TORPE CHATIM DE ESTULTO PALAVRÓRIO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO SATÍRICO
Há íntima nascente do espírito, ó famosos sábios, ó
egrégios doutos, um bálsamo para as impetuosidades dos ventos que sopram nos
auspícios da colina onde os lobos uivam na lua cheia, bruxas passeiam no espaço
coberto de estrelas, com suas varinhas mágicas maestrando a sinfonia sideral,
querubins bailando atrás como fazem os fiéis atrás das matracas nas procissões
dominicais.
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Se o chego a conseguir... que júbilo! que dita!
Não precisarei mais, desde essa hora bendita,
Desde este instante sagrado,
Desde este limite episcopal, ecumênico,
após trabalhos mil como esses que frustrei,
dar por certas ao mundo as coisas que não sei,
são-me funestas, lúgubres,
dar por verdades às filosofias as idéias que não
elaborei,
princípios éticos que não desejei nas telas das
maledicências,
fundamentos estéticos que não compus na lírica
da balada caipira reverberando essências,
núcleos do sublime, idolatrando trevas,
breus do inevitável,
dar por metáforas e metafísicas às sonéticas
as ilusões da eternidade,
dar por sonemas às quimeras as sensações do além,
Ser-me-á fácil dizer o vínculo profundo
que uniu partes sem conto, e fez do todo um mundo
de um tudo a completude de todas as coisas;
ver a força motriz de tanto movimento,
e consignar-lhe a causa. Ah! desde esse momento
em que o cerrado enigma alfim me for notório,
foi-se o torpe chatim de estulto palavrório,
foi-se o ignaro mercador de sativas de parvas
verborréias.
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Há uma vela correndo no mar a sabedoria selvagem
que desperta todos os cantos dos que amam, falam a própria linguagem do amor
enamorado pela liberdade de ser.
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Há clérigos sentados nos degraus da igreja, após a
missa matutina, contemplando os canteiros do jardim público, o bem e o mal são
apenas sombras inter-postas e áqueas tribulações e nuvens passageiras;
seminaristas, estudantes de filosofia, passeando no Largo Rutten, dialogando
sobre a Fenomenologia do Espírito a suprassunção dos valores mundanos.
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Há juízes implacáveis em suas togas limpinhas e
cheirosas, acabadas de sair da lavanderia "Morus Adendis", emplacando
seus juízos e leis com o martelo da justiça aos réus que ousaram defender a
sabres e pistolas a aposentadoria das biriguetes noctívagas nas calçadas de
avenidas e ruas desfilando, condenando-os à guilhotina.
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Aos longínquos campos de algodão...
aos distantes campos de lírios...
à sombra serena do ulmeiro...
verbos regenciais de desejos do belo
conjugam do tempo e do ser a metafísica,
gerenciam do vento e das utopias a linguística
dos sonhos que esplende a todos os uni-versos,
a todas as "paisagens e riachos que iluminarão
idéias com novos brilhos,
pensamentos com outras cintilâncias",
metáforas con-cordam de verbais utopias
os sibilos ad-vindos da passagem dos ventos entre
as montanhas, o som das águas do rio na sua jornada na madrugada por caminhos
sinuosos.
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Aos remotos vales de orquídeas... aos afastados
pampas de ovelhas... às lonjuras de terrenos de canaviais... à soleira da
colina de oliveiras... in-fin-itivos que tematizam a solidão das esperanças,
gerúndios que artificiam de linguísticas e semânticas as semiologias das
palavras, as sonéticas dos sentimentos e emoções, particípios que nascem e
re-nascem das lácias línguas dos pretéritos, águias e condores sobrevoam o
deserto, e nalgum sítio do sertão cavaleiro conduz o gado a espaço aberto, sem
cancelas, sem porteiras, cantando trovinhas obscenas.
