#PALAVRAS DE PÁGINAS VIRADAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Ei, você, olhe pela janela da sala-de-visitas
Há boêmios passando, há cão vira-lata fuçando o
lixo,
Há tiros sendo ouvidos, aqui, lá, acolá,
Bandidos e autoridades em conflito,
Há bandidos tirando vidas,
Estão nas tintas para o que fazem,
Não eu, sinto-me triste
Tenho que ir...
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Houvera pretérito de lembranças nítidas e nulas,
re-colhidas e a-colhidas do momento, se se desejar, instante-limite na ponta da
língua as palavras descritas da conversação, ouvindo-as, no cume da Serra do
Cabral, no município de Várzea da Palma, Minas Gerais, alto-inverno, a neblina
e as nuvens, entrelaçadas, quiça me prospectivasse, dissesse-as ipsis litteris,
passaram-se trinta e seis anos, estava diante de um abismo, evadi-me, contudo
permanecendo no mesmo lugar, trocando dedos de prosa filosófica na companhia de
dois rapazes, tomando aguardente, comendo carne assada, deitado na grama
rasteira, peculiar aquela região.
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Páginas... Páginas... Páginas...
À esquerda, na esquina da Tabacaria Sete Vinténs,
Sombra acinzentada na calçada, anoitecer,
Bebericam vinho francês, fumam charuto, cachimbos,
Homens de ontem, homens de aqui-e-agora,
Causeiam à mineira trocas de idéias,
visões-do-mundo,
Lembraram-lhes princípios conservadores,
Recordaram-lhes valores preservadores...
La Mezza Notte
Medo...
Dúvidas,
Equívocos
Perene que se artificia de mistérios e enigmas,
Liberdade de nonsenses e nonadas
Obtusam sonhos metafóricos,
Ofuscam fantasias,
Equivocam as caliências literárias,
Tendências a sandices de finas verborreias
dialéticas,
Mas após re-verter as perspectivas,
Para mim, sonhando, além de memórias esparsas,
Vestígios e lapsos de razão...
... O ipsis das metáforas da plen-itude que
re-versa as contingências do abismo, quando a re-novação das esperanças se faz
no entre-laçamento nupcial dos volos de verbos cujas gerências são lumes da
dialética do nada e ser, na koinonia simbólica dos latinos lácios do infinitivo
circunvagado de estrofes do perpétuo nada, poiésis e poiética da linguística
pura e prática do vazio, poemática do absoluto, das cores e croquis, ideais da
COR-UNA das palavras e da pintura.
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Ei você, quatro rapazes bebendo
Na sala-de-música da casa de um deles,
Jovem de treze anos bebe litro de Mansion House,
Destino: hospital, coma alcoólatra,
Não lhes importa as coisas do mundo,
Mas eu, não
Tenho que partir, partir para as coisas da
existência.
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Alvorecer de hoje visto sob os linces de amanhã,
visão do imperfeito subjetivo... De minha cadeira, analiso com olhar à solapa
das clausuras na imanência da própria razão, olhar crítico, a calça jeans, a
camisa Polo, suspenso no cabideiro, a mania que tenho de me vestir, às carioquicéias
de
'tamos aí", a liberdade é levar a existência
na flauta, dançar, carnavalescar a só expressão de ideais, lilás, o que era
moda nenhuma, solenemente o "ser-aí". O canto da coruja saudando o
silêncio milenar do genesis, solidão secular do cântico dos cânticos sob a
cintilância da lua nova que perfect-erseja o sublime de miríades do verbo do
infinitivo, hoje simplesmente estivera eu sentado na varanda de minha
residência, esperando a esposa, o footin´ de final de mês a iniciar...
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Houvera felicidade e saltitância por vislumbrarem a
travessia do vazio em direção às forclusiv-itudes da esperança perfeita, dinar
da ribalta do silêncio, picadeiro da solidão.
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Ei você, Roberto Drummond dissera
Compraria o livro de dois jovens escritores,
Parceria de ambos,
Num lançamento, por causa de um deles,
"Ser não é mostrar e mostrar-se não é
ser",
Resposta do outro quem Roberto dizia não ser
escritor
Sentiu feliz, sentiu-se vencido,
Mas eu, não.
