EX FUMO DARE LUCEM/ALMAS BRANCAS DE PAPEL GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Todo o bem me parece eterno, venham os ossos,
tristonhos e graves, os ócios, misteriosos, enigmáticos, bem como as aves, que
escafederam do além, que picaram a mula dos confins, venha o esqueleto seco e
trincado. Imagino um esqueleto dançando uma cracoviana, uma dança muito antiga.
Imagino um músico executando-a com primor e charme. Imagino um público
aplaudindo, e, no final do recital, o músico agradecendo, parodiando
Shakespeare: “Há entre a vossa idade e a minha idade, muitas mais coisas do que
sonha a medíocre filosofia”.
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Tiro o chapéu às caveiras – aquando a morte de um
tio, sonhei três dias antes o coveiro abrindo uma sepultura, restava apenas a
cabeça, que segurei no sonho e observei em todos os detalhes e através de
várias perspectivas e ângulos. Não posso dizer, aqui e agora, se procurava
algum coisa nela, se esperava encontrar algo, penso que sim. Três dias depois,
estive no cemitério, quando abriram a sepultura da família, outro seria
enterrado, restava apenas o pé e dedos de outro parente já falecido; quando o
coveiro mo entregou, tirei o chapéu que com ele estava, pondo-o sobre uma
lápide, examinando-o com olhos de lince, o questionamento logo se me anunciou
na mente: por que no sonho foi a cabeça, na realidade é o pé?
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Ora se me dá, dirá o leitor!... Preocupar-me em
res-ponder isto! O que vai acrescentar? Deveria preocupar-me sim com outras
coisas. O leitor não está acostumado com a sede que me habita de questionar e
res-ponder também às sandices. Por que não? As sandices procederão dos mistérios.
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Ali, creio haver entendido a diferença entre os pés
e a cabeça, aquilo de dizerem que alguns indivíduos trocam os pés pela cabeça,
não há possibilidade de reversão, trocam as mãos pelos pés, vice-versa, ainda
outros que andam com os pés nas nuvens e a cabeça nas pré-fundas do inferno.
Desde então, estando frente a uma sepultura, nela está sendo enterrado um
cadáver, tiro o chapéu e faço três gestos com ele na mão esquerda, o detalhe é
um verdadeiro tesouro para não se chegar a nada, mas alguém pode, enfim,
des-cobri-lo e rir até fartar-se ou enfartar de tantas idiotices, mas se
analisar noutra perspectiva a visão será outra, Gosto da respeitosa liberdade
com que Hamlet fala à do bobo Yorick. Esqueletos de mostruários e vitrines,
fazendo gaifonas, sendo de verdade ou não, é coisa que me aflige.
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Há tantas coisas gaiatas neste velho mundo sem
porteiras e cancelas, que não vale a pena ir ao outro arrancar de lá os que já
dormem o sono eterno, os que descansam na paz do Senhor.
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Referi-me, antes, à explicação de tirar o chapéu
sendo aberta uma sepultura, sendo enterrado o defunto. Não seria necessário
gastar tanta tinta, linhas do papel, espremer com os miolos a cabeça, para
dizer ser um homem em demasia piegas, suspeito que a pieguice é conseqüência
dos exageros da alma e paradoxos do espírito. Tiro o chapéu às caveiras por ser
piegas. Deixemos de lengalenga com intenções espúrias de risos, a coisa é muito
séria.
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Escrevo sobre isto de todo o bem me parecer eterno,
enterrar os mortos é fazer o bem ao espírito que nele habitou por longos ou
curtos anos, mesmo que o espírito tenha sido digno ou galhofeiro, honrado ou
cínico, bom ou canalha, o cadáver merece decompor-se na paz e silêncio da cova.
Deixemos uma fala de néscios de lado: “enterra-se o cadáver porque a catinga da
carniça humana é mais do que insuportável”.
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Amigo íntimo, já falecido, Deus o tenha em Sua
eterna misericórdia e compaixão, dizia que não passava na frente do trem em
todas as travessias desde a Praça da Estação até depois do Ponte Leão, de lá em
diante sem problema, não conhecia nem esperava fazê-lo, sem calcular a hipótese
de cair entre os trilhos e o tempo de levantar-se e chegar ao outro lado.
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Levo sua atitude um pouco mais adiante, escovar-me
no alfaiate ou costureira próximos. Próximo pode ser longe, muito mais longe é
a eternidade, dizia alguém de minhas relações intimas.
