tirar-lhe a película que a envolve – as
últimas coisas do mundo, tranqüilidade e sossego, o esquife de último modelo, o
mais incrementado, o cadáver terá maior conforto para o processo de sua
decomposição.
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Se tivesse eu habilidade, engenhosidade com as
palavras que escrevo e inscrevo nesta página de agenda, ressalte-se não ser
papel comum, de tablóides, padarias, açougues e mercearia, mas de agenda, diria
não suportar mais ler este cardápio da realidade das esperanças que se perdem,
entrando no inferno, este menu do real, leis e cláusulas que solidificam a
vida, existência na terra.
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Re-verso do in-verso. In-ferno do inverso que
identifica o verdadeiro verso, mas só possível quando os sentimentos re-nascem
das gratuidades, e das gratuidades nascem os sonhos, fantasias, utopias, e todo
o uni-verso se abre, chega a escancarar-se, diante do sentimento de vida que
deseja ser real, ser realidade, ser húmus e seiva de novos versos, inspirados
no uni-verso do mundo e existência.
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Confesso que, enquanto delineio e burilo esta
reflexão acerca de quem entra no inferno perde todas as esperanças, em primeira
instância, porque a segunda começa agora, inicia-se com pujança “quem entra no
céu conserva-as a todas”, e descer as nuvens brancas e azuis, instalar-se na
terra, tornar tudo uma mentira artística, estética, filosófica, que seja pedra
de toque de outro real e real-idade.
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Não houve um só instante em que a gargalhada
insolente, em que as insolentes meiguices, as meiguices insolentes do inferno
não tenham estado presentes... Inclusive, várias vezes passei o dedo indicador
abaixo do queixo, próximo ao “pomo-de-adão”, sentia coceira, mas tinha de
manter a seriedade, era-me imprescindível a sinceridade, tudo tem limite, ainda
mais quando se trata de ser lá homem sensivelmente avesso à razão dos dogmas,
dogmas da razão. Nestes termos, quem!...
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Em verdade, estive afastado destas anotações nesta
agenda. Havia-a perdido nalgum lugar da cidade, deixado-a na mesa de algum
restaurante, bar, botequim, em casa de alguém, nalgum estabelecimento comercial
onde estive. Anunciei na rádio, prometendo um agrado quem a encontrasse,
tratava a agenda de anotações, precisava delas. Nada. Perdida, perdida estava ,
fazer o quê? Não diz o adágio popular que não se chora o leite derramado?! Se
quem a encontrou, lendo, percebendo estar com uma obra em mão, poderia publicar
em seu nome, era só mudar. Equívoco dos grandes. Quem quer que seja diria,
apontaria o autor com todas as letras. Hora dos direitos autorais. Se o editor
fosse mais esperto do que já é, perceberia a pessoa não tinha condições para
escrever o que está registrado. “Esta linguagem e estilo são inéditas, não
sendo seu, acredito mesmo não seja, vai entrar numa canoa daquelas mais
furadas, não serei seu companheiro de afogamento. Estou-lhe avisando. Depois,
não re-clame”. Ninguém iria ousar uma publicação neste nível, com a consciência
de não ser quem a apresentava. Quanto aos plágios, lixava-me para isto – virou
moda agora “lixar” -, ninguém seria capaz de fazê-lo, mudasse única palavra
seria de imediato reconhecido. Conformei-me com a perda, a dor dela continuava,
com efeito. Dias depois, estive no escritório de contabilidade de um grande e
mui querido amigo, quando sua secretária me disse haver deixado lá, deixei-a
sobre a poltrona da sala de recepção. Mostrou para Gustavo, quem lhe disse pela
letra já sei de quem é. “Guarde, ele voltará em breve...”. Ad-mirei-me com a
dignidade de Gustavo, mesmo sabendo de quem era, não averiguou, lendo
passagens, na primeira página estavam todos os meus dados. Fiquei mais do que
satisfeito, contente, alegre, nada mais estava perdido.
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Assim explico, pois que tive uma nova experiência,
fiquei quase uma hora tomando um banho, dizendo coisas percucientes ao espírito
e alma, que não saberia aqui re-produzi-las, mas os sentimentos que as
originaram seguiram as veredas, habitam o íntimo do re-verso, mais precisamente,
o verso de re-versos in-vernos, as noites já são frias, faz um friozinho, a
in-fância dos tempos outros, como ora sinto muito presente a sede de
serenidade, que me faça re-verter o verso, mergulhando no verbo.
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Dizia-me um amigo que se o cão conhecesse ou
soubesse o que é o dinheiro, não seria amigo do homem, que eu completava com
ironia, nada de sarcasmo ou cinismo, ser-lhe-ia inimigo congênito, este é ainda
pior que o capital. Não me entende, compreende, o leitor, mas a poesia re-versa
da prosa e estilo, comungada, aderida, misturada, uma verdadeira miscelânea da
linguagem que se esfacela, multiplica em busca da re-versa eternidade das
palavras. Sinto-as na carne, nos ossos, no corpo.