Tinha de andar, andar, andar,
Mochila nas costas, mochila nas costas
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Orvalh-itudes de quimeras tocando as páginas
viradas, se amanhã houve de imortalizar os interditos de sonhos e esperanças,
melancolias e nostalgias, pretéritos, cujos estilos de linguagem olvidei,
ad-nominando e ad-verbiando o caos do efêmero, seria hoje, após sono profundo,
nem me lembra se sonhei - ninguém fica sem sonhar; pode é não lembrar do sonho;
a inconsciência possui tramoias em seus jogos razão, intelecto e sensibilidade
alguns são capazes de entender - a plena saudade de manhãs em que regava os
canteiros de flores, amava tocar o orvalho nas pétalas e folhas, dizendo-me
estar orvalhando as palavras, sorrindo de soslaio, a jornada era longa, sem
fim. Mister criar-me, re-criar-me, inventar-me, a verdade, as verdades me
esperavam nalgum terreno baldio de minh´alma, era engajar-me, arrancar-me de
mim, destrinçar-me, a faca afiadíssima de dois gumes do efêmero e eterno
cortava-me em todas as direções, a minha missão era o eu poético, utensílio que
amenizaria as dores da contingência, dialética da naúsea e dogmas do
"ser", como dissera à amiga num quiosque de praia: "Há dias que
nos sentimos mui putos com a vida, porque a morte existe, e noutros dias,
sentimos mui feliz e a morte que vá catar o que lhe sacia o desejo jamais a si
concebido de ser vida. A força do sonho; haveria de ser quem sou, as letras não
mentiriam, a verdade do "sou" seria registrada pelos dedos das mãos.
Hoje estaria sentindo e pensando estar bem próximo do que sonhava realizar; são
apenas arrabiscos fortuitos, quanto mais eu ando mais vejo metafísicas e
metáforas na poeira das estradas.
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Ei você, há vadias por todos os lugares,
Satisfazem as carências vulgares e medíocres,
Há bandidos tirando vidas humanas às pencas,
Não lhes dizem qualquer respeito o que fazem
Mas eu, não...
Estou triste, triste, triste
Continuo esta jornada de pensar as coisas da
existência...
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Houvera de pretéritos éritos de lembrança, inda que
ínfima, do alpendre do interior da casa, a tampa da cisterna arrastada, o balde
d´água sobre, por volta dos três anos e meio, a manivela que re-colhia a água,
aproximei-me com todo o cuidado, deitei no chão, olhei o fundo, o que me viera
naquele instante, que um pouco mais fundo, a visão não alcançava, água, quiçá o
cheiro de terra me haja tocado, o gosto, sabor da água, após filtrada, traz em
si a terra, que sabor inestimável. Tinha um nome esta frutinha que se colocava
na água a dar-lhe este sabor, infelizmente esqueceu-me sua graça. Olhei a mesma
cisterna com a honestidade de quem não se engana com o que olha, como quem
lavra a existência, e planta, e colhe, e vive, e morre, e olha. Mudou-se a rua
da infância, da juventude, tornou-se Avenida da Integração, símbolos obscuros
se multiplicam, vem um sopro que cresta-me a face e dissipa as palavras. A casa
fora vendida, a área do jardim com vários canteiros fora transformada em
quiosque, covil de alcóolatras; no futuro, ninguém se lembrará de que vivera
ali por quarenta e quatro anos. As vivências no crepúsculo de estar na via, conforme
o que sinto e penso de existir, de existir ser viver um sonho de mãos
entrelaçadas ao ser e à amada quem é o ÚTERO a gerar a EXISTÊNCIA das luzes que
guiarão as sendas e veredas de sonhos e esperanças, não esquecendo jamais de
que a verdadeira Face é o Outro de nossos sonhos em síntese de postura e
conduta estética-ética, peregrinos dos sentimentos do silêncio.
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Ei você, enquanto a mão segurar a pena,
Afianço estar arrasbicando letras no papel,
Estando com a alma fervendo com as coisas
"Extra ordinárias" do mundo, a língua
arde, arde, arde,
Tenho de prosseguir as andanças,
Tintas por todas as perspectivas,
Sinto-me contente, contente, contente.
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As dificuldades são esquivas, tomando em
consideração estarem fundadas e estabelecidas na obtusidade do nada,
nadificidade do obtuso; equívocas: as dúvidas que se a-nunciam são unicamente
uma fantasia para semente de outras tentativas e esforços. Diante de minha
adoração possessiva, poderia retrair-me e jamais voltar a cuidar delas,
transformá-las em facilidades, fazê-las curvarem-se, mostrar-lhes que não é tão
fácil vencer-me, sou osso duro de roer, sou cabeça dura, teimoso feito uma
mula.
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O silêncio arrogante refugiou-se no coração, a
solidão prepotente se entrelaçou nos liames do passado e presente, o deserto do
ser e não-ser se alinhou nas teias das esperanças e fracassos. Somente os
ouvidos aguçados conseguem de-cifrar o soluço de vida, o murmúrio de ser, no
coração enigmático das palavras, das imagens, dos sons, do intelecto.
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Não são grupos submergidos nas geleiras da insônia
e entressono, e que deixam desnovelar-se, menos que simples palavras, menos que
folha no outono, a partícula sonora a vida em si traz.
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Wish I could(Hideaway)... Pudesse alçar vôo...
Posso ouvir o trem de passageiros.... Levar a existência na
"flauta"....
#riodejaneiro#, 26 de agosto de 2019#
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