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Estou aqui com algum esqueleto de obra nova, com o
cadáver de idéias alvissareiras e filosofias inéditas. A arte, a beleza e o
belo, o estético procederão dos ossos, nos ossos das mãos e dedos encontro a
pura e singela inspiração, nos de cabeça, recrio as idéias, crio pensamentos,
reflexões, meditações, nos dos pés, piso as vulgaridades e ridículos da
imaginação fértil, nos do corpo inteiro in-vestigo a alma. Não aprecio
cadáveres, o máximo que posso fazer é ficar algumas horas ou alguns minutos ao
lado do defunto, assistir ao enterro.
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Não. Esqueleto de obras – quem sabe? – seja talento
dos mortos. Passam o tempo da eternidade, um modo de se divertir, esquecer um
pouco da ociosidade – há quem afirme preferir a vida de lutas e cansaços à
eternidade de ócios depois da morte.
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À morte tudo é preferível. Esqueletam a obra, não a
escrevem, nem a Bíblia há no Paraíso Celestial, livros são coisas do mundo.
Quem sabe no silêncio da sepultura, enquanto os vermes comem a minha carniça,
esboce obra em que a cada pedacito de carniça, não disseque uma neurose, erro,
defeito, ironias, problemas, canalhice – amiga de outrora às vezes me pedia
para citar dimensões positivas da vida, para ela eu só elencava as negativas de
imediato, até pensando haver esquecido alguma, mas só dizia três positivas
“felicidade, esperança, alegria”, três coisas que desejava viver, levaram-me
vinte e três anos para vivê-las -, e no céu a esboce no espírito, reencarnando
é só escrevê-la, trabalho mais que fácil, já estava pronta e acabada, desde a
eternidade. Talvez. Em verdade, estarei descansando da pena, esvaziando o
espírito das letras, um modo de purificação da mente, passei a vida pensando e
escrevendo…
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Imagine quem puder a cena: o cadáver decompondo-se
a sete palmos, o espírito no Paraíso Celestial esboçando obra para outros
tempos de sua reencarnação.
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Para o nosso mundo moderno, só pensar e escrever é
a imagem perfeita do ocioso, miserável – nada se ganha com letras e filosofias,
a miséria, pobreza são inevitáveis. No mundo sou ocioso, no além trabalho o
esqueleto, esboço a moldura, delineio a estrutura, a obra mesma ficará para
outra vida.
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Se não esqueletando uma obra nestas páginas, como
acabo de esclarecer e de-monstrar, estou tentando desvencilhar-me do espírito
mórbido desde que acordei com a imagem dos ossos que veio à mente pura, nítida,
transparente, abrindo os olhos.
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Nada disso. Na falta de inspiração, de idéias
alvarissareiras, escreve-se sobre esqueletos que é modo e estilo de passar o
tempo até que a-nuncie outra vida, sem as letras a vida é puro ócio, sou um
perfeito néscio. Jamais vislumbrei qualquer solução para estes estados de alma,
deveria dizer, então, “estes dois que habitam a natureza humana”?! Por todo o
sempre, ocioso, néscio.
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Creio agora estar, ter estado, melhor dizendo,
equivocado – aí é problema de juízo e não da natureza humana, a menos que se
conceba o juízo habitar a natureza humana, o que é absurdo sem precedentes na
época áurea e alvissareira do existencialismo: o esqueleto não fora a imagem da
falta de inspiração, fora a mais pura que em quarenta e sete anos de pena,
tinta e papel fui capaz de sentir. Que belo conforto! Que esplêndida
compensação! Admira-me isto por fosse noutras situações e circunstâncias
ser-me-ia difícil paliativos para as dores da alma, mas nesta não precisei de
qualquer esforço, surge-me nítida e transparente.
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Jamais escrevi uma obra que merecesse os píncaros
da glória, reconhecimento não tive nem dos de cabeça vazia, única réstia de
miolo, tomei da pena e comecei a escrever à luz do esqueleto – por favor,
leitor, não imagine que haja colocado um esqueleto ao meu lado já que minha
imaginação é fértil, para olhar e inspirar-me, quando a mão não mais ser capaz
de imprimir caracteres, fica suspensa, os olhos fixos nos ossos brancos e brilhantes
-, assim superando todas as incapacidades, ausências de talentos. Esqueleto e
ossos legaram-me a imortalidade, posso desde já considerar-me sentado numa das
cadeiras do Olimpo. Só colocar os pés fora de casa, de manhã, que passarei o
dia inteiro ouvindo aplausos, seguido por bajuladores, escutando a máxima que
inventaram em minha homenagem: “o escritor dos ossos e esqueletos”, isto é,
foram eles que me legaram a realidade dos valores literários e filosóficos.