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Comecei no inferno, sigo os caminhos do céu; quem
entra neste, preserva todas as esperanças que habitavam o espírito, a carne se
trans-formou em cinzas. Há tempo para cada coisa na vida, ora creio que o
re-verso do inverso é o desejo mais profundo.
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Quem entra no céu con-ser-va as esperanças de águas
límpidas. Sim. São quimeras que abrem outros horizontes e uni-versos, as
“querências” são tantas que apenas as sinto, a pena silencia-se.
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Ah, neste quarto de hotel, tudo isto pensando,
sentindo, sonhando colocar no papel como se me anunciam o verbo in-trépido, as
palavras ditas com amor, carinho, orgulho, agradecimento, dissera à
mulher-senhora de meus rumos e destinos: “A razão in-versa começa no inverso
para atingir o verdadeiro verso”, tergiverso os ângulos e perspectivas com que
venho tecendo destes sentimentos.
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Conhecê-los? Oxalá pudesse! As letras se anunciam,
a irreverência é inscrevê-las, transcendem.
Quer saber de uma coisa real, leitor! Escrevi um
poema para ela, o segundo da carreira, não tivemos filhos, mas a mãe habita-lhe
o espírito. Em sua homenagem:
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VERBO-MÃE
Palavra que re-vela
Espírito, entrega, compaixão e solidariedade
Sentimento que manifesta
Nascimento, amor, carinho
Que transcende os valores materiais
E amamenta os espirituais,
Movimenta o coração
Em busca da espiritualidade.
Verbo que da carne
Diz aos homens
O desejo de amor nascer
Do útero, buscar a alma.
Mãe.
Verbo-Mãe
Que das emoções sensíveis
Trans-forma a vida,
Muda o destino
Atinge o Ave que nos habita
E a Maria que nos acalenta
E a carne que nos evangeliza.
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Quem entra no inferno perde as esperanças. Quem
entra no céu con-ser-va-as, preserva-as a todas. Re-verso do in-verso.
Re-tornemos à vaca fria, as teclas esquentaram
muito, não as posso tocar: havia perguntado se você, caro leitor, queria saber
de uma coisa real. A pena seguiu outros sentimentos que se me a-nunciaram.
Acredito que sim, diante destas palavras e idéias, pensamentos, que ainda não
foram esclarecidos, oxalá possa durante a vida, se não esboçar nas entrelinhas,
o que, afinal, pretendo dizer, quero que seja re-fletido e meditado. Você
precisa de palavras sérias, não mescladas de cinismos, ironias, sarcasmos,
sentidos ambíguos: você precisa que eu diga as coisas, como elas são, sem
subterfúgios e jogos de linguagem e estilo...
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Pois bem: espíritos rasteiros não podem aceitar
razões de certa elevação, mas com esses não se teima, corre-se sério risco de
entrar pela porta da frente da ignorância e sair por um das laterais da
alienação. Quando entro na igreja pela de frente, visto as igrejas de nossa
cidade não ter a traseira, saio por um das laterais, vice-versa, dizem que não
se deve entrar por uma e sair pela mesma, não saberia dizer a razão,
apresentaram-me di-versas, acabaram-se misturando.
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Dos espíritos rasteiros, mantenho as devidas
distâncias, nada têm a ensinar-me, nada tem a contribuir com a minha
espiritualidade, só ela me interessa nos últimos dez anos. Tenho sérios e
profundos medos deles, jamais aceitei a ignorância, alienação, nunca me
imaginei absorvido por estas dimensões da alma, são perniciosas, o orgulho da
raça me habita do éden ao leste das pré-fundas.
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Estava no escritório, arrumando as correspondências
na gaveta, quando a senhora entrou, dizendo não haver carne, fosse ao açougue
comprar um quilo de contrafilé, não como sem ela. Não por ser viciado em carne,
trata-se, com efeito, de cultura: somos os... de cultura agropecuária,
esbanjamos carne e gado no pasto, pode faltar no prato arroz, feijão, verduras,
legumes, menos a carne nestes casos com farinha e cebola à vontade.
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Saudoso amigo costumava perguntar, quando lhe
visitava, se não tinha comido muita cebola nos últimos três dias, caso
contrário, voltasse depois. A mamãe dizia que muitas vezes em sua vida comeu
feijão com angu, em sua casa faltava a comida, o pão de todos os dias.
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Res-pondi à minha senhora que, se faltava a carne,
havia outras coisas. Não contestou a sabedoria da res-posta, mas confessou
entre tímida e meiga, não compreendendo eu o por quê disto, a razão do espanto
e consternação em que chegava ao escritório, era o receio de não haver mais
carne em..., a única cultura que não se tornou vício, não foi adulterado ao
longo da história. Disse-lhe estar muitíssimo inspirada, inspiração que raiava
ao cinismo. Rimos á sorrelfa dos idílios compactos.
