#PROSTRADO ÀS MÃOS AUSENTES# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA
Epígrafes:
"Digo qualquer mistério ser pedaço do vazio
que o tempo algema na eternidade, e que só cabe às mãos ausentes conjugar viver
no infinito da primeira pessoa."
"A coisa mais linda do mundo seja um lindo
cachorrinho de pulgas" (Manoel Ferreira Neto)
"Aquando as impossibilidades do aquém-tempo
deixam de ser validadas à luz de novas perspectivas." (Graça Fontis)
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Pasmo do sarcasmo com que rio dos ossos sempre cobertos
de água, aliás, de imediato, devendo ressaltar e enfatizar a fim de não haver
qualquer dúvida de que sem os ossos a carne não seria possível, ainda mais em
se tratando do sarcasmo, não poderá existir sem que haja a ração humana, o que
ela sempre soube aguar no sentido de a ver florescer dia após dia, até
parecendo um elogio às palavras de modo e estilo diferentes, não sendo verdade,
pois nada há que justifique ou explique de modo chinfrim ser uma apologia à
palavra, um elogio como o disse antes. Só fogo do inferno merece ser
apologizado: queima eternamente e não tosta ou torra as almas penadas.
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Nada mais faço senão me envenenar da sensatez das
formas mais abstratas, relatando o ponteiro do relógio que de um lado para
outro vai deixando os seus traços e passos a cada instante ou momento que se
queira, decidindo por um ou outro, não sendo possível, creio na parca condição
de estar mergulhando nestes abismos que se revelam a mim, deixando os gestos
eumanizando-se a todo instante, o que, às vezes, há de se pensar não ser não
apenas sarcasmo, dizendo a respeito de eumanizar a brevidade dos segundos e
fumaças.
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Dizem ser muito importante a platéia. Platéia? Por
que estou ad-mirado com o termo, conheço-o bem, aliás, qualquer pessoa sabe o
significado deste termo, estivera em tantas e presenciaram tantos arrasta-pés
em salões de música, eventos sociais. Todo circo tem palhaço. Ao circo, o dom
dos risos e das galhofas das mazelas e pitis dos grandes, dos homens. A
essência do que é essencial.
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Há-de pensar ser sim um elogio, embora não definido
ainda, a semente começa a se abrir, devendo aguar para que algo se revele, não
importando o quê, haverá o seu momento, e lento e calmo vou construindo outras
oportunidades e experiências, percebendo o amor ser coisa para quem ama ou já
amou. O "estar bem na vida" requer e merece platéia, ouvir os
aplausos eufóricos de todos.
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Não sendo um elogio, é de se supor ser um
espetáculo, palavras, sabidas ou mesmo inventadas, servindo de deleite quando
curtindo o olhar. Muito mais do que alcanço na imensidão das criações do pouco
que transformo, chamando de muito mais, desejando ainda muito mais.
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Faço um riso, ou melhor, riso não se faz, nasce, e
me alegro pelo retorno dos versos que se manifestam de modo diferente, às vezes
dando ainda mais ênfase a intuição das entrelinhas e da suavidade que
poeticamente residem no homem, discordando sim que a coisa mais triste do mundo
seja um lindo cachorrinho de pulgas.
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Esperava mais brilho de estrelas, não que arrependido
esteja de escolher como residência a terra, contemplá-las acima, sonhar os
sonhos mais lindos e esplendorosos e magníficos.
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Quem sabe se não colocar os espelhos, ao invés de
lona, cobrindo, o início do espetáculo de risos e galhofas, e serras, cercando,
presenciando a insanidade deslavada e tantas vezes ridícula, mostrando os
contornos da estrela doada à lua em serenata, enquanto se glorifica com o gosto
suave de vinho e mel misturados a gosto e paladar.
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Séculos e milênios, disso não tenho qualquer
dúvida, e quem as tiver, creio ser necessário um mergulho profundo nos
interstícios da alma, revelando o que está escondido, a aparência se desgastou
vez por todas, fizeram a moldura e o retrato guardião do riso ingênuo, e agora,
não sei como fui isto intuir quando estava interessado em outras imagens,
acenar às descobertas, ao som de um suave ruído, que reconheço ao longe,
imaginando desde já ser alguns seresteiros, deixando que a música abra as
janelas às bougainvillaes do portão, a noite brincar de aquarela.
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A força deste sustento, quem sabe, se revelasse
mais nítida noutras vigas mais fortes senão esta de alterar fases ou de fazer
história sob a revisão de outros tempos, para compreender o desafio era-me
necessário ter medo de não conseguir chegar ao fim, mantendo, claro, a nitidez
das esperanças e utopias que perpassam o espírito, embora não entendo os
mistérios que se revelam em imagens que se revelam na água, advindas da luz,
até compreender o desafio de a arte ser obra do espírito, apesar da ironia do
erro, o cinismo dos enganos, o sarcasmo dos problemas, e da angustiante certeza
do estágio de limitações.
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As linhas de minha mão traçam no espaço a água que
tomo limpa. Os traços da minha mão desconhecem nomes, enquanto línguas me
atormentam. O barulho não quer descansar a prece que alima os relógios que não
dormem. Descubro-me ouvir o mundo, ignorando contextos e até possibilidades.
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A recolhida das chuvas – ah, dias e dias chovendo,
a umidade, é bom sim se recolherem as águas, encenando o culto das flores que,
sem prima alguma, rogam benção às folhas, fechando-se a evidência, sendo apenas
e tão-só pureza matinal.
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Impõe-se o enigma do ajuste de minérios, de
sínteses de diamantes e pedras cristalinas, das palavras não ditas, não
vividas, não experienciadas, assistindo aos projetos superpostos no tempo,
tencionado a preencher o vazio da resposta ás perguntas que perpassam a alma.
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Se ainda não houve a oportunidade de isto ou aquilo
revelar, não me ponho a entristecer e obscurecer outras oportunidades que se
mostram e, não tendo a curiosidade para me despertar, como posso senti-las,
sabê-las, pondo-me sim a outras venturas e utopias à luz de útero às palavras.
Digo qualquer mistério ser pedaço do vazio que o tempo algema na eternidade, e
que só cabe às mãos ausentes conjugar viver no in-finitivo da primeira pessoa.
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Ainda não tive esta oportunidade, e, aproveitando,
sim, a que se me revela agora, ainda mais sinto alegrias e saltitâncias, é isto
de saber que ainda é possível continuar, nada estar se envelhecendo, as imagens
se desgatando, a ruína plena e absoluta.
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Sigo a jornada deixando-me descobrir que o efêmero
é também do eterno. Quem sabe por não fazer sucumbir a palavra ao fosso onde
enterrei a carne. Dizem que os pedaços combinam a ordem mesma do ser. Seria
este o melhor dos cais: Esconderam os portos. Não dissenso em poros fechados às
sombras da vida que sublimam a luz.
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São imagens que se revelam ao espírito, e com arte
e engenhosidade permitir que as vaidades arraigadas sustentem o mundo de
idéias. As molduras na parede marcam o tempo suspenso no caos.
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Às vezes, sinto-me perdido no meio de um sorriso.
Escrevendo, surge uma luz, gozo, repouso. Infiltro na prosa o que a areia do
mar não faz afundar.
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Pasmo do fracasso com que riem dos ossos sempre
cobertos de carne. Às vezes, faço de um raio de luz e da minha paixão o
silêncio, e o porque deixei de figurar nas repostas e ganhei face
interrogativa.
#riodejaneiro#, 17 de agosto de 2019#
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