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Devaneios... Desvarios... Manhã, pós chuvinha fina
por toda a madrugada, tempo nublado, friozinho... o pé de pitanga entupigaitado
de flores, abelhas sobrevoando, tomando-lhes o néctar que será mel para a mesa
dos burgueses de colarinho branco. Ao longe, a neblina envela o mar, o bosque
que tanto inspira as alucinações constituintes das fissuras pelo eterno da
existência.
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Há fomes seculares, sedes milenares apocalipseando
a consumação dos tempos, enfiando a cabeça na areia das coisas celestes.
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Há boêmios e vagabundos passeando na praça central,
ouvindo músicas nostálgicas, a fonte luminosa ligada, casais sentados nos
bancos arrastando todas as coisas vindouras para o instante-limite de suas
fantasias do eterno amor.
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Há sequestradores muçulmanos torturando suas
vítimas, sentindo-se prazerosos, sublimes, felizes e saltitantes, por serem
soldados de Allah, enquanto elas sentem na carne as dores atrozes das torturas.
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Há um ad-vérbio entre vírgulas perscrutando o
espírito das gravidades temporais, às suas costas há uma eternidade.
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Há uma metáfora de cunho egrégio, universal das
universais, solsticiando a genesis da metafísica que acata solicitamente os
desvarios do pensamento ébrio de mazelas e pitis.
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Sorrelfas do aquém-tempo elencam,
alumbram venustas gnoses regenciais do vazio.
Centelhas de primavera na floração orquidisíaca
do amanhecer de simples ilusões do eterno
habitando o âmago da liberdade de criar,
re-criar as dimensões do Ser.
Da boêmia e sabedoria, o vento do silêncio,
a maresia da solidão...
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Há ipseidades, facticidades circunvagando idílios,
sorrelfas, quimeras; há forclusions, manque-d´êtres circundando medos,
inseguranças, náuseas.
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Há um canto de melancolia, salmo de nostalgia
artificiando pós regenciais de sonhos que preencham os lapsos de memórias,
lembranças, recordações; inda me não fora dada força suficiente para o último
ímpeto e audácia da cigarra, até à garganta me sobem o pulsar de meu coração
quando a ouço cantar... Cítara de verbos milenares... cítara de sons
primevos...
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Aragem... brisa... Zéfiros verbais, linguísticos de
sonhos primevos que serenavam sendas e veredas a serem trilhadas, e no
crepúsculo a imagem lúcida, lúdica...
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Há um asilo para escritores indigentes e um
hospital para maus poetas.
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Há uma canção distante velando o tempo, tempo de
solidão desértica da verdade, tempo de silêncio secular das utopias, tempo de
ideais efêmeros, tempo de sentimentos e emoções do há-de ser.
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Há uma noite que custa a passar, inda o alvorecer
distante, mas está por se realizar, micos se divertindo no fio de alta tensão,
pássaros cantando... pensamentos, idéias a-nunciam-se, esvaecem-se de imediato.
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Tantos entes diversos, desconjuntos, desconexos,
quem os une em convívio harmonioso?
quem transforma paixões em tempestades?
quem acende arrebóis na mente escura?
Quem de ténues folhinhas entretece
c’roa, que a todo o mérito premeie?
Quem funda Olimpos? quem despacha deuses?
A força do homem, convertida em estro,
quem poetiza sons no silêncio - sonemas poéticos?
No caminho da amada quem semeia
as flores mais louçãs da primavera?
No caminho dos filhos pródigos e idolatrados
Quem estende o tapete vermelho das glórias e
conquistas?
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Há uma prosa silenciosa re-versando, in-versando
palavras às sara-palhas dos ventos de leste, palavras desérticas de signos,
símbolos, metáforas, a língua toca os lábios à busca de sabor de prefixos,
sufixos, temas e radicais, a alma circunspecta, introspectiva vagueia por
florestas, mares, bosques.
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Há um verso mudo nas longas ruas que levam para a
frente as gélidas névoas.
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Também já fui brasileiro... Também já sou
mundialístico... Oh, my God!....
#riodejaneiro#, 22 de agosto de 2019#
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