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Deixe-me esclarecer: nem fui reconhecido por
aqueles de cabeça vazia, pois são os primeiros que o fazem, precisam chamar a
atenção de suas preferências, importâncias, não se pode nem imaginar uma
personalidade em qualquer nível do conhecimento que começam a arquitetar seus
modos de aproximar, mostrar para toda a comunidade com quem está andando, o que
é muito comum em nossa comunidade. Alguns levados pela inveja, ciúme, despeito,
não sei se tão enrustidos assim como homens de conhecimento dizem e podem
de-monstrar com suas experiências e vivências; outros por vontade de serem
importantes por um tempo, mesmo que mínimo.
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Pela manhã de hoje, indo à padaria próxima ao
cemitério, ouvi um de meus inimigos congênitos dizer com todos os fonemas haver
chegado o “grande escritor”, dando uma risadinha esgarçada, modo e estilo de
enfatizar seus desejos recônditos de atenção, havia alguns conhecidos meus,
deram-me bom-dia, continuaram suas conversas. Inimigos congênitos não dão três
tapinhas nos ombros, mas este fez questão de fazê-lo, perguntando sarcasticamente:
“Estou certo ou errado? Você é o nosso grande escritor ou não é?”. Daquelas
perguntas que deixam o homem com orgulhos da raça e estirpe, enquanto os
presentes riem a bandeiras soltas no silêncio. Disse-lhe o mesmo que Cristo a
Pilatos, “você o diz”, o que despertou a atenção de alguns que fizeram gestos
de sim. Desconcertei-o, tornou-se sério, sentei-me ao banco, tomei o café,
comum um pão de queijo delicioso, o paladar tremeu de prazer. Aproximou-se
alguém daqueles que me cumprimentaram, dizendo-me: “Você sabe dar uma res-posta
bem dada, pena é que ele não tem capacidade alguma de entender”. Respondi-lhe
até esquecendo-me de que estava mastigando, não me preocupando em colocar a mão
frente à boca, gesto de educação e bons princípios: “com poucas palavras corto
de vez com os orgulhos. Nada me persuade de que ele esperava que dissesse que
sim, estaria à vista de todos, seria objeto de galhofa, dissesse que não, seria
modesto e a modéstia continua mostrando e revelando a vaidade. Ademais, ele queria
mesmo é ser alguma coisa por um tempinho de nada”. A pessoa não me deixou pagar
o meu lanche.
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Compreendi o que estava acontecendo: práxis de
nossa comunidade tais manifestações duvidosas, ambíguas, misto de cinismo e
orgulho, mas em verdade para se sentirem reconhecidos e importantes, enfim se
sentem orgulhosos e valorizados com a presença de uma personalidade
intelectual.
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Despedindo-me do conhecido, desejos de muitas
felicidades e mais sucessos ainda, sem dar-me três tapinhas no ombro, indo embora,
urgia que tomasse da pena, escrevesse. Passei frente ao cemitério, lembrei-me
de Brás Cubas, um velho conhecido de minha mãe, freqüentava muito a nossa casa,
imaginei esqueletos, ossos, cinzas, corpos em decomposição, debaixo dos famosos
sete palmos. Inspirei-me em demasia; só faltou arrotar sabedorias
“post-mortem”, "in memoriam", bem não sei que máxima latina expressa
melhor a idéia, de-monstra com perfeição os “sentimentos de gaveta”.
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Leitor, se você ainda não conseguiu entender e
compreender estas letras significam, este humor mórbido nelas – a senhora já
explicou com categoria que fiquei hospedado em casa de íntimos próximo ao
cemitério, uma explicação genuína, em princípio, a inspiração, mas seria
tedioso as moedas tivessem somente a cara -, o que mesmo intenciono dizer com
percuciência e sabedoria, pense na máxima latina “ex fumo dare lucem”, isto
poderá ser côdea das idéias, réstia do pensamento, grão da espiritualidade, e
assim aproximando de uma luz de outras veredas e outros horizontes.
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Tudo, porém, se confunde na minha imaginação, e a
realidade presente ou passada é prontamente desfeita na cinza da poesia, no
esqueleto da obra.
