TRÊMULO A-NUNCIO FALA NAS ORIGENS DO MEU SER - GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
"O homem foi "lançado" pelo próprio
Ser na Verdade do Ser, a fim de que, ec-sistindo nesse lançamento, guarde a
Verdade do Ser; a fim de que, na luz do Ser, o ente apareça como o ente que
é." (HEIDEGGER)
Epígrafe:
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"O céu é o limite, quanto possibilidades e
concretizações, aferidas ao Ser, na sua tenra originalidade, onde busca e
inquere seus sonhos e ideais ao historificar a própria existência." (Graça
Fontis)
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Ouço-os de novo a esses cânticos anônimos, anômalos
de regência, que sobem das regas algures, em parte alguma, como voz da própria
terra, sussurros e murmúrios de suas cavernas, buracos e grutas, vulcões e
abismos, como lamúrias de suas próprias entranhas rasas e profundas; eu as
revejo a essas luas enormes na ascensão majestosa de uma noite quente de Verão,
na madrugada, re-tornando a casa, ninguém nas ruas; eu os sinto ainda a esses
aromas no vento, degusto essas maresias no tempo nublado, nas ondas marítimas
que tocaram as docas no itinerário até a praia, oh, realidade de amanhã, e para
sempre, não sou de lugar algum, sou do mundo, e que aspiro ainda de narinas
dilatadas para que a sua realidade entre em mim e seja real, que os possa
sentir e deliciar-me com eles.
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Deixai os cavaleiros cavalgarem por suas estradas,
Ouvindo e escutando os cânticos anônimos,
Pastores e ovelhas dos campos, dos vales
- Estes "vernáculos", mais antigos que a
"cidade de Braga",
Que significavam a perfeição da natureza,
A vida simples e bucólica,
Tornaram-se hoje símbolo, metáfora, signo
Do Nada à espreita do "Hades Celestial" -
Sentirem profundo o que é "Silêncio da
Verdade"
Por quando o crepúsculo, entardecer.
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Deixai o palhaço seguir o seu destino,
Sem tablado, sem picadeiro, sem luzes,
Risos e aplausos,
Há outros modos de fazer rir as crianças, os
adultos,
Outras terras,
Sentir profundo o que é "Silêncio da
Humanidade de Ser"
Por quando o alvorecer resplandecendo nas ruas,
alamedas.
Amanhã partirei,
Deixo o picadeiro para sempre.
Sentar-me-ei no banco junto de Carlos Drummond de
Andrade,
Contemplarei as ondas marítimas.
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Deixai o escritor dizer o "adeus" solene'
Ao seu lugar de nascimento,
Esquecer-lhe...
Não pertenço a este mundo, não me reside este
mundo.
As suas origens são outras, fê-las, construiu-as
com outros adubos,
Sangue não são família, parentesco.
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E um trêmulo a-núncio fala nas origens do meu ser,
de minha obra, de meus pro-jectos, de meus desejos e vontades de realizá-los
com perfeição e apreço, no que os trans-cende e assoma no ilimitado de mim.
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Voz obscura de alegria enigmática, vértice de um
encontro comigo, vertente de uma visão plena do finito das con-tingências, ó
realidade perdida, imagem desvanecida no horizonte dos horizontes, voz submersa
a todas as vozes, e que fala ainda quando elas se calam e eu ouço com o ouvidos
sem ouvir, escuto com o cor-ação sem escutar, e se a-nuncia quando tudo se
esgotou, quando tudo se esfumou, e bate obliquamente como pancada leve no
ombro, e que se abre além da hora mais longínqua como uma varanda, e que
irradia ainda de impossível para além de todos os possíveis, e que recusa todas
as razões para ser e é ainda, e que inicia a minha vida onde ainda não há
início, memória de um tempo antes do tempo, de um começo antes de seu
verdadeiro início na origem dos segundos e milésimos deles, do lugar do meu
nascimento verdadeiro, sede e princípio de divindade que ainda não se corroeu,
que não foi corroída pelos instintos primevos do homem.
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Lâminas de águas in-fin-itivas
Afiando de esplendor e maravilha
As fontes uni-versais do há-de ser a conjugação
Da compl-etude do "nós" e a perfe-ctude
da vida e do ser,
Conjugação regenciada de ternura, afeição, afeto,
Gerenciada de reflexões, indagações,
questionamentos,
Sin-estesiando o pleno com as cores do arco-iris,
Com as perspectivas das imagens coloridas da peça
de pintura,
Linguística e semântica do espírito-metáfora da
verdade-amor,
Semiologia e estética com a morte na alma, com a
liberdade de Ser.
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Estilística da "Epígrafe Régia",
Escrita nas estrelas dos sentimentos e emoções,
Registrada nas constelações das utopias da verdade,
Prescrita contra os ventos da escravidão,
alienação.
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Eis porque a minha saudade a re-conhece a essa
origem absoluta que não é sequer “memória do céu”, porque o próprio céu é já
uma explicação desta voz mais antiga do que ele, é já uma concretização, ainda
que para lá do mundo, de um apelo que vem de além do mundo, além-mundo, e além
de todas as possibilidades de sua ec-sistência, do aquém de todas as alternativas
de minha historicidade e historial-idade.
(**riodejaneiro**, 06 agosto de 2019)
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