PODE ALGUÉM REPICAR COM SINOS A SABEDORIA?# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
À minha querida e amada Esposa e Companheira das
Artes, Graça Fontis, com amor, carinho e ternura.
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Prescrito fascínio o de gostar de caminhar com
pernas tortas. Não quero muitas honras, tesouros. Quero apenas o con-sentimento
de con-templá-las nas alamedas, ruas e becos, ruminando paciente como uma vaca:
quais foram as dez verdades que me extasiaram na ec-sistência, êxtases de
júbilo e glória, as dez risadas altissonantes que me fizeram verter lágrimas
pujantes, regalando o meu coração de tanto prazer e estesia, o brilho do sol
cintilando nos dentes, em que circunstâncias me reconciliei dez vezes com as mediocridades
e mesquinharias que regem as misérias do espírito...
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Minha sabedoria reza ser mister pastar no vale todo
dia para no entardecer, de estômago cheio de feno, dormir o sono de quem
suprassumiu as carências, a memória do tempo mais fundo, a res mais extensa ou
a res menos cogitans, o sonho anterior às artes, a canção no ermo continente.
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Proscrito favônio o de apreciar os footings à lá
gauche das utopias da liberdade e das peregrinações nas alamedas solitárias,
nos becos inóspitos, nas orlas marítimas nas noites sombrias, nos alvoreceres
de neblinas, nas tardes ensolaradas, quando a linha celeste, numinada pelas
estilhas de raios solares se esfuma, tornando-me estrangeiro mais que estranho.
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Vida mínima, essencial; um início, um sono.
Virtudes simples, amplas; uma inspiração; um sonho.
O eco não cor-res-pondendo ao apelo, o exílio sem água e palavra. Não a morte,
contudo. O tempo elidido, domado. Seria a sabedoria sono sem sonhos? Não me é
dado saber melhor sentido de ec-sistir! Não me é consentido melhor visão de
consubstanciar a alma de quimeras e devaneios.
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Uma coisa é a solidão, outra, o abandono. Por que,
no meio dos homens, hei-de ser um selvagem e um estranho? Por que, na chuva,
vadiar pelas calçadas, praças públicas, kambaiando de tortas as pernas?
Faltam-me as palavras para entabular um diálogo, mesmo que de ninharias, mesmo
que de orgulho des-enfreado de gostar de caminhar com pernas tortas, mesmo que
de "causos" inóspitos, mesmo que de piadas chinfrins. Faltam-me
aquelas lisonjas do palrador que sente ser o ás do momento nos rebanhos.
Des-embesto-me nos hiatos que me habitam à cata dos inter-ditos obstinados dos
sentimentos ocultos, das idéias apagadas e das ciências gaiatas, sentindo-me
in-audito, sendo justamente quando descubro o deserto abismático de meu ser, o
devir quer que lhe ensine a falar, à deriva dos pensamentos, ideias,
questionamentos e perguntas, sentindo-me estrangeiro à là Meursault, movido por
sensações sensoriais.
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Pode alguém repicar com sinos a sabedoria? Busco,
por vezes, des-cobrir caminhos de longe, os rios primeiros e certa esperança e
extrema poesia, a alvura primeira de cânticos, o círculo de água refletindo o
rosto, novos horizontes em ascendência ao positivo, ao belo... Áureos
tempos!... O recurso de Kant, a poesia.
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Pode alguém musicalizar, ritmar, melodiar, acordear
com matraca os hiatos da ec-sistência?
#riodejaneiro#, 24 de junho de 2019#
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