ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ANALISA E INTERPRETA A PROSA SATÍRICA "CAMBIOCOZANDO DES-CARIOQUÉIAS#
Nesta sátira de Manoel Ferreira Neto, sinto que não
hei capacidade para analisar. Aparenta ser um escrito possivelmente que muito
lhe diz. Digo isto porque há muito vocábulo que desconheço e aí a dificuldade
em analisar. O Caroques (Kariokêiş) é um dialeto do Português, falado no
Estados do Rio de Janeiro e que não é aceite por muitos…possuem uma
particularidade pessoal em exprimirem-se. Mas que ao escritor que sendo de lá
viveu e sabe o que lá se passa…
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O modo mineiro de conversar, seu modo incomplexo e
sua forma de se revelar outrora está presente ainda hoje e esse modo de
conversar é enérgico nos recantos de sertão. Nas cidades encontra-se
constantemente presente, encontre-se onde andar. É jeito mesmo, é escolha pela
naturalidade. É o jeito mais genuíno e delicioso de conversar e se expor. Esse
modo de conversar todo desacertado não existe mais, cogitam alguns que não têm
ligação com Minas e nem os hábitos verbais locais. Nos sertões de Minas, a
pronúncia e as formas erradas de falar parece que permanecem, com ou sem
estudo, porque meramente, desejam. Como diz um velho ditado "istudo nóis
temo, nós fala errado pruque querêmo". Quem censura o mineirês,
verbalizando que o mineiro não discursa assim, que isso é facto do pretérito,
desconhece por completo a verdade de suas cidades, as formas de pronunciar de
cada espaço e a cultura natural do sertanejo.
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É lógico que dá para perceber que é muito crítico
no que concerne aos Município brasileiro em minas gerais e sobretudo à
hipocrisia quando menciona no seu texto…Cruzilis tabernáculos, mesquitas e
templos de sonsices e cretinices dos inícios patentes e intransferíveis da
devoção e compaixão pelo afastamento petulante e irreverente do jamais,
descaminho das ternuras, do pode ser….
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Termina verbalizando que não se conhecia, e
enfadado de si, extenuado, avaliava ser o planeta um oco de farsas do marco
extremo da ponderação. ….Peço desculpa ao escritor, mas penso que desta vez o
dececiono…é um texto muito peculiar e que carecia possuir mais erudição deste tema.
Mas, penso que só quem vivencia ou vivenciou esta cultura e modo de ser poderá
pronunciar-se.
Ana Júlia Machado
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Sim, Aninha Júlia... Estabeleço uma comparação aqui
para melhor expressar as coisas. Os mineiros se comunicam sob a luz de adágios,
ditados populares, expressões. Dizem que os mineiros não precisam da Língua
para se comunicarem, tem os adágios... O carioca se comunica através de gírias,
é impressionante, de um dia para outro uma gíria perde a validade, surge outra.
A mineirice da Língua é aceite, se os adágios... forem bem usados contribuem
sobremodo para a visão profunda das coisas e do mundo. O carioquês não é muito
aceite por a gíria ser uma fala vulgar, muito própria de favelas, morros - mas
isto é o Rio de Janeiro, favelas, morros. Há gírias cariocas que também
contribuem para a visão do mundo e das coisas.
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Em verdade, particularmente, como mineiro, não sou
de me comunicar através de adágios. Preferi sempre a linguagem erudita: digo o
que penso e penso o que digo. Há instantes da comunicação não haver outro modo
de expressão senão através das mineirices, em Literatura, Poesia, então, a
mineirice é campo aberto para uma visão profundíssima da vida. Uso-a na
Literatura, para atingir as idéias filosóficas. Mas a gíria não uso de modo
algum. Acho-a interessante, mas é uma visão mais exterior, externa do mundo e
das coisas.