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Aí, sim, é possível ainda reunir os membros do
esqueleto, não diria do cadáver, porque os pedaços de carne e carniça engolidos
pelos vermes não deixam vestígios de modo que a estrutura dos ossos permaneçam
intocáveis, pode-se ver o todo deitado e o inteiro estirado, qualquer toque
desfaz a inteireza, isto quando não desmonta tudo, só não transformou em cinza
por ainda exigir um tempo considerável, a carne apodrece num piscar de olhos,
os ossos demoram tornar-se cinzas, esquecem-se na terra...
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Sou perfeito analfa no que tange a sepultura,
mausoléu, só sei que um cadáver foi enterrado, o que sobrou de uma vida de
sofrimentos e dores, decompôs, decomporá, decompõe, já basta. Outro dia estive
pensando: em sepultura comum, após certo tempo, restos e terra se confundem;
nas gavetas de mausoléus, poder-se-á encontrar o esqueleto na íntegra, sem
ossos aqui e ali? Perguntei alguém disse-me: “Se jamais for aberta, cinzas. Se
for aberta, dependendo do tempo ossos espalhados. Não sei se me entende?” Encontra-se
o esqueleto, encerrei o assunto. Mas a cabeça continuou o seu itinerário de
lembranças de entes muito queridos que se foram para sempre.
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Lembrou-me Ernesto Frontim que enlutou a semana
inteira da família e da comunidade. Muito difícil saber quem não estudou com
ele desde os idos de 1950 até agora, professor de Língua Portuguesa, sabia tudo
sobre ela. Espírito lento e culto, que os jornais, palestras, algumas vezes a
Tribuna viram sempre juvenis os seus conhecimentos, erudito e clássico da
cabeça aos pés, recolhera-se há alguns dias, oito, flagelado por doença
incurável, câncer no estômago, que alguns dizem ser conseqüência de muita
cachaça que tomou com conhaque. Não perdera a correção da língua, o vocabulário
rico, riquíssimo, bilionário, em última instância, não perdeu o riso, gesto,
tinha apenas a natural e espontânea melancolia dos doentes incuráveis.
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Os rapazes e moçoilas que só têm vinte anos não
estudaram com ele, não assimilaram o néctar da erudição, a mais fina língua que
nasceu em nossas terras, desde o início de nossa civilização. Suas letras,
caligrafia, góticas com ornamentos barrocos, lindas, lindíssimas, a todas
sobreviverão com mesmas louçanias de outrora.
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Suas horas eram passadas na biblioteca, no alpendre
de sua casa, lendo suas obras, falando de coisas do espírito, com quem o
visitava em dois anos de dores e sofrimentos, poesia, filosofia, história, ou
da vida de nossa terra, anedotas políticas e recordações pessoais.
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Morreu. É o fim de todos nós algum dia, tornar-nos-emos
esqueletos, tornar-nos-emos cinzas – lembrou-me algo: “se se torna, não é; se
é, não se torna”, serão mesmo que não somos?
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Veremos a eternidade, ou definitivamente pela
loucura, ou provisoriamente pela morte. Humor cínico in-vertido para entreter o
leitor, enfim morte, esqueleto, sepultura, cemitério, gavetas, é assunto isto
muito, muitíssimo mórbido. Os que não têm talentos e competência ficam pasmados
com as medalhas que receberam com os prêmios que lhes caíram nas mãos, os
aplausos e reconhecimentos imitam nisto os que desejam estar no lugar deles,
faltam-lhes a política, que se pasmam com a falta de senso dos homens, são
talentosos e capazes, tornar-se-ão esqueletos sem desfrutar a mínima alegria
por seus frutos e méritos.
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O talento está em fazer de assuntos fúnebres e
mórbidos assuntos sarcásticos e espirituais – ou pelas idéias ou pela
brincadeira com as palavras. Em verdade, prefiro escrever como reflito, é
natural que os leitores se sintam de queixo caído com a erudição de linguagem,
língua e estilo, este trio esquelético que se encontram em todos os templos das
letras e das artes, é natural que caiam o queixo com a profundidade nelas
re-veladas e tornadas questionamentos espirituais, a palavra trans-forma
qualquer vazio ou solidão, silêncio. Um espírito sensível re-colhe e a-colhe a
todos os sentidos.
#RIO DE JANEIRO, 18 DE MARÇO DE 2020#
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