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Tudo o que aqui está inscrito e registrado me
levaria longe, se tecesse as idéias com qualidade e rigor, esclarecendo os
mínimos pormenores, limito-me ao que fica, com muito esforço e trabalho nestes
três dias, falo apenas disto que é entrar no inferno e perder todas as
esperanças, entrar no céu conservá-las a todas. Há uma pergunta que não inda
capaz de responder com sabedoria: a esperança é para o tempo de vida na terra,
para a contingência, estimular o homem a sempre buscar realizar seu sonho de
espiritualidade; para que conservar as esperanças no céu? Não se precisa mais
delas, o objetivo foi alcançado, vive-se a espiritualidade. A questão de haver
preenchido tantas páginas de caracteres e símbolos, e que desejo a isto
res-ponder, confessando ser um mistério inextrincável, precisava estar no céu
para saber, por enquanto continuo as buscas, os desejos são tantos que não
saberia quantos.
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A fé é tudo. Angustiado e entristecido com as
dificuldades da expressão do que me vai dentro, colocar as verdades que me habitam
a alma, e ser um homem limitado – as letras enganam: com elas quem quer que
seja que escreve pensa não ter limites, pode-se tudo com elas, desvenda-se
todos os mistérios e enigmas, a verdade é que os mistérios se multiplicam à
re-velia, restando apenas nós górdios na garganta e uma dor fina no peito.
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Assim, entrei na igreja pela porta da frente,
ajoelhei-me num dos bancos, fiz algumas orações, pedindo a Deus por mais
limites haja, e são necessários, ao menos me concedesse a sabedoria de vivê-los
com dignidade e honra. Sai por uma das portas laterais, e, descendo a rampa em
passos comedidos, cabeça baixa, pensava comigo mesmo que o Eclesiastes, que tem
resposta para tudo, alguma dará a isto de quem entra no inferno, perde todas as
esperanças, que entra no céu, conserva-as a todas; se não fosse a urgência de
uma chave de ouro, iria buscá-la ao próprio livro sagrado; não podendo fazê-lo,
contento-me em supor que dirá aquilo que tem dito a todos, em todas as línguas,
dialetos, principalmente no latim, única língua que ilumina os mistérios da
vida, embora alguns espíritos sábios digam ser o Grego: “vaidade das vaidades,
é tudo é vaidade”. Seria vaidade pensar que no inferno se perde todas as
esperanças, no céu conserva-as a todas. Talvez sim, talvez não. Contudo, não é
vaidade con-templar os mistérios da vida e do além.
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O homem é um ser-para-o-livro, origem desta
sabedoria milenar é a Bíblia Sagrada, o livro divino, se preferir assim. Pouco
se lê nesta comunidade, é o que muita gente afirma, com consciência ou sem ela,
há longos e longos anos, antes mesmo de meus pais existirem na terra, é o que
acaba de dizer um colunista de tablóide. Dá ele como uma das causas do desamor
à leitura ao estilo e linguagem chinfrins, à inautenticidade dos pensamentos e
idéias, a falta de habilidade em descrever as ideologias e interesses, ficam
sempre sem sal – que nada haja debaixo do sol, verdade inconteste e milenar,
entende-se e compreende-se, mas isto não é fronteira, limite para não desejar
in-ov-ações e re-(n)-ov-ações , criatividades e sonhos, enfim a arte é um
des-afio perene, eterno, imortal. Também o desamor à leitura justifica-se pelo
ruim aspecto dos livros, a forma desigual das edições, do mau gosto em suma.
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Quem sabe, leitor, você, quem entrara nesta
leitura, ficando com efeito deslumbrado com as novidades que apresento nas linhas
e entrelinhas, pela perfeição com que desejei delinear o misterioso e inaudito
das esperanças e fé, pela riqueza do conhecimento, profundidades dos sonhos,
pela beleza da forma, apesar de não esperasse atingir este nível, despertado se
haja para seu interesse pela leitura e a espiritualidade que dela advém.
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A própria terra vive, os homens existem, infelizes
ou não, angustiados ou esperançosos. Tenho o dom, invenção, tenho o talento da
criatividade da composição, da descrição e da vida, que coroa tudo, desde a
simples letra ás palavras consumadas.
A miragem, o oásis que se me apresentam no deserto
dos mistérios e das coisas inexplicáveis, que dá o título a esta escritura
inaudita, é a visão ilusória, quimérica, fantasiosa, relativamente vivida, experienciada,
ao futuro desejado e sonhado por mim, e o desmentido que o tempo me traz como
ao que anda no deserto.
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Termino, dizendo que nada esclareci sobre entrar no
inferno e perder as esperanças todas, entrar no céu e conservá-las a todas, mas
a íntima verdade, e la não poderia escapar ou fugir, mesmo que a língua,
linguagem e estilo, tudo esclarecesse, tudo des-vendasse, é própria delas
multiplicarem as dúvidas e os limites, era nada res-ponder, apenas classificar
e id-“ent”-ificar a eternidade do verso re-verso do in-verso.
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Felizmente, nas noites... já se anuncia o in-verno,
a única estação do ano em que me sinto presente e forte, a presença do espírito
voltado para a sublimidade.
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Contra a morte, não há medicamento nas hortas.
#RIO DE JANEIRO, 18 DE MARÇO DE 2020#
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