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Tornei-me carioca aos sessenta anos de idade, trago
de Minas Gerais a minha vida, a minha cultura. Não me utilizo das mineirices,
não me utilizo das carioquéias. Mas a minha comunicação é aceite e compreendida
pelos cariocas. Admiro as carioquéias. A questão primordial: os mineiros
conversamos lentamente, quase parando, porque pensamos o que dizemos e dizemos
o que pensamos. O carioca fala tão rápido que trombam nas palavras, por vezes é
difícil entender o que dizem. Embora, após três anos de Rio de Janeiro,
converse um pouco mais rápido, mas jamais chegarei a comunicar-me como os
cariocas. Não se desvencilha in totum de uma cultura e assimila-se outra: isto
é impossível. Mas em termos de assimilação de uma nova cultura isto para mim em
termos de visões do mundo e das coisas é muito importante, estou aprendendo a
ver o mundo sob a luz de duas culturas ad-versas e distintas, sou
mineiro-carioca. Em três anos, cresci muito em todos os níveis no Rio de
Janeiro. Para viver, prefiro o Rio de Janeiro. Minas Gerais é sobremodo
aguilhoada a tradicionalismos irreversíveis, Rio de Janeiro é livre, despregado
de tradições, aqui levamos a vida na "flauta", livres. O Rio de Janeiro
considero o tesouro de minha vida em todos os níveis.
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Assim foi que procurei escrever esta prosa que
você, Aninha Júlia, soube interpretar com categoria e primor. E como você mesma
disse: torna-se complexo uma análise: é preciso viver as culturas para sabê-las
eideticamente, especialmente você que é de outro continente, continente
europeu. Mas foi feliz, muito feliz com esta interpretação.
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Parabéns, querida, por interpretação sui generis.
Beijos nossos a você e à nossa netinha amada Aninha Ricardo.
Manoel Ferreira Neto
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CAMBIOCOZANDO DES-CARIOQUEIAS
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: PROSA SATÍRICA
Cruzilis concupiscência de vazios e nonsenses à
guisa de intempéries contundentes, revérberas mazelas das condutas,
cambiocozando as in-congruências das quimeras de náuseas e travessias, por
gravetos espalhados no decurso das vias trilhadas de medos e ânsias, côncavas e
convexas imagens as sementes re-colhidas de antemão às revezes dos vazios e
nonadas - quê êxtases e volúpias!... -, as moléstias psíquicas regurgitam na
carioqueia preguiça das ambiguidades e dubiedades os excedentes das picuinhas e
pânicos... cruzilis maledicências do divino e proscrito em caracteres góticos
inscritos nas tábuas das insurrectas idéias olvidadas de importância e
magnitude, cambiocozando almas que re-colhem em si a fugitiva imagem das coisas
e do mundo, só os ventos, as folhas re-conhecem o talhe, cai o vasto engenho
das falácias e verborréias dos segredos e episódios guardados a sete chaves nos
interstícios da alma, que só satisfazem à cria do mesmo e do vulgaresmo, só
ouso mostrá-las e os seus naipes correspondentes, o de que carecia, o de que
careço, a menos que o apelo da ausência perca um pouco de perjúrio e luxúria.
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Cruzilis santuários, templos e basílicas de
hipocrisias e cretinices dos princípios insofismáveis e inalienáveis da piedade
e comiseração pelo desvio insolente e irreverente do nunca, extravio das
meiguices, do pode ser, do ontem cambiocozando dogmas e preceitos, se a rua de
pedras e poeira ornamentasse o vazio e o silêncio dos mistérios sinistros, a
solidão e as vertentes do sublime, a tessitura das magias desatariam em forma
de fissura pelas agonias, cada instante da vida seria nauseabundo, insípido,
aborrecido, se não houvesse prazer e êxtase, se não fosse animado pelo tempero
da Loucura.
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Cavernas, grutas cruzadas de silêncios e sombras,
tolices ao luar, luzes que não cegam e brilham através da vida apenas, sem
mistificação, evitar as coisas profundas e rasas, para conservar não apenas o
domínio de mim mesmo, mas também o meu próprio câmbio cosendo auroras e
neblinas, olha o cálice, olha o vinho, cambiocozando no amplo vazio filaucias,
pequenas cólicas cotidianas, sublime arrolamento de contrários entrelaçados por
fim, a razão de ser, o ímpeto, oh quimera que subis a serra para devanear as
visões de que é cheio o mundo, que restam das línguas infinitas que falam o que
há para endireitar um espírito louco, doido, varrido?, o mistério e enigma
sinistros que além fazem os seres preciosos à visão extasiada do nada vazio de
secreto investimento no grão transido da ironia e sarcasmo... eu que não me
sabia, e cansado de mim, exausto, ajuizava ser o mundo um vácuo de comédias do
limite extremo da sensatez.
#riodejaneiro#, 01 de agosto de 2019#
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